parte I - capítulo IV

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mentira tem perna curta

Nathan desceu as escadas em silêncio, seus pés mal tocando os degraus gastos de madeira. A escada rangia levemente sob seu peso, mas ele tinha aprendido a andar com cuidado, especialmente naquela casa antiga. As tapeçarias velhas penduradas nas paredes davam ao corredor um ar sombrio, mas familiar. Havia quadros de paisagens distantes e alguns retratos de família, todos emoldurados com detalhes intrincados que falavam de uma época mais próspera. A luz da manhã filtrava-se através das pesadas cortinas, lançando sombras suaves ao longo do chão de tábuas escuras.

Ao entrar na cozinha, o cheiro reconfortante de café fresco e pão tostado o envolveu. Sua tia Brie, com os cabelos grisalhos presos em um coque frouxo, estava de costas para ele, concentrada no fogão. Os sons suaves de panela e colher preenchiam o espaço acolhedor, mas mesmo assim, a tensão entre eles parecia flutuar no ar, como algo não dito que pairava entre os dois.

Brie se virou assim que sentiu a presença de Nathan. Seus olhos cinzentos, sempre alertas e calculadores, varreram a figura do sobrinho. Apesar de seu tamanho pequeno e postura serena, ela tinha uma presença que enchia o ambiente, e Nathan sabia que dificilmente algo escapava de sua atenção.

— Não vai correr hoje, Nate? — Sua voz era baixa, mas carregada de uma curiosidade que Nathan reconhecia bem. Era o tipo de pergunta que, mesmo parecendo casual, continha uma desconfiança velada.

Nathan deu de ombros enquanto abria a geladeira, tentando parecer despreocupado. Seus dedos buscaram os ingredientes do café da manhã – pão, queijo, geleia, alface – mas ele sabia que sua tia estava o observando atentamente, sentindo a tensão que ele tentava esconder.

— Ontem foi cansativo. E tomei o remédio que você me deu — murmurou, retirando uma fatia de pão e colocando-a sobre o balcão de mármore frio. — Funcionou.

O olhar de Brie não vacilou. Ela o seguiu em silêncio, seus olhos cinzentos quase cortantes enquanto ele preparava o sanduíche com gestos calculados. O silêncio que se instalou entre eles era denso e Nathan sabia que sua tia não deixaria o assunto morrer ali.

— E o grito de mais cedo? — A voz dela finalmente rompeu o silêncio. — Foi só um pesadelo?

Nathan parou por um instante, o corpo enrijecendo antes que ele retomasse sua tarefa. Ele sabia ser convincente, mas mentir para tia Brie nunca fora uma tarefa fácil.

— Já disse, tia. Escorreguei e bati o braço. Estou bem. — A resposta saiu rápida demais, e Nathan sentiu o erro antes mesmo de terminar a frase.

Gabrielle não estava convencida, e o brilho nos olhos dela ficou mais intenso. Ela se aproximou do balcão, cruzando os braços de maneira que indicava que estava se preparando para interrogar. O tom de sua voz, no entanto, permaneceu controlado.

— Você eu sei que não era. Mas e quanto ao seu amigo dormindo no seu quarto? — Ela inclinou a cabeça levemente, os lábios formando uma linha fina, esperando pela resposta.

Nathan congelou, o pão meio esquecido em suas mãos. A cozinha, antes um refúgio acolhedor, agora parecia apertada e opressiva. O ar se tornou pesado, e ele sentiu os olhos de sua tia perfurando suas costas. Não havia como mentir. Não para ela.

Virando-se lentamente, Nathan encontrou o olhar fixo de Brie. Ela era implacável, como sempre, uma mulher de poucas palavras, mas de uma perspicácia que tornava qualquer tentativa de engano inútil.

— Amigo? — Ele tentou soar casual, mas o tremor em sua voz o traiu.

Brie arqueou uma sobrancelha e deu mais um passo à frente, seu olhar agora inabalável.

Amor, Facas e LobisomensOnde histórias criam vida. Descubra agora