Amor, Facas e Lobisomens

part I - chapter XII

predestinados

— Isso é sério? Você tá de sacanagem? — A incredulidade na voz de Nathan era palpável, uma risada cínica escapando de seus lábios como se fosse uma defesa contra o absurdo da situação. Seu mundo, que havia se desmoronado nas últimas 24 horas, parecia ainda mais surreal. Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

— Não fale comigo assim, Nate — respondeu Tia Brie, sua voz tremulando sob o peso da revelação. A tristeza e a preocupação se misturavam em seu olhar, e Nathan pôde ver que ela estava lutando contra as lágrimas. Aquela expressão de dor fez seu coração se apertar, mas a confusão e a raiva estavam em primeiro plano.

— Tem 24 horas que minha vida virou de cabeça pra baixo, sabia disso? — Ele respirou fundo, tentando conter a tempestade de emoções. — Eu salvei um lobisomem da morte iminente! Prometi que o manteria protegido até descobrir porque diabos ele pode ler meus pensamentos e porque eu posso ler os dele, e porque temos essa ligação psíquica ao ponto de eu escutar os batimentos cardíacos dele mesmo a quilômetros de distância. E agora você vem me dizer que eu sou um bruxo?

Nathan sentiu a raiva subindo, uma chama dentro dele que parecia consumir sua razão. Ele não era um bruxo. Ele era um caçador. A identidade que havia herdado de sua família pulsava em suas veias. A ideia de que ele poderia ser parte do que sempre caçara era insuportável.

— Você sabe quem eu sou? Um caçador! Minha família caça bestas desde muito antes de qualquer coisa existir! — A frustração transbordava em suas palavras, um grito desesperado por compreensão. — Minha família matou bruxas. Salem? Tudo partido da cabeça de um Cultri. Agora você tá dizendo que a minha mãe era uma bruxa?

Ele sentia seu coração disparar, uma mistura de incredulidade e desprezo. A imagem de sua mãe, uma figura que ele sempre admirou, era agora manchada por essa nova realidade.

— Ela não era parte de um coven! — Ele insistia, a voz quase em desespero. — Ela viveu entre os Cultri, casou e teve filhos! Eles jamais fariam isso! Um caçador jamais trairia a família por amor a uma bruxa, e vice-versa! Ela abandonaria um coven pra viver ao lado de quem matou seus iguais?

Ele olhou para Tia Brie, esperando ver a mesma incredulidade que ele sentia. Mas o olhar dela estava firme, a dor misturada com uma determinação silenciosa.

— Como você tá fazendo agora? — Tia Brie indaga, sua voz firme, mas com uma nota de tristeza que atingiu Nathan como um golpe.

— O... que? — Ele hesitou, seu olhar se desviando para Richie, buscando apoio, mas encontrando apenas confusão. O que estava acontecendo? Por que tudo parecia tão errado?

— Eles fizeram exatamente o que vocês dois estão fazendo agora. E agora mesmo, você prefere estar ao lado de uma criatura que você mesmo disse que conheceu há 24 horas do que me ouvir. Eu que cuidei de você por seis anos. — A voz dela era uma mistura de frustração e dor. Nathan sentiu a verdade daquelas palavras, mas isso não o ajudava a processar a nova realidade que estava diante dele.

— Eu não tô entendendo... — Ele balançou a cabeça, as palavras parecendo falhar. — O que eles fizeram? Ela não pode ser uma bruxa. Você... você não pode ser uma bruxa.

— Ela era. E você também. Essa conexão que você tem com... com...

— Não o chame de demônio! — Nathan interrompeu, a raiva agora tingindo suas palavras de uma cor mais escura. Ele estava em guerra com seus próprios sentimentos, tentando proteger Richie e, ao mesmo tempo, defendendo a única família que conhecia.

— ... garoto. É a mesma conexão que seus pais tinham um pelo outro. Eles conseguiam se sentir a quilômetros de distância. Liamos os pensamentos um do outro. E, por mais que tivessem tentado, não conseguiram ficar longe um do outro. — Tia Brie falava com uma paixão que deixava Nathan sem palavras, a verdade de suas palavras dançando ao redor dele como um espectro.