15. Uma grande mentira

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Faye gentilmente a carregou até o sofá, pediu que alguém trouxesse água, chá calmante e lenços para Yoko. Antes que a menina pudesse acordar, ela pediu para sua secretária não deixar ninguém entrar. Deitou Yoko no sofá confortável enquanto tocava seus cabelos. Seus dedos percorriam do couro cabeludo até as pontas, acariciando.

Ela sentiu ternura por Yoko enquanto ela dormia, Faye não resistiu e se aproximou até depositar um beijo demorado em sua bochecha. Seu coração disparou com a proximidade, podia sentir o calor e a respiração do corpo de Yoko sob o seu. Arfando, Faye se afastou, enquanto Yoko abria os olhos devagar encarando uma Faye estática esperando por sua reação.

Yoko segurou as mãos de Faye enquanto seus pequenos olhos se comprimiam querendo chorar. Faye pegou um chá e entregou para Yoko beber.

__Toma aqui Yo, vai se sentir melhor.

Faye não deixava de acariciar o braço de Yoko para que ela se acalmasse. Era tão inebriante que Yoko se perdeu nos seus olhos e em seu toque caloroso. Seu corpo se arrepiava quando ela percebeu que seus toques não cessavam, ela segurou a mão de Faye para interromper o calor que lhe crescia por dentro. Faye sentou ao seu lado e a abraçou, beijou sua testa e passou o polegar no rosto da menor enxugando suas lágrimas.

__Sei que me odeia ainda mais por tudo o que eu te mostrei. Mas eu me preocupo com você e queria te proteger. Te mostrar a verdade era a única forma de te afastar disso tudo.

__Faye... a minha vida foi uma grande mentira. Como ele pode?

__Eu sinto muito, pequena.

Faye também se sensibilizou com a dor de Yoko. Não conseguia sequer imaginar estar em seu lugar. Seus olhos tinham lágrimas que doíam junto com as da garota. Yoko enfim percebia que Faye não era a vilã da história. No final das contas ela tentava lhe alertar desde o início.

E ela não desistiu. Yoko não sabia a razão de tal preocupação. Elas eram estranhas que esboçaram uma breve amizade, mas Faye a cuidava todo esse tempo.

__Me perdoa por não ter acreditado, você quase perdeu a vida por causa do meu pai. Eu não consigo acreditar que ele levou Yuri, todas aquelas meninas. Não posso!

__Você tem que ser forte agora.

__Tenho que ir avisar minha mãe.

__Não posso deixar você sair Yoko, há um detalhe.

__Por que não posso sair?

__Eu... deixei de trabalhar com meu distintivo, mas não deixei de trabalhar à minha maneira. Trabalho no salão e venho aqui para esse escritório me encontrar com meus espiões. Um deles é Phuripate, ele se infiltrou na empresa de seu pai para cuidar de você por mim.

Os olhos de Yoko brilhavam, nunca imaginou que Faye iria tão longe por ela. Por que ela dava tudo de si, mesmo sem ter seus sentimentos correspondidos?

__O outro, está num grupo rival, me passei por um falso cliente para desestruturar ambos os lados. Um dos meus planos era que eles invadissem o território um do outro e se enfrentassem. Só que algo inesperado ocorreu. Sequestraram a filha de um deles. Podem se vingar tomando a filha de cada um do grupo. Yoko, pedi para Phuripate te tirar de lá para poupar sua vida. Eles podem vir a qualquer momento. Eu não posso correr o risco de te perder.

Yoko estava estática ouvindo os planos de Faye até que ela tornou isso pessoal demais. Seu coração batia rápido com a afirmação da mulher chorosa a sua frente. Faye tinha medo nos olhos, mas não daqueles monstros, tinha medo de perder a menina que ela amava.

Yoko estava com as emoções à flor da pele, dessa vez foi ela que subiu em Faye para a beijar. Ela beijou suas lágrimas com cuidado, respirou fundo o cheiro de Faye, sentindo seu corpo reclamar da distância entre elas. Ela aprofundou o beijo com desejo e carinho.

Faye se admirou com a força de Yoko, seu corpo pesava enquanto ela tentava se encaixar em Faye, seus corpos colados faziam seu ventre doer de desejo. Ela mal respirava, seu rosto ruborizou de nervoso com o contato delas.

Yoko a apertava fazendo Faye procurar o ar. Ela estava aproveitando seu pequeno paraíso na Terra até que se deu conta de que Yoko estava abalada emocionalmente e em estado de fuga, procurando qualquer emoção que a fizesse esquecer sua dor. Com cuidado, ela segurou o rosto de Yoko com as duas mãos e depositou um beijo carinhoso em seu nariz.

__Yo, você está abalada e não consegue pensar racionalmente. Vai se arrepender disso depois, e eu não quero sofrer sentindo sua falta.

Uma pontada de dor atravessava o peito de Yoko. Ela estava certa, ambas estavam com as emoções balançadas. Para Faye aquilo era real, ela queria estar junto, mas Yoko temia não poder entregar seu coração e seu corpo à mulher. Seu senso de responsabilidade com o coração dela falou mais alto.

Ela se sentou novamente no sofá enquanto via o corpo trêmulo de Faye se ajeitar. Faye demorou a se recompor. Yoko tomou a água e logo em seguida foi atrás da garrafa de bebida.

Faye pensou em repreendê-la, mas desistiu, sabia que a dor insuportável só podia ser amenizada assim. Ela chamou Phuripate para que deixasse o carro pronto para irem. Ele assentiu e saiu da sala. Faye ligou para Lux e avisou que Yoko iria com ela.

__Lux, está acontecendo. Vou levar Yoko comigo. Tudo bem para você?

__Claro que sim Faye. Você vai seguir com o plano?

__Sim. Não posso deixá-la sozinha, mesmo que ela resista.

__Estarei aqui esperando vocês. Venha com cuidado.

__Claro. Já estou indo.

Yoko agarrou Faye pela cintura, esta pulou de susto com o toque repentino. Yoko já estava rindo de bêbada. Faye se divertia com Yoko fazendo caretas estranhas. Apertou suas bochechas com carinho enquanto via Yoko se aninhar no seu peito.

Nunca se sentiu tão bem na presença de Yoko, sonhava a meses com essa visão. Uma pena tudo acontecer em meio a tanta tristeza. Ela apertou a menina num abraço e se desvencilhou a levando para fora enquanto segurava sua mão.

As duas foram no banco de trás do carro, Faye ainda estava preocupada com uma possível retaliação contra Yoko. Já a menina estava grogue sob o efeito da bebida. Vez ou outra ela cheirava o pescoço de Faye como um usuário de drogas procurando conforto.

A cada aproximação, a mulher sentia seu corpo ferver. Yoko estava quente e respirava pesadamente em seu pescoço. Yoko depositou sua mão no interior da sua coxa, Faye não pode evitar gemer com o toque. O trajeto foi uma verdadeira tortura. Depois de suas ousadas carícias, Yoko acabou adormecendo e Faye teve que levá-la no colo para o interior da casa.

Faye a deixou em seu quarto, passou um pano úmido em seu rosto, braços e colo para a limpar. Retirou seu colar e seus brincos o deixando na mesa de cabeceira. Faye saiu falar brevemente com Lux, mas como também estava cansada, logo retornou e se deitou ao seu lado.

Não conseguia cair no sono, não queria perder Yoko de vista, de seu semblante tranquilo adormecido. Ela fechou os olhos e pediu aos céus para que Yoko não se afastasse novamente.

No dia seguinte, Faye andava preocupada de um lado para o outro. Ainda não teve retorno de Cheter sobre a gangue que buscava vingança.

Quando Cheter lhe ligou e passou as informações com uma riqueza de detalhes, ela se deixou cair no sofá. Lágrimas escorriam de seus olhos enquanto afirmava que ainda estava ali com a voz embargada.

Algo de terrível havia acontecido. Novamente o destino escapava de suas mãos e ela nada podia fazer.

Anjo CaídoOnde histórias criam vida. Descubra agora