1. A missão dos anjos

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Assim como cada partícula da matéria, a dualidade está presente em cada ser vivo e inanimado em todo o universo. Desde a criação mais simples à mais sofisticada ascensão de alma, duas almas separadas pertenciam a uma mesma essência primordial.

Suas almas se separaram desde a criação a fim de que pudessem evoluir de diferentes maneiras. Sua separação era necessária para que cada parte desenvolvesse seu propósito para juntar-se novamente no plano espiritual.

Algumas delas experimentavam a existência humana, o trabalho junto aos elementos da natureza, dos céus e terra, outros abdicavam de seu próprio interesse para servir no auxílio à raça humana. Estes conseguiam alcançar mais rápido orbes superiores devido ao seu sacrifício.

Quanto mais purificado o espírito, maior sua ascensão à hierarquia espiritual. A classe de seres mais próximos da raça humana que haviam conquistado sua ascensão eram os anjos. Sua função era simples, mas deveriam ter cautela com suas novas responsabilidades.

Anjos não poderiam de forma alguma tocar um ser humano para o machucar, mas poderiam alterar o curso dos acontecimentos para moldar o destino. Poderiam sugerir pensamentos aos humanos e passarem despercebidos, assim como a voz da consciência.

Por sua aparência angelical e carisma irresistível, tinham fácil aceitação na sociedade e ninguém desconfiava de sua missão terrena. Anjos se misturaram aos humanos para auxiliar aqueles que estavam vulneráveis a uma raça menos evoluída que agora frequentava o planeta em sua tentativa de evolução. Por comando das Dominações, ordem angelical responsável por distribuir missões aos anjos, eles protegiam quando o mal se espreitava.

Já os arcanjos, posição almejada pelos anjos em missão, era uma classe mais alta. Estes vivenciavam o verdadeiro sacrifício. Desciam aos planetas em forma humana para experimentar todo tipo de dor, sofrimento, alegria e abnegação que eram comuns à espécie. Para tornar sua missão especial, estes não se recordavam de que eram arcanjos, perdendo totalmente sua força, se deixando vulneráveis para purificação.

Qualquer transgressão às ordens celestiais implicava em perda provisória de sua posição. Os seres seriam mandados a planetas muito atrasados para trabalhar arduamente para recuperar seu grau de ascensão.

A cada 200 anos, os Tronos, seres responsáveis pelo comando e fiscalização das dominações, eram substituídos por um novo grupo de Tronos que decidiam qual a natureza dos acontecimentos humanos, suas provações, seus desafios, seu destino. Assim, cabiam às Dominações distribuir funções aos anjos para facilitar o caminho dos humanos em sua ascensão.

Nem todos os anjos concordavam com suas missões. Muitos deles vinham de duras existências machucados e não concordavam com provações branda àqueles que os machucam um dia. Sua proximidade e influência com uma alma que já lhe fizera mal era proibida. Poderiam ter seus dons suspensos e sua consciência celestial apagada até que o outro retornasse ao mundo espiritual.

Os anjos recebiam sua missão um a um. Para não se sentirem sós, almas amigas poderiam os acompanhar em sua missão, para não esquecerem de seu propósito. Faye ouvia atentamente enquanto sua nova missão lhe era dada.

Faye era um anjo jovem, havia ascendido a 430 anos, executando suas funções junto ao mundo inanimado, cuidando da natureza. Ela finalmente iria para o mundo dos humanos. Sentia um calafrio ao receber suas ordens. Ela teria que cuidar de seres vulneráveis ao tráfico humano sexual.

Em uma de suas existências, ela se sacrificou para ajudar sua família e foi duramente agredida com violência sexual. Teria falecido de imediato para recuperar sua alma estilhaçada. Ela era um ser desenvolvido, mas sua alma ainda guardava amargas lembranças quando desceu à Terra para trabalhar.

Como um anjo, ela tinha plena consciência de seus poderes e de sua missão. Ainda não tinha encontrado o grupo criminoso que era responsável pelo sumiço de inúmeras garotas todos os dias. Ela alternava entre sua vida na delegacia, outros dias nas ruas buscando informações. Ela não podia tocar neles, mas tentaria os influenciar para salvar aquelas garotas.

Assim se passaram 5 anos de sua vida na Terra, ela já estava tão habituada aos trejeitos humanos que quase se esquecia do que deveria fazer.

Faye estava sentada no balcão do bar enquanto tomava seu whisky. Com seu terno preto e cabelo preso num rabo de cavalo, ela exalava elegância enquanto observava atentamente as streapers em sua performance. Com um corpo humano, suas sensações materiais e carnais tinham voltado como se nunca o tivesse deixado. Ela observava os corpos seminus dançado a sua frente com os olhos vidrados. Temia ceder aos desejos humanos.

Saiu para acender um cigarro até que sua amiga chegasse lhe pedindo um trago. Lux era um anjo em missão mais experiente que Faye, sabia de sua história até sua ascensão e torcia para que ela não abandonasse seu propósito. Lux vivia experimentando toda a vida humana sem pudor, mas executava com precisão sua missão: zelar pelo sucesso da primeira missão de Faye com humanos.

__Ei, me dê um cigarro. Está curtindo a noite? Sabia que cedo ou tarde você viria aqui.

__Então esta é sua casa? É tentadora. Você se dá bem com os humanos.

__Isso vem com o tempo. Tem gostado?

__Não sei, parece que sou como eles, sinto as mesmas coisas.

__Luxúria? Raiva? Ambição?

__Já senti de tudo e ainda não consegui fazer nada de útil.

__Talvez seja o tempo para você se habituar antes de começar. Enquanto isso aproveite, há garotas sedentas por você. Eu vi como uma das meninas te olhou.

__Você já deve ter ficado com todas elas.

__É apenas um teste de qualidade.

Lux piscava para Faye a chamando de volta para o clube. Faye era alta, magra, tinha um porte atlético que chamava atenção por onde passava. As mulheres notavam seus olhos doces e caíam de amores por ela.

De volta ao clube, uma moça sentou em seu colo rebolando incessantemente até que ela se incomodou com o contato frenético muito próximo a sua intimidade. Ela segurou a coxa da mulher com força para que ela parasse, a moça gemeu alto a deixando sem graça. Lux ria de sua amiga se divertindo com a cena.

Lux levava uma das garotas para um espaço privado e deixava Faye sozinha no salão com os demais clientes. Ela não pode deixar de notar o grupo de homens que adentrava o recinto. Sua aura era pesada, ela sentiu um aperto em seu peito e sabia no seu íntimo que poderia estar mais próxima do que nunca de seu alvo.

Eram 4 homens bem vestidos, que gargalhavam alto enquanto se sentavam, logo pediram as bebidas e se engraçavam com as streapers. Faye não tirava os olhos deles, decidiu que os seguiria quando saíssem.

Anjo CaídoOnde histórias criam vida. Descubra agora