Solstice - MiHyun

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A Grécia, como qualquer outro lugar do mundo, tinha o seu ponto mais alto. No limite entre as regiões de Tessália e Macedônia e a 2917 metros de altitude, o Monte Olimpo erguia-se proeminente e divinamente no olhar dos politeístas (gregos em geral), os crentes da existência de várias divindades que governavam os seus e os da Terra, lá no topo, acima das nuvens, no cume do Olimpo. A maioria era composta pelos filhos de Urano e Gaia, imponentes no número vinte, no total. Cada um com sua origem, história, ambição e fraqueza, mas todos ligados pela posse de domínios, pela Ambrosia, pelo Néctar: a imortalidade; pelo poder, em ambos os sentidos. Alguns eram: Dionísio, deus do vinho, festas e teatro; Atena, deusa da sabedoria, estratégia de guerra e artes; Deméter, deusa da agricultura, colheitas e estações do ano. E tantos outros, incluindo fora do Olimpo, como Poseidon, o deus do mar, enchentes e terremotos.

Mas não dava para citar o Olimpo sem citar justamente quem o governava: Sana, deusa da Lua, sonhos e mistérios; e Mina, deusa do Sol, maternidade e família, conhecida também como Deusa-Mãe. As duas governavam os outros deuses e eram responsáveis pela resolução de conflitos e tomadas de decisões, fosse no Olimpo ou na Terra, com os mortais. Sana tinha o sangue quente e era quem lidava com situações mais agressivas, por ser uma líder rígida. Também era mais quieta e observadora, preferindo esperar a hora certa de falar. Para tarefas mais calorosas, digamos assim, sua esposa assumia; Mina era um poço de paciência e doçura, era ela quem mais dialogava na mesa durante os debates e conseguia facilmente resolver as discussões alheias. Juntas, elas tinham seis filhos: Adônis, Theodoro, Áris, Leônidas, Thalia e Dafne, do mais velho à mais nova. Todos cumpriam um excelente papel no Olimpo, que perpetuava um momento de glória e paz. Era assim desde que Zeus perdera a Grande Guerra, com Mina e Sana tomando o seu lugar.

— O que tanto pensa?

O quarto estava quente. Não aquele quente insuportável, era aconchegante demais para ser, bom demais para incomodar. Não havia lareira, ninguém usava — mas não é como se pudessem sentir frio ou calor como qualquer outra criatura. Mas também era verdade que era impossível que não sentisse aquela boa sensação que apenas ela dava, quando estava... relaxada, principalmente, feliz, calma (o que não era difícil, convenhamos; quase sempre estava assim).

Sana a olhou, sondando-a, procurando alguma coisa, olhando cada pedacinho dela. Existia algo mais glorioso? Mais lindo? Havia ondas mais sedosas e cheirosas, pele mais macia e leitosa, lábios mais atraentes, olhos mais dourados, em algum lugar? Quem sabe a túnica, os adornos dourados e brilhantes, a coroa exuberante, havia alguém que ficaria mais divino do que ela, com eles?

— Momentos esplendorosos, minha amada. — a respondeu, suas mãos em sua diadema, que carregava o seu símbolo. A tirou calmamente, sem deixar de olhar à esposa.

Mina riu sutilmente. Havia certos momentos que tinha que desvendá-la.

— Algo em especial a deixou assim?

Sana olhou para cima.

— Apenas...

Não completou a frase logo. Os acessórios de ouro iam deixando seu corpo.

— ...pensando em como estamos bem, acho que é isso. Já passamos por tantas aflições...

Ficou em silêncio. Mina achou graça do jeitinho da esposa e do seu biquinho involuntário e quase imperceptível — que às vezes fazia ao pensar.

— Está sentindo falta delas?

— Não fale bobagens, querida. — ela se lembrava das guerras e de como foi difícil para estarem ali. — É mais... Sabe aquele momento de quando você finalmente consegue algo que almejava muito, e, quando o apanha, o contempla por um momento?

Mommy and BabyOnde histórias criam vida. Descubra agora