Capítulo 11

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⠀⠀Eles estavam na ilha há oito meses quando Louis percebeu que quase não se falavam mais. Não é que eles não se comunicassem; eles se comunicavam. Só não precisavam de palavras para isso.

⠀⠀Seus corpos estavam tão sintonizados um com o outro a essa altura que as palavras não pareciam necessárias. Por que usar palavras quando Louis podia simplesmente colocar a mão no ombro de Harry e virá-lo para onde queria que ele olhasse? Por que usar palavras quando Harry podia simplesmente olhar para ele daquela maneira específica antes de se ajoelhar e engolir seu pau? As palavras pareciam redundantes. Não havia nada que valesse a pena discutir na vida deles. Apenas eles. E como tinham parado de discutir o tempo todo e ambos evitavam falar sobre o que havia entre eles, não tinham realmente nada para falar. Até mesmo a fase de Harry de falar à noite havia terminado há algum tempo. Agora ele parecia preferir cochilar tranquilamente com a cabeça na barriga de Louis, enquanto os dedos de Louis brincavam com seus cabelos.

⠀⠀Isso não era normal. Mas, por outro lado, nada nessa situação era normal. Ou melhor, o normal deles não era o que qualquer outra pessoa consideraria normal. Eles tinham uma espécie de rotina.

⠀⠀Eles acordavam, ele fodia a boca de Harry, comiam tudo o que conseguiam pescar ou pegar, ou seus tomates. (Às vezes, ele ficava confuso quando pensava no fato de que estavam presos nesta ilha por tempo suficiente para colher sua segunda safra de tomates).

⠀⠀Depois de comer, eles deram várias voltas ao redor da ilha para se manterem em forma e cochilaram um pouco sob a copa das palmeiras, com Harry em cima dele, com o rosto enterrado no caminho da felicidade de Louis ou contra seu peito. As pessoas normais provavelmente chamariam isso de carinho. Louis não chamava isso de nada, mas era sua parte favorita do dia. Tranquilo. Agradável. O mais próximo da felicidade que ele estava desde o acidente de avião.

⠀⠀Normalmente, ele era acordado por uma boca molhada em volta de seu pau. Depois de foder sonolentamente a boca de Harry, ele observava Harry se masturbar, passando os dedos pelos cabelos dele e acariciando seu pescoço e costas. Às vezes, ele chupava o pau de Harry se ele não se sentisse muito estranho com isso naquele dia. Às vezes, eles nem se tocavam sexualmente – apenas se tocavam por vontade própria, e isso era suficiente. Depois eles comiam – e então o círculo se repetia.

⠀⠀A rotina era quase reconfortante, embora tivesse uma qualidade surreal. Não era um relacionamento. Não era nem mesmo sexo por prazer. Era uma necessidade. Uma necessidade.

⠀⠀Mas era simples. Era familiar.

⠀⠀Era tudo o que eles tinham.

⠀⠀A rotina deles foi interrompida por uma enorme tempestade.

⠀⠀Eles não se preocuparam com o abrigo, ele não resistiria a esse tipo de tempestade, então se amontoaram embaixo de uma palmeira, com os braços de Louis envolvendo Harry por trás. Apenas para se equilibrar, é claro.

⠀⠀Com o queixo apoiado no ombro de Harry, Louis olhou para o oceano furioso, imaginando quando a tempestade finalmente pararia.

⠀⠀Algo branco no horizonte chamou sua atenção.

⠀⠀Por um momento, o cérebro de Louis pareceu não compreender o que ele estava vendo.

⠀⠀Mas quanto mais ele observava, mais certeza tinha. Seus olhos não estavam lhe pregando peças. Havia realmente um navio – algum tipo de iate – indo em direção à ilha. Embora "rumo" não parecesse ser uma descrição precisa: a velocidade com que ele estava se aproximando da ilha era bastante perigosa. O navio provavelmente havia sido desviado de seu curso por causa da tempestade. Nos nove meses em que estavam na ilha, eles não tinham visto um único navio.

⠀⠀Mas agora...

⠀⠀Harry fez um som de interrogação, e Louis percebeu que talvez o tivesse apertado com muita força em sua empolgação. Empolgação. Era isso que ele estava sentindo? Louis não sabia. Mas seu coração estava batendo forte, seu corpo tenso e alerta pelo que parecia ser a primeira vez em uma eternidade. Era quase como se ele estivesse acordando de um sonho bizarro.

⠀⠀"O quê?" disse Harry, com a voz rouca por falta de uso.

⠀⠀"O navio", disse Louis, com a voz igualmente rouca.

⠀⠀Harry ficou rígido antes de se endireitar de sua postura contra o peito de Louis.

⠀⠀Louis não conseguia ver seu rosto por estar atrás dele, mas podia ver os músculos de Harry se enrijecerem ao ver o navio também.

⠀⠀"Está vindo em nossa direção", disse Louis, um tanto sem necessidade.

⠀⠀Harry não disse nada por um momento.

⠀⠀Depois, praticamente se afastou de Louis e se pôs de pé. Ele correu em direção à praia.

⠀⠀Louis o seguiu por um momento, sentindo-se estranhamente entorpecido.

⠀⠀Eles iam ser resgatados.

⠀⠀Resgatados.

⠀⠀O pensamento era... estranho.

⠀⠀Obviamente, ele estava feliz. Mais do que feliz. Mas ainda era estranho. Não parecia real.

⠀⠀Mas era.

⠀⠀O iate ancorou na pequena baía da ilha, sua tripulação claramente pretendia esperar o mau tempo ali.

⠀⠀Eles nadaram em direção ao iate, sem sequer se preocupar em pegar suas coisas, eles sempre poderiam voltar para buscá-las mais tarde. O oceano agitado era quase impossível de navegar. Louis agarrou o braço de Harry quando ele desapareceu sob as ondas altas e o apertou. Fique por perto.

⠀⠀Harry assentiu com a cabeça.

⠀⠀Parecia demorar uma eternidade até chegarem ao iate.

⠀⠀No momento em que Louis ouviu gritos de surpresa quando as pessoas no iate os notaram, uma sensação surreal o atingiu novamente. Aquelas pessoas estavam falando inglês. Ouvir uma voz que não era a dele ou a de Harry depois de nove meses foi um choque.

⠀⠀Entorpecido e desorientado, ele subiu no convés atrás de Harry e permitiu que outras pessoas o puxassem para cima. Mãos tocando seus ombros. Mãos que não eram de Harry. Foi muito estranho.

⠀⠀"Quem é você?", alguém disse, enrolando um cobertor em volta dele. "Que diabos está fazendo aqui?"

⠀⠀Louis não respondeu. Não conseguia.

⠀⠀Seus olhos encontraram os de Harry. Ele estava olhando para Louis com olhos arregalados, parecendo igualmente perdido e atordoado, do jeito que ele ficava quando queria ser abraçado.

⠀⠀Os dedos de Louis se contraíram em sua direção. Ele os fechou em punhos.

⠀⠀Eles haviam sido resgatados.

⠀⠀Aquilo tinha acabado.

⠀⠀Tudo havia acabado.



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between hatred and desire - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora