𝚌𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟷𝟶

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Quando Paul acordou, tateou na cama mas não encontrou Franco ao seu lado, ele murmurou e se sentou na beirada, coçando os olhos e bocejando

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Quando Paul acordou, tateou na cama mas não encontrou Franco ao seu lado, ele murmurou e se sentou na beirada, coçando os olhos e bocejando.

Coçou o saco na cueca e foi para o banheiro, lavou o rosto e se olhou no espelho, ainda estava tentando assimilar tudo que tinha acontecido na noite passada, e ainda checou os resultados dos socos que tomou, um olho roxo e uma mancha esverdeada no maxilar.

Enquanto descia a escada teve as narinas invadidas por um cheiro agradável de café, e ao chegar na cozinha sentiu seu sorriso ir desfazendo com a cena que encontrou.

Don Germanno fumava um charuto e tomava um café junto com Franco, os dois pararam a conversa quando viram Paul chegar, Don abriu um sorriso sarcástico:
-Olha quem acordou - ele soltou a fumaça e ficou de pé, pra dar um beijo na bochecha do ''amigo'' - Eu vim até a cidade só pra falar com você, mas esqueci que você não tem o costume de levantar cedo.

Paul assentiu, olhou para Franco que não estava entendendo nada e já se preparava pra ir embora:
-Mais tarde a gente se fala, vou ver com a Laurie está - ele baixou a cabeça cobrindo o rosto com o chapéu e saindo pela porta da frente.

Don foi até a sala e se sentou na poltrona, com uma perna dobrada encima da outra, daquele jeito mafioso:
-Pelo visto está fazendo um bom trabalho, já conseguiu colocar nosso alvo pra dentro da sua casa, quando ele morrer ninguém vai suspeitar do melhor amigo, certo? - ele riu - Só que preciso apressar um pouco as coisas, vou ter que viajar pra itália em duas semanas, e antes de eu ir acho bom que este cara já esteja à sete palmos do chão.

Paul acendeu um cigarro, encostou na janela e suspirou antes de falar:
-Tenho algo sério pra te dizer, e como eu já te conheço há mais de dez anos, sei que vai reagir mal - ele engoliu em seco - Mas tô pensando em abandonar esse serviço, me arrependi já tem alguns dias, eu devia ter só me aposentado e já era.

Don arregalou aqueles olhos frios, franziu o cenho e depois deu uma gargalhada:
-Você sempre conta as melhores piadas Paul, eu quase caí nessa, por um segundo acreditei.

-É sério irmão - Paul soprou a fumaça pelo canto da boca, e cruzou os braços - Arranja outro cara pra terminar o serviço, eu tô fora.

Ele tirou o charuto da boca, apagou no cinzeiro em cima da mesinha e ficou de pé, ajeitou o paletó e o bigode e foi andando na direção de Paul, até apontar o dedo pra cara dele:
-Você perdeu o caralho do juízo? É por isso que quer se aposentar?! - ele inflou as narinas de raiva e comprimiu os lábios - Eu não vou arranjar porra de outro matador coisa nenhuma, porque você tem duas opções cowboy, ou você atravessa essa rodovia e fura a cara daquele otario de bala ou quem vai amanhecer com a boca cheia de formiga vai ser você, e você sabe que eu nunca faço promessas em vão - ele cerrou os olhos - E eu te prometo, que é a cabeça dele, ou a sua!

Paul sabia que ele falava sério, Don era inescrupuloso, não tinha empatia por ninguém e passava por cima de qualquer um por suas ambições, ele já tinha ouvido histórias bizarras da crueldade que acontecia com os inimigos dele, então por mais que ele fosse um assassino experiente e treinado, ainda tinha medo de Don e sua máfia... Por isso, resolveu mentir:
-Vai ser a dele então.

Don o fuzilou com o olhar, depois ajeitou novamente o paletó e reacendeu seu charuto:
-Tô decepcionado com você cowboy, eu te considerava meu menino de ouro, nunca esperei te ver fraquejar tão cedo... - ele abriu a porta da sala, lá fora dois capangas o esperavam - Três dias no máximo, e eu volto aqui pra ver se o trabalho foi encerrado.

Assim que ficou sozinho, Paul teve um surto psicótico, começou a quebrar tudo na sala, chutar os móveis, arremessar coisas nas paredes, gritou e esmurrou tudo que via pela frente, até cair de joelhos chorando desesperadamente, ele odiava a si mesmo e tudo que a sua miserável vida representava... Ele teria que matar o homem que amava ou ele acabaria morto, não tinha nenhuma saída, nenhum final feliz pra aquela porra de conto de fadas que ele tinha criado na cabeça.

-Eu sou tão burro - lamentou, baixinho, pra si mesmo - Como eu achei que isso daria certo?!

Paul então, com o rosto encharcado em lágrimas, subiu as escadas e pegou seu revólver, preencheu com todas as balas e o guardou no bolso de trás da calça jeans surrada que vestia, colocou seu chapéu preto e vestiu uma camisa, depois foi até a janela e ficou observando a casa da frente.

Talvez mata-lo fosse um ato de misericórdia, Franco estava sofrendo muito com a perda da filha, com a traição com a esposa, Paul tentou se convencer de que tirar a vida dele seria uma prova de amor genuíno, pois o pouparia de lidar com as dores inevitáveis que ele sentia.

Desceu para a cozinha e tomou três doses de tequila velha da geladeira, sentiu descer queimando garganta abaixo, depois saiu para o lado de fora, aquele calor escaldante de quarenta graus fazia o horizonte ficar trêmulo.

Paul deu o primeiro passo, e foi criando coragem conforme avançava em direção a casa da frente, esperou que um caminhão passasse e depois cruzou a rodovia, subiu os degraus da varanda e bateu na porta, esperou encostado na parede e de cabeça baixa, sentindo o coração martelar e o sangue ficar gelado dentro das veias, ele queria desaparecer, desejou que morresse naquele instante de um AVC ou ataque cardíaco, implorou pra que algum maldito deus o poupasse de ter que fazer aquela maldita tarefa de matar Franco.

-Eu trouxe pra gente - disse Franco abrindo a porta, com duas cervejas - Quero conversar sobre ontem, pode ser?

Paul respirou fundo, e pegou o cano do revólver no bolso de trás....

𝐀 𝐮́𝐥𝐭𝐢𝐦𝐚 𝐯𝐢́𝐭𝐢𝐦𝐚 𝐧𝐨 𝐓𝐞𝐱𝐚𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora