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Estava trabalhando na New York News há quase uma semana quando, durante o horário de almoço, comendo junto com meus colegas, uma coisa me veio à mente:

— quem é o chefe? — perguntei e todos me encararam. Seus olhares beiravam a surpresa. — trabalho aqui há uma semana e nunca vi o chefe entrar ou sair do prédio.

Carl se inclinou para frente na mesa, fixando seus olhos nos meus, e disse em tom baixo:

— nós também nunca vimos a chefe.

— ela sempre chega antes de todos e só vai embora depois que todo mundo sai — Louise completou.

— nem mesmo os empregados mais antigos sabem como ela é. — foi a vez de Camila se inclinar e falar baixinho.

— como assim? Todos foram contratados para trabalhar para uma pessoa que nunca dá as caras?

— exatamente. Ela não aparece nem nas premiações da empresa ou em aniversários importantes. Ela é tipo um fantasma.

Meu instinto jornalístico estava mais aguçado do que nunca. Quem era a chefe? Como se chamava? De onde era? Por quê se escondia? Eram tantas perguntas se formulando na minha cabeça, mas também tantas possibilidades para investigar.

Eu adorava o meu emprego, mas também adorava a ideia de pesquisar e investigar algo. Aquela era a minha chance de saciar um desejo a muito soterrado em meu peito. Iria descobrir quem era A Chefe e porquê evitava as pessoas.

Aquele pensamento ficou comigo durante o dia inteiro, me impossibilitando de trabalhar com total atenção, o que me fez atrasar a entrega de alguns formulários e relatórios. Todos do escritório já haviam ido embora, apenas eu estava trabalhando.

O relógio batia às onze horas em ponto quando fechei todos os arquivos do computador e comecei a guardar minhas coisas para ir embora. Assim que organizei tudo ouvi o ranger de uma porta e barulhos de chaves batendo umas contra as outras, seguido de sons de saltos vindo em direção às mesas de escritório em fileiras.

A história da Chefe me veio logo à mente, me fazendo imaginar milhares de coisas. Coloquei a alça de correntes da bolsa no ombro e segurei firme, contendo a ansiedade por estar no mesmo cômodo que a dona da empresa que ninguém nunca havia visto. Caminhei sem sem olhar com atenção para onde estava indo, com meus pensamentos a mil, quando esbarrei sem querer em algo magro e macio.

Meus pensamentos se retraíram rapidamente e eu pude ver no que tinha batido. Me afastei um passo e olhei para os saltos agulha que ouvi bater contra o piso segundos atrás, seguidos de uma calça social preta e um blazer que completava o terno. Levantei o olhar um pouco mais acima da minha cabeça e pude ver o rosto da fantasma da empresa. Sua pele era surpreendentemente clara, queixo bem marcado, lábios vermelhos, nariz fino e olhos lindamente verdes que se destacavam devido o longo cabelo escuro; em seus lóbulos pendiam brincos longos cravejados de jóias que brilhavam como diamantes e, em seu braço, uma bolsa que claramente era de alguma marca famosa. Era de longe a mulher mais bonita que eu já tinha visto em toda a minha vida.

— O que ainda faz aqui? — sua voz soou grave e levemente autoritária — seu expediente acabou há duas horas.

— Eu... Eu... — de uma maneira inexplicável a presença daquela mulher me deixou inquieta e sem palavras. Engoli em seco e reformulei a resposta. — atrasei com o trabalho e precisei ficar mais algum tempo.

— Podia fazer isso em casa. Não sabe transferir arquivos?

— Eu peço desculpas, senhora, mas não costumo levar trabalho para casa.

Seu rosto permanecia pleno como uma pedra; em momento algum ela expressou algo. Vi seu olhar me analisando de cima a baixo, mas não disse nada, apenas apalpou os bolsos e, constatando que havia esquecido algo, me olhou e disse:

— Vá para casa. Esqueci uma coisa no meu escritório. Eu apago as luzes quando sair.

E com isso voltou para seu escritório particular. Fiquei observando quando ela atravessou todo o caminho e abriu a única porta, com grandes janelas de vidro em molduras escuras do lado, e entrou.

Peguei o elevador, desci ao andar térreo do prédio, onde encontrei dois seguranças fazendo ronda do lado de fora e parti para casa com a imagem daquela mulher misteriosa.

Eu não descansaria até saber quem de fato era aquela mulher.

Minha Chefe Me MordeuOnde histórias criam vida. Descubra agora