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Duas semanas haviam se passado desde o meu encontro um tanto embaraçoso com a minha chefe. Desde então, passei a ficar de olho em qualquer movimento atrás daquelas janelas, mas as persianas estavam sempre baixadas para evitar qualquer visão do ambiente lá dentro.

- Amélia, - chamou Louise, aparecendo sem que eu percebesse na minha mesa - terminou aquele relatório que eu te pedi? Preciso entregar alguns papéis a chefe e ela odeia esperar ou receber coisas fora do prazo.

Ouvi as palavras dela e logo uma ideia me surgiu.

- Se você quiser eu mesma posso entregar. Acho que ainda vou demorar um pouco para terminar, então não seria incômodo algum.

- eu ainda não acredito que você viu ela de verdade - Carl começou a arrastar a cadeira de rodinhas até onde nós estávamos. - fala como ela é mais uma vez?

Sorri e vi Camila se aproximando também. Desde que contei o que houve, ele não me deixaram em paz com o assunto.

- tá bem, mas só essa vez. Ela é alta, mais ou menos 1,80 de altura. Tem cabelos pretos e olhos verdes e estava usando um terninho preto. Ela parece que está sempre de mau humor e fala como se estivesse dando uma bronca.

- ela parece ser tão bonita... Eu cheguei a pensar que ela era um idosa e por isso não saía do escritório.

- não seja idiota, Carl - Camila o repreendeu, dando-lhe um tapinha no ombro - como você disse que era a cor da pele dela, mesmo?

- Branca. Muito branca - respondi.

- vai ver ela é albina e por isso não sai no sol - Carl deu de ombros.

- quem não sai no sol não são os vampiros? - Louise quis saber.

- o que vampiros e albinos tem a ver um com o outro? Albinos são pessoas normais, gente! E ela não pode ser albina, Amélia disse que ela tem cabelos pretos, não foi?

Fiquei ouvindo a pequena discussão em silêncio. Virei minha cadeira na direção contrária da mesa e encarei a porta de madeira branca, imaginando o que poderia ter lá dentro que a fizesse passar tanto tempo trancada.

- Amélia!

A mão de Camila me puxou de volta à realidade, virando minha cadeira de volta a posição inicial.

- o quê?

- Acha que ela é casada ou tem namorado? - Carl fez a pergunta mais sem noção que poderia sair da boca dele.

Dei de ombros e respondi - como vou saber? Só vi a mulher uma vez e foi tão rápido que nem tive tempo de reparar em coisas desse tipo. - soltei o ar em meus pulmões e comecei a girar uma caneta nos dedos - só o que eu posso dizer é que ela é muito, muito bonita.

Senti os olhares dos três sobre mim e logo suas risadas abafadas pelas mãos. Olhei-os sem entender o motivo daquilo e perguntei, largando a caneta de volta na mesa:

- o que foi?!

Os três se recomporam aos poucos e Louise foi a primeira a explicar:

- é que você fala da chefe de um jeito tão bonito, que chega a parecer que você gosta dela.

- ou pelo menos gosta de... Bom, mulheres - Camila completou.

Aquilo me pegou totalmente de surpresa. De fato, eu falava da chefe de uma maneira deferente, mas não significava que eu nutria qualquer sentimento por ela. Entretanto, minha mente não parava de projetar imagens dela e da beleza surreal que ela possuía. Eu sentia mesmo atração por mulheres, mas por ela? Chegava a ser ridículo pensar em uma coisa assim.

- talvez - foi só o que respondi e um sorriso involuntário pintou no meu rosto.

- O quê?! - Carl praticamente gritou, se jogando contra o encosto da cadeira com as mãos na cabeça.

Camila estendeu a mão para ele, que tirou uma nota de cem do bolso e a entregou.

- te falei que ela não era para o seu bico.

Louise e eu observamos aquilo com inúmeros questionamentos na cabeça. Pensei em perguntar algo, mas ela foi mais rápida:

- espera um pouco, vocês fizeram uma aposta?

- claro! Meu faro nunca falha - Camila respondeu, dando leves batidinhas com o indicador no nariz - e esse terninho que você usa não engana ninguém.

- achei que teria alguma chance.

Segurei a mão de Carl e acariciei o dorso com carinho.

- sinto muito, Carl.

Minha Chefe Me MordeuOnde histórias criam vida. Descubra agora