Minha Chefe Me Mordeu

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A noite passada havia sido muito estranha. Primeiro a Chefe - que eu ainda não sabia o nome - falando coisas que, bom, mexeram comigo de alguma forma. Ela parecia até amigável, mas então eu fiz a pergunta idiota e ela fechou a cara.

Agora mantinha minha visão focada na porta de madeira branca enquanto esperava Louise chegar para que eu pudesse entregar os documentos da noite passada. Esperei por muito tempo, mas ela não aparecia. Foi então que me dei conta de que que ela não viria, pois estava doente e precisou ir ao médico.

Só havia uma coisa a ser feita se eu quisesse manter o meu emprego e o da minha amiga: ir até a sala da chefe e entregar pessoalmente.

Nem mesmo percebi quando meu corpo entrou em movimento e começou a andar até aquela porta. As janelas permaneciam com as persianas fechadas. Bati à porta duas vezes e ninguém atendeu. Talvez a chefe não tivesse vindo trabalhar.

Abri a porta e adentrei o cómodo. Não dava para ver praticamente nada ali dentro. Todas as janelas estavam fechadas por persianas e não havia luz alguma para iluminar o local, apenas o leve brilho da tela de um notebook sobre a mesa dela. Olhei mais atentamente e vi uma silhueta magra e alta fundida junto a escuridão.

Com um pouco de receio comecei a chamar:

- Chefe?

Senti um calafrio percorrer minha espinha e recuei um passo, mas antes que eu pudesse sair da sala a porta foi fechada abruptamente e algo passou por mim em uma velocidade surpreendente. Um frio irracional me cobriu juntamente com um leve odor que parecia estar guardado no fundo da minha mente e derrepente uma sensação de déjà vu me fez viver algo estranho. Uma sensação mesclada ao cheiro conhecido.

Porém tudo se esvaiu quando um grito soou do fundo da minha garganta ao sentir a dor aguda logo abaixo do lóbulo da minha orelha esquerda.

Foi então que me dei conta de algo: minha chefe me mordeu.

Além da dor, algo mais despertou em mim. Era como uma lembrança vaga daquela mesma sensação, mas mais dolorosa do que agora.

Joguei os papéis no chão antes de usar as duas mãos para empurrar a mulher para longe, abrir a porta e correr em direção ao banheiro. Sentia o líquido escorrer pelo meu pescoço e sujar minha blusa branca com um vermelho vivo.

Meu coração estava acelerado e minha visão desfocada. Assim que cheguei ao banheiro, fui direto para o grande espelho com a mão no ferimento dolorido; tirei a mão de lá e vi mais sangue escorrer. Baixei o corpo sobre a pia e limpei a mordida com água corrente, aliviando um pouco mais a dor lancinante.

Após um tempo, busquei um pequeno kit de primeros socorros que ficava a disposição no banheiro e usei uma gaze para tapar a mordida.

Enquanto fazia isso uma enxurrada de notificações tocavam no meu celular que estava no bolso. Não queria saber quem era ou qual era o assunto, talvez com um ferimento daqueles eu precisasse ir ao médico.

Então foi o que eu fiz. Tentei esconder o máximo possível  o curativo mal feito no pescoço com o cabelo ruivo curto e saí do banheiro, indo direto para o grande escritório onde todos me olhavam curiosos.

- O que aconteceu? - perguntou Camila.

- Ela está sangrando! - outra pessoa comentou.

Ouvi mais alguns comentários sobre minha blusa manchada, mas  todos se calaram derrepente e vidraram seus olhares em um único lugar. Peguei minha bolsa na mesa e só então olhei para trás: a Chefe estava de pé no batente da porta me olhando fixamente com seus olhos verdes. No canto de sua boca, uma mancha vermelha brilhava contra a pele branca demais. Olhei para os meus colegas de trabalho e estavam todos boquiabertos e é então que me dou conta que essa é a primeira vez que eles a vêem.

A fantasma da empresa finalmente deu às caras e todos a conheciam agora.

Seu olhar se encontrou com o meu e nesse instante minha mente começou a girar como se eu tivesse tomado alguma bebida alcoólica muito forte.

A última coisa que eu vi foi um leve sorriso em seu rosto antes de apagar.