ARQUIVO V: ANEXO II

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2021, 10 de Março

A manhã de segunda-feira chegou envolta em um véu de nuvens cinzas, acompanhadas por uma ventania que assobiava entre as árvores, derrubando algumas pétalas de flores que caíam ao chão mais à frente. O céu pesado e cinzento desafiava a estação, que costuma ter temperaturas amenas e tempo agradável.

Parecia que a morte de Soeun fora o suficiente para alterar o clima da primavera. Não havia nenhuma brecha para o sol sair das nuvens carregadas, e as ruas também estavam silenciosas, apenas o barulho dos carros de trabalhadores que deixavam suas casas pela manhã.

Após as oito da manhã, o silêncio se fez absoluto nas ruas. Isso, junto ao clima, foi o suficiente para que Wonwoo e Mingyu não acordassem no horário que estavam acostumados.

A quietude foi interrompida pelo barulho da porta da frente sendo aberta. Hansol entrou no apartamento com sua mochila, perguntando a si mesmo qual poderia ser o motivo da porta não ter sido trancada na noite anterior. Imaginou, então, que fosse de propósito, já que Mingyu havia dito para que se encontrassem ali.

Deixou a mochila no sofá e caminhou até o banheiro. Agradeceu pelo apartamento de Wonwoo ser em um único ambiente, pois deixava mais fácil de se movimentar entre os poucos móveis. Ao passar pelo espaço do quarto, observou a janela, e seus olhos caíram por Wonwoo e Mingyu dormindo abraçados na cama. Andou até a porta do banheiro...

Wonwoo e Mingyu dormindo abraçados na cama?

Deu alguns passos para trás, e parou na frente da cama, com os olhos um pouco arregalados. Sentindo o olhar sobre si, Wonwoo abriu os olhos lentamente, bocejando e desvencilhando-se dos braços de Mingyu que o rodeavam.

— Desde quando vocês dormem juntos? — Hansol perguntou, a voz um pouco mais alta do que gostaria, fazendo Mingyu acordar em um pulo.

— Desde ontem. — Wonwoo respondeu, sua expressão tranquila e sonolenta.

— Vocês dois estão namorando mesmo? — o mais novo perguntou. — Eu falava só na intenção de zoar o Mingyu. Meu Deus.

Tanto Mingyu quanto Wonwoo apenas encararam o policial mais novo, ainda um pouco sonolentos, tentando acostumar os olhos ao tempo ainda escuro, graças às nuvens carregadas do lado de fora.

Hansol, cogitando estar sonhando, coçou os olhos e seguiu até o banheiro, como se não tivesse visto tal cena acontecer. Foi tempo suficiente para que os outros dois se levantassem. Wonwoo seguiu para a cozinha, e Mingyu caminhou até a porta do banheiro, esperando que o amigo saísse do ambiente para fazer sua rotina matinal.

O policial mais novo, no entanto, percebeu uma anomalia ao entrar no banheiro do detetive. O mais velho, que era sempre tão organizado, deixara o ambiente em desordem – toalhas jogadas no chão e sobre a pia, o espelho sujo e um pouco embaçado, e, escondida embaixo de uma das toalhas, uma pistola preta de cano longo, com marcas visíveis de digitais ao redor do cano.

Congelou no lugar, com seus olhos fixos naquele objeto que ele conhecia muito bem, mas que parecia atípico para estar no porte de Wonwoo. O detetive não era do tipo de ter uma arma – ou, pelo menos, não parecia ser. Uma pessoa que sempre utilizou a lógica para resolver situações, sendo conhecido por resolver tudo da forma mais lícita possível. Então, encontrar uma arma em sua casa deixou Hansol um pouco confuso e meramente assustado.

Hansol estendeu a mão, tocando o cabo texturizado da arma com cuidado. Rodeou o equipamento, levantando-o brevemente para sentir o peso. O policial conhecia o modelo – uma pistola Taurus 59 S, de aço inoxidável, tendo o peso familiar que tanto conhecia. Girou a pistola lentamente em sua mão, analisando seu corpo prateado, o cano longo e, ainda que sujo por digitais, se mostrava bem polido. Por quê Wonwoo teria uma? Detetives não são autorizados a manusear armas de fogo. Não fazia o menor sentido.

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