ARQUIVO III: ANEXO I

212 32 25
                                    

A escadaria parecia não ter fim.

Wonwoo descia e descia sem parar, agarrando-se no corrimão para não cair. Sua visão estava turva, e sua cabeça doía de tanto dar voltas e mais voltas naqueles degraus. Estava agitado, sua mente ficara ainda mais cheia e sentia vontade de bater em alguma coisa. Respirava pesadamente, mas não sabia se era por conta do esforço ou... outra coisa. O que eram aquelas sensações? Primeiro, chorou até inchar os olhos, e agora, sentia-se fumegando, fervendo. Ele estava... com raiva. Isso. Raiva. Irritação. Era por isso que queria bater em algo? Ou melhor, em alguém.

Mingyu. Ele queria bater em Mingyu.

Sim, ele estava com raiva de Mingyu. Ouvi-lo zombar de si daquela maneira o deixou possesso. As palavras, o tom da voz, até mesmo a expressão de seu rosto, o fizeram lembrar de seu pai. Odiava lembrar daquele homem. Odiava que seu trabalho não fosse levado a sério só por não trabalhar numa delegacia. Não foi fácil para Wonwoo chegar onde está agora. Não foi. Porém, além da raiva descomunal, também sentia tristeza. Sua mente estava embaralhada, sentia um misto de emoções. Wonwoo confiava em Mingyu. Eles se davam bem, pelo menos o detetive pensava assim. Há anos não se sentia confortável o bastante com alguém a ponto de não se incomodar com a presença alheia e até cogitar uma amizade.

O último a conseguir isso foi Seokmin.

Wonwoo soltou um grunhido alto, ouvindo um barulhinho estridente em sua cabeça. Ugh, que dor! O homem cambaleou até a porta do andar e saiu no corredor, sendo surpreendido pelo seu vizinho de cima. Oh, aquele ainda não era seu andar...

— Oxe, cara, 'cê tá bem? — o homem disse, confuso. Ele tinha uma sacola na mão enquanto abria a porta de seu apartamento. Na outra mão estava um cigarro aceso.

Wonwoo inflou as narinas, sentindo o fedor que tanto odiava. A fumaça subia, servindo como gatilho para inúmeras memórias que o detetive tentava a todo custo prender em um baú no fundo de sua mente. O barulho ficou mais alto. Wonwoo fechou os olhos por um segundo e a figura curvada e alta de seu pai apareceu, segurando um cigarro entre os dedos, enquanto baforava aquela fumaça nojenta em seu rosto. O homem sempre estava com aquela droga na mão, sempre. Toda vez que Wonwoo olhava para ele, em seus dedos havia um cigarro aceso. O que tinha de tão bom nessa porcaria?

Por que sempre tinha alguém fumando perto de Wonwoo?

O detetive, já no limite de sua sanidade, pegou o cigarro da mão alheia e colocou na boca, dando um trago longo. O vizinho gritou, reclamando, mas Wonwoo não deu a mínima. Sentiu um sabor leve de menta junto de um gosto amargo, e acabou por sufocar. Tossiu compulsivamente, largando o cigarro no chão e pisando em cima. A cada tossida, via a fumaça saindo de sua boca e indo direto para seu nariz. Pensou que fosse morrer. Era horrível. Nunca conseguiu entender o porquê das pessoas fumarem, e agora, menos ainda. O vizinho continuou reclamando, mas o detetive ignorou, dando meia volta e indo até as escadas novamente.

Desceu até seu andar lentamente, sua cabeça estava dormente de tanto barulho. Abriu a porta de seu apartamento e entrou. Tateou em busca do interruptor e observou a luz tomar conta de sua pequena casa. Engoliu em seco, ainda sentindo o gosto amargo de antes, e fechou as mãos em punho. Wonwoo jurou para si mesmo que nunca fumaria. Jurou que nunca seria igual a seu pai. No entanto, lá estava ele, com um gosto de cigarro mentolado na boca. Sua respiração ficou descompassada. O que estava acontecendo? Que misto de sensações era aquele? Wonwoo estava confuso, frustrado, e sabe-se lá mais o quê. Ele não devia estar assim. Era para sua mente esvaziar!

Fechou os olhos e grunhiu alto mais uma vez. Estava sozinho de novo. Ninguém o entendia. Seokmin se foi. Mingyu também. Mingyu é um idiota. Soltou um grito e agarrou o pobre abajur em cima do balcão, o jogando na parede do outro lado da sala. O barulho do vidro se estilhaçando foi alto e grotesco, tal qual os pensamentos de Wonwoo naquele momento. Odiava se sentir assim. Mas o que era aquilo que sentia? Não sabia. Ninguém o entendia, muito menos ele próprio.

SECRET EMOTIONSOnde histórias criam vida. Descubra agora