O caveira e a borboleta

Capítulo 9 Escritora

                                                   BÁRBARA MATTOS

Não vou deixar aquele idiota ficar brincando comigo. Ele sabe que quero muito minha corrente e fica fazendo graça. Babaca!

Não cheguei muito longe quando escutei passos de alguém correndo  atrás de mim. Ele fica na minha frente, pega minha mão e coloca a corrente nela, fecha meus dedos e pergunta:

----Qual o nome do seu pai?

---- Não te interessa!

Digo irritada. Tento passar por ele mas ele me impede e diz:

---- Nós fazemos relatórios de cada missão. Eu posso investigar para você o que aconteceu...

Parei de tentar passar por ele e o encarei :

----- Não preciso de investigação. Meu irmão viu tudo, ele estava lá.

Coloco a correntinha na minha bolsa e volta a caminhar,ele segura meu braço.

----- Faz 8 anos que fiz o curso da coesp e entrei para o bope. Quanto tempo faz que aconteceu isso com seu pai?

Eu o encaro dizendo: ----Pouco importa se você estava lá ou não. Você é um deles e para mim isso basta. Agora me solta...

Ele solta o meu braço e diz:

----Deixa de ser teimosa e aceita pelo menos uma carona.

Diz ele chateado. Que direito ele achava que tinha de ficar irritado.

----Você é um babaca!

---- Você é louca. Não te fiz nada. Você resolveu me odiar de graça.

Parei bruscamente de caminhar e fui até ele dizendo:

---- Esquece que eu existo. Quero distância de você. Não importa se você é gostoso, é lindo e sabe muito bem mover essas mãos...

Ele me pega de surpresa ao colocar as mãos na lateral da minha cintura e me puxar de encontro ao corpo dele. Levou os lábios perto do meu ouvido e sussurrou:

---- borboleta seu cheiro ainda está na minha cama.

Meu corpo traidor se acendeu todo. Cheguei a soltar um suspiro involuntário, mas não vou cair nesse papo. Apoiei minhas mãos no peito dele na intenção de empurra-lo mas sentir aquele abdome duro e cheio de gominhos, minhas mãos ganharam vida própria e deslizaram por eles. O Dom entende isso como um sinal para continuar e seus lábios alcançam a curva do meu pescoço. Sua mão aperta firme minha cintura, fecho os olhos e jogo a cabeça para trás dando passagem a ele.

Nisso a luz de um carro saindo da casa vizinha me despertou e me afastei dizendo:

----Até nunca mais Dom. Tchau.

Desci rápido para não cair em tentação. Escutei ele falar um palavrão para o vizinho que buzinou para ele.

Quando atravessei o portão pedi um uber e fui embora. Gastei uma grana por que eram 30 km distância entre esse condomínio e minha casa.

Na segunda recebi uma ótima notícia, a editora Cattaneo me ligou dizendo que meu livro seria publicado e pulei pela casa comemorando. A noite saímos eu a Isabela e o Denis para comemorar. Eles estavam muito felizes por mim. Depois de brindarmos eu disse:

-----Me falaram que a editora vai fazer uma festa para comemorar seus dez anos e eu receberei um convite para ir com acompanhante. Qual de vocês vai comigo?

A Isabela diz: ----Sinto muito amiga mais esse tipo de rolê não é pra mim.

O Denis diz: ----Eu vou com você princesa. Assim eles já vão ver que você tem um advogado exclusivo e nunca pensarão em te passar a perna.

Peguei na mão dele e sorri dizendo: ----Te amo.

Em seguida virei toda a tequila do meu copo. Trouxe eles no rosa mexicano e eles estavam amando.

Em certo momento a Isabela diz:

---- Agora que você está dedicada a dois empregos precisa comprar um carro Ba.

----Não sei nem dirigir minha vida quanto mais um carro. Melhor deixar assim... 

Na quarta feira eu estava chegando no prédio depois de um dia exaustivo no trabalho quando o Júnior me surpreende aparecendo do nada e diz:

----Olá irmãnzinha.

Meu irmão estava cada dia mais envolvido no mundo do crime, dava para ver em seus olhos sem vida o jeito de se vestir os cabelos pintados de amarelo os desenhos que marcavam seu pescoço e seus braços...

----Julio o que você está fazendo aqui? Já te falei da última vez que não vou mais te dar dinheiro.

Ele segurou meu braço com força e me olhou com raiva:

---- Você acha que é barato manter aquela casa?

Meu deus a casa que era dos meus pais tinha só dois quartos cozinha e banheiro. Ele não precisa pagar aluguel, meu pai construiu aquele lugar com o suor do seu trabalho. Tentei soltar meu braço mais ele segurava com força.

-----Me solta, você está me machucando.

Fiz cara de dor e mesmo assim ele não me soltou e é firme ao dizer:

---- Suave. Preciso de 600 pau e você vai me transferir agora ou vamos entrar no seu apartamento para eu escolher o que tem de valor por lá.

Tentei novamente soltar meu braço e nada, uma lágrima surgiu nos meus olhos. Pela dor e por ver meu único irmão tão destruído. Mas não podia deixa-lo subir no meu apartamento.

----Está bem. Eu vou transferir. Mas por favor não me procure mais. E me solta.

Nesse momento ele me solta e passo a mão sobre o local onde ele apertou. Com certeza vai ficar roxo.

----Anda logo irmãnzinha, não tenho a noite toda. Preciso fazer meus corres...

Peguei meu celular na bolsa e fiz o pix. Não acreditava que ele seria capaz de me machucar de verdade mas faria qualquer coisa para ele me deixar em paz. Ele sorriu ao receber o pix e antes de ir disse:

-----Até mês que vem.

----Não. Esse é o último Júlio. Por favor não volte aqui.

Mas ele atravessa a rua e vai embora sem olhar para trás, com um sorrisinho debochado no rosto.

Entrei chorando no meu apartamento.A Isabela me vê e vem preocupada até mim.

----O que ouve?

---O Júlio. Só quero tomar um banho, vai passar.

---- Aquele marginal merece ser preso. Você vai deixar ele te tratar assim até quando?

Fui em direção do meu quarto.

----Vou ficar bem Isa.Vou ficar bem....

Ao tirar a roupa para entrar no banho viro meu braço para o espelho e vejo as marcas de dedos do Júlio marcando minha pele. Entro no chuveiro e deixo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. 

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leilamachado779