ESTEFANO CATTANEO DONATELO
Tenho que controlar a vontade imensa de encher a cara desse sujeito de porrada. Ele permanecia de joelhos mãos na cabeça, olhava sempre para o chão.
---- Você é tão covarde que a dez anos atrás fez seu pai de escudo para fugir da polícia.
nesse momento ele levantou a cabeça e me olhou,o Cris que estava atrás dele o chutou nas costas, fazendo com que ele se desequilibrasse caísse para frente mas logo se recompôs e voltou a posição de ordem com os olhos para baixo. Claro que ele não viu meu rosto por que estávamos todos com nossas toucas pretas e o uniforme preto, não usávamos mais essa roupa, só em ocasiões como está, mesmo assim mereceu o chute.Coloquei o meu celular para gravar e disse:
----Fale o que você fez a dez anos, como foi a morte do seu pai?
Ele demorou uns segundos para falar, lhe dei um tapa na cara dizendo em voz alta:
----- Fala como foi, quero detalhes...
Ele então narrou o que aconteceu. Que ele bateu de frente com o bope estava armado e atirou, não acertou ninguém, entrou em uma viela e quando o policial atirou ele mesmo tinha cruzado com seu pai e o puxou para usá-lo como escudo, em seguida conseguiu fugir e se escondeu em casa, deixando o corpo do seu pai caído no chão.
----Isso foi atitude de homem?
-----Não senhor. Eu só tinha 17 anos senhor, agi sem pensar.
Desliguei o telefone e coloquei novamente no bolso. ----- Levanta.
Ele levantou devagar, mas permaneceu olhando para o chão. O segurei pelo braço com força, por que quero deixar marcas e o conduzi para o outro comodo da casa.
-----Vamos ver o que encontramos por aqui. Nos leve para conhecer sua casa.
Não soltei o braço dele nem um momento, ele gemeu de dor em várias vezes. Eu usava luvas que deixam somente as pontas dos dedos de fora. Reviramos a casa, encontramos uma ponto 40 (arma de fogo) e algumas gramas de maconha.
----Você vai com a gente. Está preso.
----Na moral senhor. O que eu fiz para você?
----Pra mim nada mas você devia cuidar por onde anda.
O levei para fora ainda o segurando pelo braço. Como ele era reincidente talvez ficasse mas uns dois anos preso. A não ser que alguém pague sua fiança por posse ilegal de arma.Saímos da casa e descemos de volta para a viatura. Efetuamos a prisão do sujeito e voltamos para o quartel.
Estou fechando meu armário, acabamos de nos trocar vesti uma calça de moletom preta e camiseta preta. Assim que me virei vi o Cris vestindo a camiseta e me olhando.
----O que foi?
----Você não parece satisfeito.
----- Ela vai ficar arrasada quando souber que ele foi responsável pela morte do próprio pai. E eu gostaria de ter mandado ele para o inferno... Ele a deixou com o braço roxo, a forçou a lhe dar dinheiro...
----Por isso você quase arrancou o braço dele fora? Agora está explicado.
---- Ela me pediu para não atirar quando eu tivesse chance. Queria ter enchido a cara dele de porrada mas sou o primeiro tenente e tenho que me controlar.
Digo desanimado por que é assim que me sinto. Sento no banco que havia no meio do vestuário os outros caras já estavam saindo. E concluo:
----Se alguém pagar a fiança dele, em poucos dias ele está na rua e se ele a procurar novamente não vou conseguir me controlar. Ninguém vai me segurar se ele encostar nela de novo.
----Você gosta bastante dela. Até que enfim uma mulher conseguiu te tirar da pista...
Me levantei e passei por ele dizendo:
---- Não é nada disso, não viaja. O que temos é um acordo de sexo sem compromisso e o que fiz por ela faria por qualquer um.
----Tá bom, vou fingir que acredito.
Saímos do vestuário e fui fazer o relatório da missão.
Horas depois fomos chamados para uma missão não programada no Vidigal. Relataram um tiroteio e uma criança havia morrido de bala perdida.Fomos recebidos com muitos tiros, era uma briga entre gangues rivais. O Jonas acabou levando um tiro na perna de raspão. Depois de algumas horas restabelecemos a paz no local, deixando alguns corpos pelo caminho.
Na madrugada fiquei com o pessoal que estava fazendo o curso e mais 20 % pediram pra sair. Quando esse curso se inicia tem um total de 80 homens, agora já estava com 20 e ainda faltam duas etapas. Acredito que teremos mais umas 15 desistências.
Depois de 24 h de plantão cheguei em casa exausto e fui direto tomar um banho. Ao deitar na cama senti o cheiro da Borboleta e desejei que ela estive aqui comigo. Que porra de uma carência desgraçada,soquei o travesseiro várias vezes irritado comigo mesmo e depois de uma eternidade acabei caindo no sono vencido pelo cansaço.
Na manhã seguinte sai para comprar umas coisas e quando cheguei em casa peguei o celular na mão e fiquei olhando a foto do contato dela no wattsap pensando se deveria mandar uma mensagem. Talvez só confirmar o nosso jantar de amanhã. Optei por não mandar nada, ela poderia interpretar de outra maneira e está claro para nós dois que o que temos não passa de atração física. Larguei meu celular na bancada, nisso ouço meu sobrinho Arthur de 10 anos meu chamando.
---Entra Arthur. Estou na cozinha.
Arthur era alemão igual pai dele, alto magro, inteligente e educado. Estava guardando as compras que fiz para o jantar de amanhã quando ele entrou.
---Com licença tio. Você vai sair?
---- Hoje vou trabalhar as 19 h. Você precisa de alguma coisa?
----Posso ficar aqui um pouco? Meus pais estão discutindo....
Olhei preocupado para ele que me tranquiliza:
---Não é nada sério mas achei melhor deixá-los a vontade. Parece que o papai deu carona para uma loira da empresa.
O Patrick meu cunhado era dono de uma empresa de cosméticos. Sorri com o motivo da briga. Esse é um dos motivos de eu fugir de relacionamentos, o ciúme exagerado.
---Fica a vontade. Acho que você vai poder me ajudar com uma coisa que vou instalar lá no banheiro. Só vou terminar de guardar isso...
O moleque se joga no meu sofá e fica mexendo no celular. Jogando com certeza.Pelo menos agora tenho uma distração e quem sabe tiro um pouco minha borboleta da cabeça.
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curta e comente a vontade.
obs: As estatísticas para passar em um curso da coesp, segundo minhas pesquisas são realmente de 5%. Algumas mulheres já tentaram passar e até hoje nenhuma conseguiu.
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O caveira e a borboleta
RomanceBárbara Mattos não comemora mais aniversário desde que sofreu uma grande perda no dia que completou 15 anos. Formada em enfermagem e escritora nas horas vagas, ela luta para sobreviver na selva de pedras chamado Rio de janeiro. Seu caminho vai se c...