BÁRBARA MATTOS
Estou no meu quarto, encolhida na cama a Isabela está sentada ao meu lado.
----Por que você não falou pra ele da gravidez?
---- Ele não me ama Isa, ele não vai gostar de saber dessa gravidez.
Cubro meu rosto com a colcha e ela puxa a colcha dizendo:
----Ele disse que não sente nada?
---Não exatamente, mas eu me declarei e ele ficou enrolando... Falando que sou especial...
----Acho que esse excesso de hormônios está fritando seu cérebro. Bá ele foi no hospital atrás de você, veio aqui atrás de você, isso não é atitude de quem não sente nada.
---- Me deixa sozinha. Você não entende.
---- Pare de chorar sua boba, ele te ama sim.
Ela acaricia meu braço e levanta-se.
---- Você está de folga mais eu não. Vou descansar por que a noite vai ser longa. Se quando eu acordar você ainda estiver nesse chororô eu mesma vou ligar para aquele deus grego e contar que ele vai ser pai do meu afilhado ou afilhada.
----Eu mato você se fizer isso.
Ela joga um travesseiro sobre mim dizendo: ---Não duvido, você anda meio louca.
Chata. Por que é tão difícil para ela entender o que sinto? Eu sei que ele gosta de mim, mas eu queria que ele me amasse. Sem falar que vou ser mãe e não tenho família para dividir comigo esse momento. Mas uma coisa ela tem razão, eu preciso parar de chorar, isso não fará bem para o bebê. Então saio da cama e ao me olhar no espelho vejo que estou horrível. Preciso fazer um skin care, dar uma caminhada.
ESTEFANO CATTANEO DONATELO
Depois de ficar o dia inteiro na cama pensando o que está deixando a Bárbara angustiada , estou aqui na academia do quartel fazendo esteira ao lado do Cris.
---- Não sei o que está deixando ela assim e isso está me enlouquecendo.
----Você falou alguma coisa que a chateou? Mulher tem um hd incrível.
----Nada. E ela também disse que não me culpa pelo que fiz com o irmão dela. Então não sei o que é. Já passou mil cenários pela minha cabeça e o pior deles é que ela me traiu.
---- Tpm será?
----Não. Mas está perto. Só que ela não agiria assim por causa de tpm. Ela é bem tranquila nessa fase.
----Vocês estão bem? Você já se declarou pra ela?
---- Estávamos bem. Falar em palavras o que sinto ainda não falei mas já demonstrei de várias formas, acredito que ela não tenha dúvidas...Apesar de ter falado umas besteiras sobre eu ter sido levado pelas circunstâncias ao ter apresentado ela a minha família e amigos como ''amiga''
----Cara da pra ver que você nunca teve um relacionamento. Provavelmente ela só está insegura. Mulher gosta de palavras....Vai por mim, você pode fazer mil coisas por elas mas se você não declarar seu amor elas não ficam satisfeitas.
--- Será? Não, não acho que seja isso.
jogo minha cabeça para trás e suspiro dizendo:
---- Vou pirar até minha próxima folga.
---Por que não podem se ver antes?
---Ela trabalha das 7 ás 19 h no hospital e eu agora estou no turno da noite.
o Cris desliga a esteira dele e me olha sério como se tivesse lembrado de algo surpreendente.
----Outra coisa que deixa as mulheres sensíveis e choronas é gravidez. Tem chance de ser gravidez?
meus pés se embolaram mas consegui recuperar o equilíbrio a tempo de evitar um tombo, desliguei a esteira e olhei para ele dizendo:
----Grávida? Está ai um cenário que nem passou pela minha cabeça.
Eu sorri, por que se fosse isso eu teria um vínculo eterno com a borboleta e ela seria minha para sempre. Eu não deixaria mais ela fugir.
----Pelo jeito você curtiu a ideia.
---- De todos os cenários que passaram pela minha cabeça esse sem dúvida é o melhor. Nunca tinha parado para pensar na possibilidade de ser pai mas um filho dela eu ficaria feliz.
Nisso somos avisados de uma missão não programada no complexo da maré. Fomos para o vestuário nos arrumar e em poucos minutos já estávamos nas viaturas. Saímos em duas equipes, todos bem armados e equipados.
A situação por lá estava tensa. A policial militar estava no local mas não conseguiram grandes avanços, havia muitos tiros entre gangues rivais. Descemos da viatura e nos posicionamos próximos aos muros e fomos subindo nos dividindo em grupos de quatro. Quando avistaram nossa chegada começou a troca de tiros. Eu avistei um olheiro atirei e peguei seu rádio, sem dar chance a ele de reagir. Apertei o botão que havia na lateral do rádio e disse: '' Cambio, seu olheiro já era e você será o próximo. Acabem logo com essa baderna ou vamos estourar todo mundo ''
'' seus desgraçados, quem vai estourar vocês somos nós, seus filho da puta do caralho''
Desliguei o rádio, coloquei no bolso e continuamos seguindo em frente. Os tiros não cessavam, passei um rádio para o quartel e pedi mais duas equipes. Se eles queriam guerra iriam ter guerra.
As outras equipes não demoraram a chegar, nós estávamos avançando e já conseguimos controlar boa parte do problema. Nisso vejo uma mulher com um bebezinho recém-nascido encolhida atrás de um muro, olhei para aquela cena imaginando se fosse meu filho e que vida eu escolheria para ele, e o quanto minha profissão iria intervir nisso. Me afasto um pouco da minha equipe e sinto uma pressão grande contra meu peito, tentei reagir mais o impacto do segundo tiro no meu peito me desestabilizou e caí de joelhos sinto outro impacto no meu braço, foi uma questão de dois segundos meu fuzil caiu das minhas mãos e vi a movimentação dos meus amigos me rodeando, vi o alvo sendo abatido e senti me segurarem pelos braços e pernas, não estava conseguindo ficar com o olhos abertos, estava com muita dificuldade para respirar. Não sei se apaguei mais ao abrir os olhos novamente escuto várias vozes ao longe e percebo que estou na viatura e o Cris está tirando meu colete, continuo com dificuldade para respirar, ele rasga minha camiseta e resmungo:
---- Onde pegou?
---- Quieto, estamos chegando no hospital. Que merda cara, como você foi deixar isso acontecer?
O Cris estava nervoso e agitado.
----Puta que pariu Cris, não consigo respirar. ---- Eu estava ofegante e meu peito doía muito, meus batimentos estavam acelerados. Sentia muito frio.
---- Só relaxa, o colete segurou a bomba.Voltaremos lá assim que deixar você no hospital. As outras equipes vão continuar na missão. Vamos fazer uma boa faxina essa noite em sua homenagem.
----Eu preciso respirar. Caralho...
O Cris abre o cinto da minha calça, para me dar mais conforto.Não consegui ver quem dirigia mas estava indo rápido.Não consegui mais manter os olhos abertos e uma escuridão tomou conta de mim.
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O caveira e a borboleta
RomanceBárbara Mattos não comemora mais aniversário desde que sofreu uma grande perda no dia que completou 15 anos. Formada em enfermagem e escritora nas horas vagas, ela luta para sobreviver na selva de pedras chamado Rio de janeiro. Seu caminho vai se c...