Capítulo 13

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"Você não tem esse direito".

"Mas no que você estava pensando?"

"PARA, PARA! DE SE METER NA MINHA VIDA"

Essas eram as frases que tia Lisa dizia toda vez que papai acabava contando algo sobre as vidas dos seus novos amigos/pretendentes, eu tinha me esquecido disso, aliás, eu tinha me esquecido da minha vida em Amus, de uma boa parte das coisas, desde há muito tempo papai tem a ideia de que se ele pode ter acesso a base de dados, ele pode ou deve controlar quem entra na vida dos seus próximos. 

Dores, esse é o nome da mãe dela, Luís, o nome do pai, até ao momento mal sabia eu o nome dos pais da pessoa que estou namorando, meu peito escalda, aperta, pica, é uma moléstia, ''ELISABETH!!'' o nome se repete na minha cabeça, ''ELISABETH!!'' escuto a voz do papai me contando tudo o que andou investigando sobre a vida da Edna e se resume em uma sonoridade confusa ecoante:

ELISABETH, POLÍCIA, ELISABETH MORTA, A IRMÃ DELA, MORTA!...

Não sei se empurrei ou me joguei nela, apenas sei que a porta abriu e a frescura de dentro me abraçou.

Pelos corredores de mesa tive que me concentrar, colocar bem os pés no chão, respirar sucessivas vezes revelou-se ineficaz agora, estou sentado há vinte minutos nesse lugar, é um restaurante, cheira a iogurte fresco e bolos quentes, conto apenas dois atendentes escrevendo os pedidos e desaparecendo e aparecendo pela porta que deve dar à cozinha, o sino toca e me faz levantar os olhos para porta, Edna, está usando um casaco preto, quando adentra no meio das pessoas bebericando e mordiscando alguma coisa, me procura com pressa, levanto as mãos e me nota.

– Quem contou para você? – Parece um tornado.

– Não é necessário saber quem foi, Edna. – Olha para o lado com raiva.

– Odeio isso! – Manda, está fervendo desde o momento que falei o nome da Elisabeth, essa versão dela é muito desconfortável para mim interagir.

– Não precisa ficar assim. – Me inclino para frente.

Ela inspira fundo e segura os cabelos. – Essa é uma das partes negras que procuro esconder.

– Todos nós perdemos pessoas, Edna, nós não devíamos compartilhar os medos e inseguranças?

– Isso é diferente... – Defende-se.

– Há mais algo que está escondendo de mim? – Não consigo evitar, ela parece cheia de coisas aí dentro, não quero pensar nela assim, por favor, faça algo para que eu possa tirar essa impressão de você.

– Claro que não... Juro! – Segura minhas mãos. – Eu só acho difícil e acabo desistindo cada vez que tento falar dela. – Seus olhos mostram o quanto isso lhe aflige mas eu sinto uma apatia venenosa por ela.

– Dério. – Segura o meu rosto.

– Não pergunte coisas para os outros quando quiser saber de mim.

– Mas você nunca diz nada.

– Droga, Dério! Você quer que uma garota saia falando "olha eu tenho uma irmã morta e a minha família está p... por isso". – Explode e atira um palavrão no ar, me seguro na cadeira, consigo sentir que todos estão olhando para nossa mesa agora, meu instinto me diz para eu me levantar e ir embora mas tenho a certeza que não conseguiria atravessar esse lugar com tanto de gente me olhando.

– Me desculpa. – Pede. – Desculpa. – Atordoada, diz novamente. E a sensação de ser aquele que sempre arruína as coisas a sua volta bate no meu peito, esse horrível sentimento, faz meses que não o sinto.

Em onze meses da minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora