Capítulo 26

1 1 0
                                    


*****

Segundo dia com Dr. Walter

Terça-feira; Fim do dia.

Paro o carro ao lado da casa da Edna, sua rua está deserta só com algumas pessoas passando. Pela hora ela já deve ter voltado da escola, fico observando a casa à procura de movimentos mas nada da Edna, nem da sua família. Desço do carro e vou até a porta da casa deles, fico em pé de frente à entrada, respiro fundo e quando sinto alguma coragem, levo o dedo até a campainha mas repentinamente minha mão para por alguma razão no meu do caminho e paraliso com o dedo bem perto do botão.

– Não consigo fazer isso. – Abdico num sussurro e recuo os meus passos, me sinto falido nesse momento, isso está me dominando, dou meia volta e decido ir para a janela do quarto dela que fica por detrás da casa, a janela está fechada mas há algum espaço entre as cortinas, é possível ver a porta do quarto que está aberta, tiro o bilhete no meu bolso e coloco ao lado da janela e por cima pouso uma pedra.

Ao regressar no carro, andando pela pequena trilha de relva, os meus olhos começam a se encher rapidamente de lágrima, a tristeza e a raiva se tornaram minhas companhias, aqui não é o lugar para deixar escapar o que está me fazendo sofrer, seguro o choro com força e corro para o carro para ir embora logo.

*****

Edna

Ao entrar no quarto noto que as cortinas não estão endireitadas, há um espaçamento entre elas, Ângela deve ter brincado com Nicola no meu território.

Isso está tão aberto que com certeza quem estiver fora será capaz de ver uma boa parte do quarto.

Vou até à janela, quando pego na cortina vejo uma pedra por cima de um pequeno papel, abro a janela e retiro o papel, ''De onde veio isso?'' Me pergunto, meu coração dá uma batida carregada de um bom pressentimento, desperto minha curiosidade.

Com cuidado, começo a desdobrar o papel, tento desamassar ele, analiso a letra, reconheço ela, é a do Dério, meu coração se sente abraçado por algo quente, começo a ler:

''Essa é a terceira carta que estou tentando escrever, rasguei as outras duas porque nenhuma palavra que estava nelas parecia ser capaz de remediar os estragos que causei na tentativa de te livrar do meu caos, não tenho muito tempo, por isso, nesse bilhete serei breve com você para te poupar da ansiedade e martírio. Já agora, desculpas.

Ao sumir sem mais nem menos eu errei, me tornei o mais perfeito idiota ao ir embora sem dar à você a devida explicação. Não há falácia para justificar o que te fiz passar nos últimos dias mas se ainda vale alguma coisa dizer algo é que não consigo dizer para você como estou, o que sinto neste momento, não consigo dizer para você o que tem me molestado mentalmente nesses últimos dias, isso não é sua culpa, é mais algo meu do que seu e esse sufoco nem é recente, já estive internado mas estou bem há quase onze meses (eu estava bem há quase onze meses). Para te manter protegida da bomba humana que sou, corro para longe mas tudo parece uma luta contra mim mesmo e não quero arrastar você no meu abismo, você sempre foi como uma luz e aqui não há nenhuma luz, apesar disso e de mais outros problemas, no meio dessa toda turbulência você ainda está no meu coração, eu ainda amo você, pode não parecer real mas eu te amo e voltarei''.

Dério.

Assim que termino de ler, pego no celular e insisto mais uma vez em ligar para ele contudo, o número dá desligado, não me decepciono porque isso está ficando normal e estou me habituando porém mesmo assim continua doendo cada vez que as chances de o ter parecem reduzir e ele continua a ficar mais distante a cada dia que passa.

Em onze meses da minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora