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QUATRO DIAS DEPOIS
Empurro a porta pesada de vidro e o sino por cima dele se queixa, num passo estou dentro da pequena loja, o atendente logo tira os seus olhos do livro e lança-os para mim sem o mesmo interesse com que volta a apreciar o livro. Eterna Estação invernal. Vejo o título, me seguro para não comentar sobre.
Me coloco entre as estantes, ele não parece amigável, por isso não considerei cumprimenta-lo, muito bem, o que estou fazendo aqui? Procurando um diário, não sei como se escolhe isso e além do mais quando é para uma menina.
Edna me contou sobre o diário e mais outras mil coisas, até sobre os pesadelos, passei alguns dias pensando em como ajudá-la, não acho que nada que ela esteja fazendo seja saudável.
Como primeiro passo para tudo, agendamos fazer algumas mudanças hoje: carregar suas coisas de volta para o quarto dela, reorganizar elas, muitas coisas podem se passar em noventa e seis horas pelos vistos, não voltamos a falar da caixa, se ela não tocou nesse ponto então, devo deixar por enquanto, até por quê já estamos fazendo alguma coisa e isso é bom.
Meus olhos encontram um caderno bastante decorado e de capa rocha, tiro ela da estante, analiso, tem a cara dela, é bonito, abro e viro as páginas, as folhas são macias, posso dizer que fazem carinhos nos dedos, decido, é esse que vou comprar.
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Edna
– O quarto ficou bonito. – Mamãe comenta, meu pai não diz nada, está bastante entretido com o seu dedo enrolando e desenrolando o cabelo longo da mamãe, gosto quando as coisas estão desse jeito, calmas, numa paz depreciável.
– Ele parece gostar bastante dela. – Escuto a mamãe, lanço um olhar para ela, assim percebo que suas mãos estão segurando uma caneca.
– Gosto dele mas não podemos baixar a guarda.
Papai passa a mão no ombro dela e aproxima-a para perto, termino de limpar os pratos e copos, ouço do lado de fora o barulho de um motor a se aproximar, quando parece que a máquina de combustão irá entrar em casa, o motor desliga, me estico para bisbilhotar da janela, é Dério, é rápido com as compras, melhor do que eu que faço horas procurando sem ler os cartazes pendurados no topo dos corredores.
Ângela e Nicola disputam para abrir a porta quando duas batidas soam, em suas cabecinhas devem estar pensando que é uma de suas amigas, voltam desapontadas e se jogando no sofá. Me livro dos meus trapos de trabalhadora de casa e vou até a sala, quando o vejo nada dissemos, nos dirigimos para o novo antigo quarto.
– Porta aberta. – Papai exige da sala e as minhas irmãs soltam os seus risos irritantes.
– Eu tenho uma surpresa. – Se coloca afrente da porta, noto que está com as mãos escondidas atrás das costas.
– O que é?! – Tento espreitar, mas recusa-se a mostrar sem fazer suspense.
– Um novo membro, não sei, isso seria estranho... Vamos chamar ele de amigo, sim. – Está conversando consigo mesmo, rio disso.
– Para e me mostre, Dério. – Peço, segura um sorriso junto de uma careta bem engraçada, me lembra Jim Carrey e suas caras.
– Voilá! – Exibe um caderno de capa rocha e flores estampadas, um livrete volumoso.
– Um caderno? – Indago. Aborrecido, revira os olhos e bufa, despercebo o que será o objeto senão mais que um caderno.
– Um diário. – Senta ao meu lado. – Será nosso, você tem mais de cem páginas no diário da Elisabeth, isso é fantástico. – Não acho que seja fantástico continuar o diário de sua irmã pensando que ela poderá ver os dias mesmo após sua morte.
– Talvez você seja escritora e eu nem saiba. – Pensa em voz alta, me leva junto nessa suposição.
– Não, não acho. – Nego, se escrever sobre problemas fosse um hobbie para todos os humanos da terra, todos nós seríamos escritores.
– Ainda é cedo para dizer não. – Optimista, ressalva o ponto, arranco o diário de suas mãos, o observo, escolheu um bonito.
– Obrigada. – Digo.
– Você não tem de que. – Sorri para mim, meu rosto cora automaticamente e faz meus olhos caírem no objeto em minhas mãos feito de muito papel empilhado, me lembro que seria justo darmos juntos um nome a ele, eu serei a dona e ele obviamente tem o direito de participar nessa cerimonia por ter me dado.
– Como vamos chamar ele?
– Está se referindo ao diário? – Estranha apontando nele.
– Sim. – Demoro para responder.
Ri nasalmente. – Não sei, não dou nome a objectos. – Chamaria-o de ignorante por magoar-me tão despropositadamente.
Respiro fundo. – Este diário provavelmente nos acompanhará por anos. – Exibo a quantidade de folhas. – Deve ter um nome. – Exijo. – Vamos dar um nome a ele.
– Eu gosto de coisas autenticas. – Recita uma das minhas falas, sorrio.
– Então? – Incito.
Busco por alguma coisa. – E se for Orwell?
– Orwell? De 1984?
– Sim.
– Não precisa estar relacionado a literatura, muito clichê.
– Eu amo clichês. – Desafia-me.
– Será nosso, devemos concordar.
– Tudo bem. – Levanta as mãos em redenção. – Fica com você, porque já estou pensando em chamar ele de Ahern.
– Não conheço esse escritor. – Falo.
– Cecilia Ahern, P.S: Eu amo você. – Descodifica, mesmo assim, não me recordo de nada.
– Agendar para outro dia a apresentação de Cecilia Ahern à Edna. – Finge que uma das suas mãos é uma caneta e a outra é um bloco de notas, seguro a risada.
– Agora... Força, busque um nome. – Pede.
Vasculho na minha biblioteca mental, Frank, não, Yosef, não, Charles, nem pensar, Charles? Nome de garoto nerd descolado, cruzes! Cascão?! Como o mundo da Mônica veio parar aqui? Pressiono a testa, encontrar um nome é bem mais difícil.
– Chaver... – Diz do nada.
– Chaver?
– Sim, Chaver, amigo em Hebraico.
– Você fala hebraíco? – Indago surpresa.
– Eu vi no Google. – Levanta o telefone, não suporto, rio.
– Então... Será Chaver! – Digo, me aproximo um pouco da mesinha ao pé da minha antiga nova cama, pego na caneta, afasto a capa do diário e do lado de dentro escrevo em letras delicadas "Chaver".
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Em onze meses da minha vida
Teen FictionTodo romance não traz apenas os seus encantos naturais no pacote mas também o perigo eminente. Ao conhecer Edna, Dério experimenta uma incontrolável avalanche de sentimentos que apesar de toda beleza arrebatadora, tornam-se assustadores ao trazerem...