𝐻𝑒𝑐𝑡𝑜𝑟 𝐺𝑟𝑎𝑣𝑒𝑠
Entrei na Galeria com uma irritação que consumia cada fibra do meu corpo - o que acabou por me irritar ainda mais. - Apesar do que muitos poderiam imaginar, tenho a paciência de um santo. Emoções à flor da pele são um incômodo, um obstáculo que serviria apenas para complicar ainda mais o meu trabalho, assim como a multidão incomum que perambulava pelo prédio.
Maldito Edgar, aquele porco sabia que eu viria por ele após sua ousadia de ignorar meu primeiro e único aviso, e como um ratinho assustado, decidiu se esconder aqui, onde teria todos os presentes como testemunhas caso eu tentasse algo contra sua vida miserável.
Por mais que eu odeie admitir, foi uma escolha inteligente.
A presença de testemunhas não me intimida por motivos de respeito ou medo das leis humanas. Eu poderia manipular um tribunal inteiro em segundos se quisesse, e adoraria ter todos os visitantes desta exposição insignificante como espectadores, enquanto me divirto arrancando as entranhas de Edgar fodido Campbell, como um lembrete do que acontece com aqueles que se acham espertos o suficiente para me passar a perna e sair impunes. Iludidos do caralho.
Não, eu não dou a mínima para a justiça ou qualquer uma dessas merdas. A única coisa me impedindo de reduzir esse prédio a cinzas e destroçar Edgar na frente de todos, é o quão inconveniente seria toda essa atenção indesejada. Para todos os efeitos, sou apenas um homem comum de vinte e cinco anos que só teve muita sorte ao conseguir transformar a casa de apostas decadente da avenida, no maior Cassino que Mistwood já viu. Todo o sucesso do Hell's Dice se deu puramente pela minha mentalidade visionária e talento com os negócios, e não pelos sigilos discretos espalhados por todo o prédio, ou pelas cartas de Pôquer e dados amaldiçoados que transformam qualquer um com a mente fraca o bastante, em um viciado disposto a apostar a própria vida para continuar jogando. Se quiser manter essa vida dupla, vivendo como um humano enquanto corrompo almas e as levo para o inferno, preciso manter a discrição.
Passei pela entrada principal e fui imediatamente bombardeado pelo turbilhão de luzes incessantes que me cercavam de todos os lados. As auras das pessoas, embora discretas e sutis quando vistas de maneira individual, formavam um caos visual quase que insuportável quando se acumulavam em multidão. Cada aura emitia um brilho suave, como uma névoa luminosa pairando em volta de cada uma das pessoas em cores e formas que variavam conforme seu estado de humor. O efeito cumulativo beirava o insuportável, a sensação de estar mergulhado em um caleidoscópio interminável tornava quase impossível me concentrar em qualquer coisa além do inferno de claridade ao meu redor. Eu já esperava que seria assim, no entanto, a cacofonia de desordem luminosa nunca falha em sobrecarregar meus sentidos.
Maldita multidão. Maldito Edgar.
Como se já não fosse o suficiente ser obrigado a fazer meu trabalho rapidamente a fim de não chamar atenção, ainda preciso lidar com esse show de luzes do caralho. Estou irritado, porra.
Vou matá-lo.
Bem, eu pretendia fazer isso de qualquer forma.
Passo os olhos pelo corredor amplo rapidamente, procurando alguém que possa me dar a informação que preciso.
E é então que vejo.
É quase imperceptível em meio a todo o caos visual do ambiente, e eu provavelmente não a teria notado se não fosse pelas pinturas excêntricas expostas na parede de mármore branco a suas costas. Grotescas. Destoando de todas as outras obras coloridas e pouco originais enfeitando o corredor. Uma quebra de padrão. Assim como ela. O único ponto não-luminoso da sala.
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Made In Heaven • Dark Romance
RomanceNem todo vilão nasce no inferno, alguns caem do céu. Victoria sempre soube que o poder corria em suas veias, mas nunca imaginou o preço que pagaria por isso. A vista de todos, Victoria Morrigan leva uma vida comum tentando ganhar reconhecimento por...