Quebrados

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Apesar do fino fio gelado que subia pela sua espinha, a donzela Tyrrell manteve a postura firme. Olhou para O Esfinge sem medo.

— Se nos matar — avisou Margaery, enrouquecida —, haverá guardas…

— Pouco me importa — retrucou Alleras, com seu contralto macio, falando rápido, num tom musical, como era de praste do sotaque dornês. — Perdi tudo, perdi todos, nada tenho a temer a morte.

O Esfinge posicionou-se para o ataque; a lâmina do punhal em uma das mãos, o corpo solto e ereto, olhos cravados em Petyr. O rosto feminino do algoz era belo, escuro, duro, e, de algum modo, suave.

Margaery não sabia o que fazer, mas tentou tomar um pouco de autocontrole para si. Petyr vacilou, olhando para o celerado serpentiforme a alguns metros a sua frente. Seus olhos cansados pareciam analisar a situação, provavelmente procurando uma forma de driblar aquela adversidade, desesperadamente.

Ysilla estava quieta, colada de costas na parede cinzenta, fitando para Alleras. Parecia calma, entretanto. A única prova de nervosismo era a óbvia respiração profunda que ela fazia.

Silêncio. Todos se entreolhavam, relanceando olhares nervosos uns aos outros, sem saber o que veria a seguir, como se esperassem que alguém fizesse algo.

Margaery sabia que O Esfinge poderia matar a todos, assim como apenas podia matar quem queria e partir; um simples lance da lâmina, pronto, Petyr estaria morto. Quanto às outras duas, podia apenas deixá-las em paz; mas duvidava de tal possibilidade — todos estavam afundados até o pescoço naquela trama.

O tempo se estendeu, embora Margaery nem soubesse dizer o quanto (uma hora, um instante, que diferença faria? A agonia de tudo aquilo deixou-os abstraídos do tempo que se passava, parecendo que estavam eternamente parados, só aguardando o próximo momento que nunca dava as caras).

Por que Alleras nada fazia? Bem podia já ter acabado com tudo aquilo; entretanto, os olhos estavam arregalados, o rosto brilhava pela perspiração. Ele parecia escrutinar o rosto de todos, pensando… pensando…

(Pensando o quê?)

Vendo que tempo demais havia passado, Margaery abriu a boca para falar, já seca novamente, ignorando o laço invisível em volta do pescoço. Entretanto, não a voz dela que se fez ouvir:

— Alleras — Ysilla tinha a voz suave, mas séria —, não faça isso conosco, ainda pode-mo-lhes ser útil…

— Cala a boca! — Alleras a interrompeu, berrando, expondo a irritabilidade que tinha, mas não olhou para ela. Margaery o viu engolir seco. Ele deu dois passos para frente, fazendo Petyr tentar dar um passo para trás, mas esbarrando na cama. O Esfinge não lhe tirou os olhos dele em nenhum momento. — Não sabe o que sinto.

— Nossa trama ainda não teve fim — Margaery falou, finalmente tendo voz, mesmo que fraca. Usou um pouco de coragem para levantar-se da cama, ficando ereta. — Nossas tramas deram frutos… ainda podemos…

— Cala-te também, sua cadela! — ordenou-lhe. — Você também está na minha mira!

Margaery se calou. A cólera na voz era palpável; ele iria matá-la. Engoliu seco e voltou a assentar-se levemente na beirada do colchão. Que chance teria? Nenhuma.

— Margaery está certa — Ysilla ecoou. Sua voz parecia firme, embora o rosto não estivesse tão calmo quanto ela queria transparecer que estava. — Marwyn se foi, Sansa está numa situação desgostosa, a opinião sobre Daenerys não melhorou. Ainda podemos fazer o plano funcionar, Alleras.

Lentamente, ele relanceou o olhar escuro para ela, como se tivesse disposto a ouvir o que ela tinha a dizer.

Margaery fez o mesmo, olhando-a com leve curiosidade; era hora de ver se essa moça era mesmo inteligente ou incompetente. Suas vidas estavam nas pequenas e frágeis mãos de Ysilla.

Margaery Tyrell: A Rosa de Highgarden.🌹Onde histórias criam vida. Descubra agora