eighth

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Letycia
10:00 am

Hoje a gente vai Igaratá junto com os meninos passar o final de ano, então eu tava arrumando minha bolsa,não tava levando muita coisa pois só iríamos passar 5 dias lá

- já terminou de arrumar sua bolsa irmã? - perguntou a Lívia

- acabei de terminar livs - eu respondi ela

Eu termino de arrumar minhas coisas e desço vendo o nino e o kabrinha lá.

- eai cunhada —  o nino vem e me dá um abraço na qual eu retribuo.

Já o kabrinha não olha nem na minha cara.

Ué? Eu fiz alguma coisa ?.

Eu vou indo até o carro da Lívia e coloco minha mala lá.

Irmãs eu vou contextualizar aqui uma coisa eu e o Gustavo estávamos brigando muito sabe, aí eu optei por terminar por causa dessas brigas e terminamos amigos e tals.

Só que ele simplesmente está me ignorando.

Eu respiro fundo e finjo que nada tá acontecendo, mas por dentro tá tudo meio confuso.
Como assim ele nem olha mais na minha cara? A gente terminou bem, conversamos, ficou tudo certo — pelo menos era o que eu achava.

Eu entro no carro e fico mexendo no celular pra não ter que encarar ninguém. A Lívia entra logo depois, animada como sempre.

— Pronta pra cinco dias de paz e confusão? — ela ri, colocando o cinto.
— Paz eu não sei, mas confusão já começou — respondo meio rindo, meio tentando disfarçar.

O Nino entra no banco da frente e o Kabrinha senta atrás, do meu lado. Juro que eu senti o clima mudar na hora. Um silêncio absurdo, e o som do carro parecia até mais alto só pra preencher o vazio.

Ele coloca o fone, encosta na janela e finge que eu nem existo.
Tá bom então, Gustavo. Se é guerra fria que você quer, é guerra fria que vai ter.

Durante o caminho, eu até tentei dormir, mas não dava. Cada risadinha dele com o Nino parecia me cutucar. E eu ali, quieta, olhando pela janela, lembrando de tudo o que a gente viveu e tentando entender em que momento ele decidiu me apagar da vida dele.

Mas quer saber?
Se ele quer agir assim, eu também sei ser fria.
Talvez esses cinco dias em Igaratá me façam enxergar o que eu realmente quero…
ou quem eu realmente devo deixar pra trás

O carro segue viagem, e cada quilômetro parece aumentar o peso dentro do peito. A Lívia e o Nino ficam rindo de alguma coisa na frente, e eu só observo a paisagem passando rápido pela janela. As árvores, os carros, o sol forte batendo no vidro — tudo parece igual, menos o jeito dele comigo.

Do nada, o Kabrinha tira o fone e pega o celular. Ele começa a rir baixinho de algo que o Nino mostra, e o som da risada dele me acerta em cheio. Era uma risada que antes era minha. Que antes eu fazia ele dar. Agora é só... silêncio entre a gente.

Respiro fundo, encosto a cabeça no banco e tento me distrair, mas não dá. Minha mente insiste em voltar pras nossas brigas, pras conversas de madrugada, pra última vez que ele me abraçou dizendo que mesmo separados, ele ainda se importava.
Mentira, né? Porque quem se importa não trata o outro como se fosse invisível.

Depois de um tempo, paramos num posto pra esticar as pernas. A Lívia desce com o Nino pra comprar água, e eu fico ali, mexendo no celular pra parecer ocupada. O Kabrinha desce também, mas antes de sair, ele fala pela primeira vez o dia inteiro:

— Fecha a porta pra mim.

Só isso. Nenhum “oi”, nenhum “tudo bem”. Só isso.
E, mesmo assim, minha mão tremeu. Ridículo, eu sei. Mas ouvir a voz dele de novo me bagunçou.

Quando todo mundo volta pro carro, ele senta de novo do meu lado, só que dessa vez, o braço dele encosta de leve no meu. Eu juro que tentei não olhar, mas meu coração já tinha disparado.

“Não, Letycia. Não começa.”
Mas já era tarde.

Chegamos em Igaratá no fim da tarde. A casa era linda, enorme, de frente pra represa. O sol se pondo deixava o céu alaranjado, e a brisa leve parecia prometer um descanso… mas o clima entre mim e ele dizia o contrário.

Assim que entramos, a Lívia gritou:
— Esse quarto é meu e da Lety!

E lá fui eu ajudar a descarregar as malas. O Kabrinha passou por mim no corredor e o braço dele roçou no meu de novo. Foi rápido, mas o suficiente pra arrepiar tudo.
Olhei pra ele, esperando algum sinal, um sorriso, qualquer coisa. Mas nada. Ele apenas desviou o olhar e entrou no quarto ao lado.

Naquela hora, eu percebi: ignorar também era uma forma de castigo.

Mais tarde, já na varanda, eu fiquei sozinha olhando a lua refletindo na água. O barulho dos grilos, o vento batendo leve no rosto… tudo parecia calmo demais pra dentro de mim estar tão confuso.

— Ainda pensa em mim, né? — ouvi a voz dele atrás de mim.

Meu coração gelou.
Virei devagar e ele estava ali, encostado na porta, com aquele olhar que eu fingia não sentir falta.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria? — perguntei.

Ele deu um meio sorriso, mas logo abaixou a cabeça.
— A gente se perdeu no meio das brigas, Lety… e eu não soube lidar.

Por um segundo, eu vi o mesmo garoto que eu gostava, o mesmo que me fazia rir por qualquer coisa. Mas também lembrei de tudo o que me fez ir embora.

— Eu também errei, Gus. Só que não dá pra consertar tudo em cinco dias.

Ele suspirou e se aproximou um pouco.
— Então me deixa tentar, pelo menos enquanto a gente tá aqui.

O silêncio tomou conta por alguns segundos, até que eu respondi:
— Tá bom. Mas sem prometer nada.

Ele sorriu de canto, do jeito que sempre fazia quando sabia que eu tava cedendo.

E foi assim que começou: cinco dias em Igaratá, cinco dias dividindo o mesmo ar que alguém que eu jurei esquecer.

Mas no fundo, eu já sabia — nada ali ia ser tão simples.

𝐼𝑛𝑒𝑣𝑖𝑡𝑎𝑣𝑒𝑙||ℳℯ𝓃ℴ 𝓀𝒶𝒷𝓇𝒾𝓃𝒽𝒶Onde histórias criam vida. Descubra agora