flashback
Entrei no apartamento do Gustavo sem bater; a porta já estava entreaberta. Meu corpo tremia por dentro, não sei se de frio ou de raiva.
— A gente precisa conversar — falei sem rodeios, jogando a bolsa na mesa.
Ele levantou a cabeça do sofá como se tivesse sido puxado de um transe. Tinha cara de sono, mas os olhos estavam atentos. Por um segundo achei que ia tentar me acalmar. Não aconteceu.
— Já sei sobre o que é — disse ele, seco.
— Então você confirma? — cortei. — Que saiu com a Thainá Castanheira?
O silêncio foi uma lâmina. Ele empurrou o copo de água com força.
— Que absurdo. Não saiu nada com a Thainá. Foi só conversa, ponto.
— Só conversa? — levantei a voz, e a casa inteira pareceu encolher. — Me poupe, Gus. Tem foto, tem vídeo, tem gente falando que você saiu do braço dela, que ela te levou pra tomar café depois do pub!
Ele levantou de uma vez, os olhos faiscando. — Foto? Mostra. Onde tá isso?
— No grupo da faculdade, no Stories, no zap — respondi, apertando os dedos até doer. — Eu não sou cega, não suporto mais viver essa sombra.
Ele bateu a mão na mesa, e a taça tilintou. — Você sempre faz isso: vê um comentário e já vira um terremoto. Eu estava com o Nino e com o pessoal — tava todo mundo lá. A Thainá conversou com a gente, deu risada, é atriz, ela conversa com geral. E aí um idiota confirmou o boato num tweet e pronto: viralizou.
— Quem? — minha voz saiu fina, cortante.
Gustavo jogou o celular na mesa. Abriu uma thread, mostrou um print. O print tinha cara de montagem. Mensagem marcada como “repost de @fulanodafaculdade”: “Vi o Gus e a Thainá agarrados no pub ontem, que casal, viu”. Abaixo, comentários rindo, corações, e um vídeo de 4 segundos cortado que mostrava alguém de costas rindo ao lado de uma mulher com cabelo claro — dava pra jurar que era ela, mas não dava pra ver o rosto.
— Isso é montagem — ele falou. — Alguém cortou o vídeo, colocou legenda. Vocês sabem como é São Paulo, todo mundo tira foto sem pedir. Eu fiquei puto quando vi. Tentei falar com a Thainá pra ela desmentir, mas ela tem dor de cabeça com esses haters. Não quis exposição.
— Ah, então é sempre “exposição”, né? — rebati. — Você some, não me conta nada, e depois é culpa dos outros.
Ele riu, um riso ácido. — Você quer que eu ande com uma plaquinha: “Estou acompanhado da minha namorada”? Pára com isso, Lety.
— Uhum — respondi, mordaz. — E quando foi que eu virei um relatório que você precisa justificar?
Ele veio pra cima, bem perto. — Porque você transforma tudo em guerra! Você provoca, você cutuca... E quando a situação explode, você quer que eu peça desculpas a você?
— Porque eu cansei de fingir que nada me atinge, Gus! — gritei. — Você não tem ideia de como é ver seu nome envolvido com essas idiotices. Eu perdi uma noite de sono inteira lendo o que falavam de você — e de mim por tabela.
A conversa virou briga. Palavras pesadas voaram: traição, mentira, orgulho, dúvida. Ele me chamou de controladora; eu disse que ele era irresponsável. Bateu aquele tipo de raiva que dói no peito e deixa a garganta seca.
— Pode sair com quem quiser — eu disse, voz trêmula — mas não venha depois querer que eu aplauda. Se não quer que eu me sinta traída, faz por onde.
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𝐼𝑛𝑒𝑣𝑖𝑡𝑎𝑣𝑒𝑙||ℳℯ𝓃ℴ 𝓀𝒶𝒷𝓇𝒾𝓃𝒽𝒶
Fanfiction𝑂𝑛𝑑𝑒 𝑘𝑎𝑏𝑟𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑠𝑒 𝑎𝑝𝑎𝑖𝑥𝑜𝑛𝑎 𝑛𝑎 𝑐𝑢𝑛ℎ𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑜 𝑠𝑒𝑢 𝑎𝑚𝑖𝑔𝑜 𝑛𝑖𝑛𝑜 𝑎𝑏𝑟𝑎𝑣𝑎𝑛𝑒𝑙
