O encontro das sombras Internas

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Introdução.

Quando vi a imagem, a observei por horas a fio, e refleti muito sobre conflitos internos que às vezes temos com nós mesmos,
Acredito que dentro de cada ser humano reside um universo de sentimentos e experiências, muitos dos quais permanecem ocultos, trancados nas profundezas do inconsciente. Às vezes, a vida nos leva a momentos de introspecção profunda, onde somos forçados a confrontar essas partes escondidas de nós mesmos. Este pequeno conto é sobre um desses encontros internos, onde nos deparamos com  outra versão de nós mesmos,  um pequeno reflexo dos sentimentos que há muito tentamos reprimir ou esquecer.

A vocês uma boa leitura.

Em um vazio absoluto, sem paredes, sem teto, sem chão, duas figuras emergem do nada, como reflexos de um espelho quebrado. Ambas são esboços da mesma pessoa, mas carregam em si o peso de universos diferentes. Uma se move com cautela, como se cada passo fosse dado sobre cacos de vidro, enquanto a outra permanece imóvel, observando, esperando.

Este não era um encontro qualquer. Era um embate silencioso entre versões de um mesmo ser, uma batalha travada nas profundezas do subconsciente, onde os segredos mais sombrios e os sentimentos mais ocultos se encontram. As duas figuras eram a mesma pessoa, mas ao mesmo tempo, eram diferentes em essência e propósito.

A primeira figura, de cabelos soltos e postura rígida, representava a versão exterior, aquela que o mundo conhecia. Seus olhos, encobertos por uma franja, revelavam pouco de suas verdadeiras emoções, escondendo-se atrás de uma fachada cuidadosamente construída ao longo dos anos. Ela era a face visível, a parte que havia aprendido a sobreviver, a manter as aparências, a resistir ao peso das expectativas e das pressões da vida.

A segunda figura, por outro lado, era a personificação de todos os sentimentos reprimidos, os desejos não expressos, as mágoas não curadas. Sua presença era etérea, quase translúcida, como um sussurro na escuridão. Ela era o reflexo das verdades que haviam sido sufocadas, das lágrimas que nunca foram derramadas, do grito que nunca encontrou voz.

As duas se encontraram em um vazio sem forma, onde o tempo não existia. Era um lugar que não pertencia ao mundo real, mas sim ao reino das emoções e pensamentos enterrados. Um espaço onde a luz e a escuridão se misturavam, criando sombras profundas que dançavam ao redor das figuras.

A figura exterior, a primeira, manteve a cabeça erguida, mas por dentro, ela tremia. Havia uma sensação de desconforto, de vulnerabilidade ao estar diante daquilo que tanto se esforçará para manter trancado. Encarar essa versão oculta de si mesma era como olhar diretamente para um espelho que mostrava não apenas a superfície, mas também as rachaduras profundas que corriam por baixo.

- Por que agora?  - A figura exterior finalmente perguntou, sua voz ecoando no vazio, carregada de incerteza.

A figura interna, a segunda, respondeu com um silêncio pesado, quase palpável. Não havia necessidade de palavras, porque a resposta estava clara — Este encontro era inevitável. Não era uma questão de tempo, mas de necessidade. A pressão dos sentimentos reprimidos havia se tornado insuportável, exigindo um confronto.

O que se seguiu foi um diálogo mudo, feito de olhares intensos e gestos sutis. A figura exterior queria resistir, queria se afastar, mas algo dentro dela a mantinha ali, enraizada no lugar. Ela sabia que fugir não resolveria nada; já havia fugido por tempo demais. O peso das emoções reprimidas havia se tornado uma âncora que a impedia de seguir em frente.

- Você não pode me ignorar para sempre.  -  Parecia dizer a figura interna, seu olhar penetrante perfuravam as defesas cuidadosamente construídas pela outra.

O confronto era doloroso, uma guerra interna onde não havia vencedores. A figura exterior começou a sentir as defesas desmoronando, tijolo por tijolo, até que restava apenas a verdade nua e crua. Lágrimas invisíveis escorriam por dentro, enquanto ela enfrentava as realidades que tanto tentará negar.

A dor, o medo, a tristeza. — Todos os sentimentos que haviam sido empurrados para os recantos mais profundos de sua mente agora estavam diante dela, inescapáveis. A figura interna, que antes parecia uma sombra distante, agora estava perto o suficiente para tocar. E ao invés de repulsa, a figura exterior sentiu uma inesperada familiaridade, uma aceitação que começava a surgir lentamente.

Era como se, naquele momento, as duas figuras começassem a se fundir, deixando de ser duas partes separadas e voltando a ser um único ser. Mas não sem antes confrontar cada pedaço de dor, cada emoção não resolvida.

- Eu sou você.  -  Disse finalmente a figura interna, sua voz suave, mas firme. - E você sou eu.

E com essas palavras, o vazio ao redor delas começou a mudar. O espaço branco se preencheu com cores suaves, tons que representavam a cura, a aceitação e a reconciliação. A figura exterior sentiu um alívio inesperado ao permitir que essas emoções finalmente viessem à tona, sentindo o peso se dissipar, o fardo que ela havia carregado por tanto tempo finalmente se aliviar.

O encontro das sombras internas não foi fácil, mas era necessário. Era o primeiro passo em direção à cura, ao perdão de si mesma. A figura exterior sabia que, dali em diante, o caminho não seria mais tão solitário. Ela agora entendia que, para seguir em frente, precisava aceitar e integrar todas as partes de si mesma, até aquelas que eram dolorosas de encarar.

E assim, as duas versões se fundiram em uma só, deixando para trás o vazio branco e silencioso. Quando a figura exterior abriu os olhos novamente, não estava mais naquele lugar. Estava no mundo real, mas algo havia mudado. Havia uma nova leveza em seus passos, uma clareza em seus pensamentos.

Ela havia se reencontrado, não com outra pessoa, mas consigo mesma. E nesse reencontro, havia descoberto a força que sempre esteve lá, escondida nas profundezas, esperando para ser reconhecida.

Catherine Cabral
autora_caah

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