II

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A luz que me atraiu.

Erick estava dirigindo pela costa, observando a paisagem mudar à medida que se aproximava da pequena cidade à beira-mar. Vila das Estrelas, um lugar que ele mal conhecia, mas que sentia como se já fizesse parte de sua vida. Algo o atraíra para lá, uma força invisível que ele não conseguia explicar, mas que o impulsionara a deixar tudo para trás e seguir em direção ao desconhecido.

Nos últimos meses, Erick havia se sentido inquieto, como se estivesse preso em uma vida que não era realmente sua. O trabalho como fotógrafo, que antes lhe dava tanto prazer, agora parecia sem propósito. Ele viajava pelo mundo, capturando imagens que fascinavam os outros, mas para ele, as fotografias eram apenas reflexos vazios de algo que ele não conseguia mais sentir. Havia perdido a conexão com o que realmente importava, e isso o atormentava.

Foi em uma dessas noites de insônia que a ideia de viajar para Vila das Estrelas surgiu. Não havia nada de especial naquele lugar, pelo menos nada que ele soubesse. Mas algo dentro dele dizia que precisava ir, que havia algo lá que ele precisava ver, capturar, ou talvez... entender.

Quando Erick finalmente chegou à cidade, sentiu uma estranha sensação de paz. Era como se aquele lugar o estivesse esperando. Ele estacionou o carro perto da praia e saiu, respirando fundo o ar salgado. O céu estava limpo, e as estrelas brilhavam como nunca tinha visto antes. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha, como se o próprio universo estivesse sussurrando para ele.

"Por que aqui?" perguntou a si mesmo, olhando para as estrelas, mas sem esperar uma resposta. Ele pegou sua câmera do banco do passageiro, ajustou a lente e começou a tirar algumas fotos do céu. Mas, por mais belas que fossem as imagens, ainda pareciam vazias para ele.

Erick sentou-se na areia, deixando a câmera de lado, e observou o oceano. As ondas iam e vinham, em um ritmo que quase o hipnotizava. Ele fechou os olhos e deixou que o som do mar o envolvesse. Por um momento, ele se permitiu simplesmente estar ali, sem pensar em nada, sem tentar encontrar sentido em tudo aquilo.

Quando finalmente abriu os olhos, Erick viu algo que o fez parar. Havia uma luz ao longe, um brilho fraco que se destacava na escuridão. Não era a luz de uma casa ou de um barco, mas algo diferente, algo que parecia estar chamando por ele. Pegou a câmera instintivamente, mas, em vez de tirar uma foto, decidiu seguir a luz.

Ele caminhou pela areia, seus passos silenciosos como se temesse quebrar o feitiço daquele momento. Quanto mais se aproximava, mais claro ficava o brilho. Quando finalmente chegou à origem da luz, parou abruptamente. Ali, sentada na areia, estava uma jovem mulher, olhando para o céu com uma expressão de profunda contemplação. Ela parecia tão absorta que não notou a presença dele.

Erick sentiu seu coração acelerar. Não sabia por que, mas sentiu uma conexão imediata com aquela mulher. Algo nela o atraía, algo que ele não conseguia explicar. Talvez fosse a serenidade em sua expressão, ou a maneira como as estrelas pareciam refletir em seus olhos. Ou talvez fosse o fato de que, de alguma forma, ele sentia que ela estava ali pelo mesmo motivo que ele.

"Com licença," ele disse finalmente, a voz saindo mais suave do que pretendia. A jovem mulher virou-se rapidamente, surpresa, mas não parecia assustada. Havia algo nos olhos dela, algo que o fez sentir que ela também o reconhecia, embora eles nunca tivessem se encontrado antes.

"Oi," ela respondeu, sua voz baixa, quase como um sussurro. Erick notou que ela segurava algo no colo, um livro ou um caderno, ele não conseguia ver claramente no escuro. "Você está perdido?"

Erick sorriu de lado. "Eu... não sei. Talvez." Ele se sentou na areia, a uma distância respeitosa dela. "Eu sou fotógrafo. Estava tirando algumas fotos da praia e vi essa luz... você." Ele gesticulou vagamente para ela, tentando explicar o inexplicável.

Ela olhou para ele, avaliando suas palavras. "Meu nome é Heloisa," disse, depois de um momento. "E você?"

"Erick," ele respondeu. Por um instante, eles ficaram em silêncio, o som das ondas preenchendo o espaço entre eles.

"Você parece estar procurando algo," Heloisa comentou, sem desviar o olhar. "Mas não sei se é uma foto."

Ele assentiu, surpreso com a percepção dela. "É verdade. Eu... sinto que estou em busca de algo, mas não sei exatamente o quê." Ele olhou para o céu novamente. "As estrelas... sempre me fascinaram, mas ultimamente, é como se elas estivessem tentando me dizer algo."

Heloisa sorriu suavemente, como se entendesse exatamente o que ele queria dizer. "Minha avó costumava dizer que as estrelas têm respostas para aqueles que sabem como procurar. Eu nunca levei isso muito a sério, até agora."

Erick sentiu uma faísca de curiosidade. "Sua avó? Ela também era fascinada pelas estrelas?"

"Sim," Heloisa respondeu, com um toque de tristeza na voz. "Ela faleceu recentemente, mas deixou algo para mim. Um diário... com uma frase enigmática sobre as estrelas. Desde então, venho tentando descobrir o que ela queria que eu visse."

Erick sentiu seu coração apertar ao ouvir isso. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sentia que o destino os tinha levado até ali, juntos, por um motivo. "Talvez possamos ajudar um ao outro," ele sugeriu, sem saber ao certo por que disse aquilo, mas sentindo que era a coisa certa a dizer.

Heloisa olhou para ele, e por um momento, pareceu considerar a proposta. "Talvez," ela disse finalmente, com um leve sorriso nos lábios. "Talvez você tenha razão."

Eles ficaram ali, lado a lado, em silêncio, enquanto as estrelas continuavam a brilhar intensamente acima deles. Erick não sabia o que o futuro reservava, mas pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava exatamente onde deveria estar. E, de alguma forma, soube que aquela noite era apenas o começo de algo maior, algo que ele ainda não conseguia compreender, mas que o enchia de uma esperança silenciosa.

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