III

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Caminhos entrelaçados

Na manhã seguinte, o sol nasceu calmamente sobre Vila das Estrelas, espalhando uma luz suave que iluminava a pequena cidade à beira-mar. Heloisa acordou com a sensação de que algo em sua vida estava prestes a mudar, embora ainda não soubesse exatamente o quê. A noite anterior continuava viva em sua mente—o encontro com Erick, o fotógrafo enigmático que, como ela, parecia estar em busca de algo mais profundo.

Heloisa desceu as escadas da casa em silêncio, encontrando conforto na rotina matinal. Preparou uma xícara de café e sentou-se na varanda, onde a brisa fresca do mar tocava seu rosto. Com o diário em mãos, ela relia a frase deixada por sua avó: *"As respostas que você procura estão nas estrelas."* Suspirou, ainda sem saber como interpretar aquelas palavras.

O som de passos na areia chamou sua atenção. Levantando o olhar, ela viu Erick caminhando em direção à sua casa. Ele carregava sua câmera no ombro, e um sorriso tímido brincava em seus lábios. Heloisa sentiu seu coração acelerar levemente, surpresa pela rapidez com que ele voltara a aparecer.

"Bom dia," ele cumprimentou, parando perto da varanda. "Espero não estar incomodando."

"De jeito nenhum," Heloisa respondeu, sorrindo de volta. "Você está acordado cedo. Já começou a tirar fotos?"

Erick deu de ombros. "Ainda não. Pensei em explorar a cidade primeiro, conhecer melhor o lugar. E, bem, também queria conversar com você. Sobre ontem."

Ela assentiu, convidando-o com um gesto a se sentar ao seu lado na varanda. Erick aceitou, colocando a câmera sobre a mesa.

"Você já descobriu algo novo?" Erick perguntou, apontando para o diário que Heloisa ainda segurava.

"Não exatamente," ela admitiu. "Ainda estou tentando entender o que minha avó queria que eu visse. Mas, de alguma forma, sinto que o encontro com você faz parte disso."

Erick inclinou a cabeça, pensativo. "Eu também sinto isso. Há algo... incomum aqui. Como se tudo estivesse conectado. Talvez seja apenas minha imaginação, mas é uma sensação forte."

Heloisa sorriu, gostando do fato de que ele compreendia o que ela estava passando. "Minha avó sempre acreditou que as estrelas guiavam as almas perdidas. E, sinceramente, desde que ela se foi, tenho me sentido um pouco perdida."

"Eu entendo," disse Erick, olhando para o mar. "Tenho me sentido assim por um tempo também. Viajo o mundo inteiro, mas ultimamente, parece que estou procurando por algo que não consigo encontrar. Então, vim parar aqui, sem saber o motivo."

Heloisa o observou por um momento, sentindo uma conexão crescente. "Você acredita no destino, Erick? Que as coisas acontecem por um motivo?"

Ele sorriu levemente, pensativo. "Eu costumava ser cético em relação a essas coisas. Mas agora, não tenho tanta certeza. Pode ser que haja algo maior nos guiando, algo que não conseguimos ver."

"Pode ser," Heloisa concordou. Ela fez uma pausa, reunindo coragem para compartilhar mais de seus pensamentos. "Eu queria te mostrar algo," disse ela, abrindo o diário e revelando a página em branco, exceto pela frase escrita. "Foi isso que minha avó deixou para mim. A única coisa escrita no diário."

Erick olhou para a página, sua expressão se tornando séria. "As respostas que você procura estão nas estrelas," ele leu em voz alta. "É... intrigante. Como se ela quisesse que você encontrasse algo específico."

"Exatamente. Mas onde começar? As estrelas são tão vastas, tão... inalcançáveis," Heloisa disse, com um toque de frustração.

Erick ficou em silêncio por um momento, ponderando. Então, um pensamento surgiu em sua mente. "E se... o que ela queria que você encontrasse não estivesse literalmente nas estrelas, mas relacionado a elas? Como algo que só aparece à noite, ou talvez algo que tenha a ver com as histórias que ela contava sobre as estrelas?"

Heloisa piscou, surpresa pela ideia. "Você acha que pode ser isso?"

"Não sei ao certo, mas vale a pena investigar, não acha?" Erick sugeriu, com uma leve empolgação em sua voz. "Talvez devêssemos procurar por lugares que tenham alguma conexão com as estrelas. Como o observatório, ou talvez algum ponto de referência na cidade."

Heloisa assentiu, começando a sentir uma centelha de esperança. "Isso faz sentido. Minha avó adorava o observatório da cidade. Passávamos horas lá quando eu era criança, olhando para o céu noturno."

"Então, talvez devêssemos começar por lá," Erick sugeriu, com um sorriso. "Quem sabe o que podemos encontrar?"

"É uma boa ideia," Heloisa concordou, sentindo uma renovada energia. "Podemos ir hoje à noite. O observatório só abre ao público após o pôr do sol."

Erick sorriu, satisfeito por terem um plano. "Ótimo. E enquanto isso, podemos explorar a cidade. Quem sabe encontramos mais alguma pista?"

Combinados, os dois passaram o resto da manhã caminhando pela Vila das Estrelas. Erick se encantou com o charme do lugar—ruas de paralelepípedos, casas antigas com jardins floridos e uma população que parecia conhecer cada habitante pelo nome. A cada esquina, ele encontrava algo digno de ser fotografado, mas também percebeu que sua atenção estava frequentemente voltada para Heloisa. Havia algo nela, uma luz própria, que o fazia querer saber mais, entender mais.

Eles visitaram alguns dos pontos históricos da cidade, como a igreja antiga e o farol, mas nada parecia estar relacionado ao que buscavam. Mesmo assim, Heloisa se sentia grata pela companhia. A presença de Erick a tranquilizava, tornando a busca por respostas menos solitária.

Ao final do dia, eles se encontraram novamente na praia, assistindo ao pôr do sol enquanto o céu começava a se tingir com as cores da noite. Heloisa sentiu uma sensação de antecipação crescendo dentro dela. Talvez o observatório trouxesse as respostas que tanto procurava.

"Está quase na hora," Erick disse suavemente, ao lado dela. "Está pronta?"

"Estou," Heloisa respondeu, respirando fundo. "Acho que estou."

Quando as primeiras estrelas começaram a surgir no céu, eles se dirigiram ao observatório da cidade, um pequeno edifício no topo de uma colina, de onde era possível ter uma vista deslumbrante de toda a Vila das Estrelas. O local estava quase vazio quando chegaram, o que apenas reforçou a sensação de que estavam exatamente onde deveriam estar.

Dentro do observatório, o ambiente era familiar para Heloisa, trazendo de volta memórias de suas noites passadas ali com a avó. Erick parecia igualmente impressionado, seus olhos brilhando com a mesma curiosidade que ela sentira quando criança.

"E agora?" Heloisa perguntou, olhando para o teto de vidro que revelava o céu estrelado acima deles.

"Vamos começar a explorar," Erick sugeriu. "Pode haver algo aqui que sua avó queria que você visse. Algo que não podemos perceber à primeira vista."

Eles caminharam pelo observatório, examinando as exposições, as velhas fotografias astronômicas e os mapas estelares. Tudo parecia normal, até que Heloisa notou algo no canto de uma sala pouco iluminada—uma pequena placa de metal, desgastada pelo tempo.

"Erick, venha ver isso," chamou ela, apontando para a placa. Ele se aproximou rapidamente, e juntos, eles leram as palavras gravadas nela:

*"Aqui, sob o brilho das estrelas, encontraremos o que perdemos, e nossos caminhos serão guiados até que o destino se revele."*

Heloisa sentiu um arrepio subir pela espinha. "Isso... Isso parece estar relacionado à frase do diário."

Erick concordou, seus olhos fixos na placa. "Parece uma mensagem. Algo que sua avó sabia que você encontraria aqui."

"Mas o que significa?" Heloisa perguntou, a voz carregada de ansiedade. "O que estamos prestes a encontrar?"

Erick olhou para ela, seu olhar intenso e cheio de determinação. "Acho que estamos no caminho certo, Heloisa. Talvez o destino realmente tenha nos guiado até aqui. Só precisamos continuar seguindo as pistas."

Entrelaçados pelo Destino. Onde histórias criam vida. Descubra agora