capítulo 2

15 2 0
                                    

DULCE



Entrei na faculdade virgem.
Estou começando a achar que vou me formar virgem também.
Não que isso seja um problema. E daí se logo faço dezenove anos? Estou longe de ser uma solteirona e não vou ser humilhada em praça pública por ainda
ter um hímen intacto.
Além do mais, oportunidades não faltaram. Desde que vim para a Briar, minha melhor amiga me arrastou para mais festas do que sou capaz de contar. E os caras dão em cima de mim. Alguns tentaram me levar pra cama. Um deles até me mandou uma foto do pau com a legenda “Todo seu, gata”. Isso foi… bem nojento, na verdade, mas se eu gostasse dele poderia ter me sentido, hum,
lisonjeada com o gesto. Será?
Mas eu não estava interessada em nenhum deles. E, infelizmente, os que me atraem nem reparam em mim.
Até hoje.


Quando Maite falou que íamos à festa de uma fraternidade, não tive grandes esperanças de conhecer alguém. Parece que todas as vezes que vamos a
uma dessas, os garotos só querem saber de pegação. Mas hoje conheci um cara de quem meio que gostei.
Ele se chama Matt, é bonito e até agora não deu uma de babaca. Está levemente sóbrio, usa frases completas e não disse “caralho” nem uma vez sequer desde que começamos a conversar. Ou melhor, desde que ele começou a falar. Eu não contei muitas coisas, mas estou satisfeita em ficar aqui de pé, ouvindo, porque isso me dá tempo de admirar seu queixo perfeito e o jeito fofo
como seu cabelo faz cachos perto das orelhas.
Para ser sincera, talvez seja melhor eu não falar nada. Garotos bonitos me deixam nervosa. Parece que meu cérebro dá um nó. Fico sem filtro e, de repente, estou contando que fiz xixi nas calças durante uma excursão no terceiro ano, que morro de medo de marionetes ou que tenho um transtorno obsessivocompulsivo leve e começo a arrumar o quarto de outra pessoa no instante em
que ela vira as costas.
Então é melhor só sorrir, concordar e, vez ou outra, soltar um “Sério?”, para que eles saibam que não sou muda. Só que, às vezes, isso não é possível, especialmente quando o cara bonito em questão pergunta algo que requer uma
resposta de verdade.
 — Quer ir lá fora fumar isso? — Matt tira um baseado do bolso da camisa e o ergue na frente do meu rosto. — Eu acenderia aqui, mas os caras da fraternidade me expulsariam por isso.
 — Ah… não, obrigada — respondo sem jeito.
 — Você não fuma?
 — Não. Quer dizer, já fumei, mas não muito. Me deixa meio… aérea.
Ele sorri, e duas covinhas lindas aparecem no seu rosto. — Esse é meio que o objetivo.
 — É, acho que sim. Mas fico cansada também. E sempre acabo lembrando de uma apresentação de PowerPoint que meu pai me obrigou a ver quando eu tinha treze anos. Era cheia de estatísticas sobre os efeitos da maconha no cérebro e como ela é altamente viciante. Depois de cada slide, ele me olhava e perguntava: Você quer perder os neurônios, Dulce? Quer?
Matt fica me encarando por um tempo. Na minha cabeça, uma voz grita “Para com isso!”, mas já é tarde demais. Meu filtro falha de novo, e as palavras continuam jorrando da minha boca.
 — Mas acho que não é tão ruim quanto o que minha mãe fez. Ela queria ser descolada. Quando eu tinha quinze anos, me levou para um estacionamento vazio, tirou um baseado do bolso e disse que íamos fumar juntas. Parecia uma cena de The Wire, bom, eu nunca vi The Wire. É sobre drogas, né? Enfim, fiquei sentada lá, em pânico, convencida de que íamos ser presas, enquanto ela
ficava me perguntando como me sentia e se estava ‘curtindo o bagulho’.
Meus lábios enfim param de se mexer, como que por milagre.
Mas os olhos de Matt já estão vidrados.
 — Ah, tá… legal. — Ele balança o baseado desajeitadamente no ar. — Vou lá fumar isso então. Vejo você depois.
Consigo conter o suspiro até ele se afastar, e então solto o ar de forma brusca. Droga. Nem sei por que tento falar com eles. Começo todas as conversas nervosa com a possibilidade de passar vergonha e acabo de fato passando, porque sempre fico nervosa. Estou fadada ao fracasso.

o erro Onde histórias criam vida. Descubra agora