capítulo 6

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Meu corpo está em chamas. As ondas de excitação se intensificam, e, quando ele enfia o dedo médio em mim, meus músculos internos o apertam, a
pressão tão intensa que me esqueço de respirar.
Não paramos de nos beijar. Nem mesmo para recuperar o fôlego.
Estamos ambos ofegantes, as línguas entrelaçadas e as mãos ocupadas. Seu polegar pressiona meu clitóris enquanto o dedo médio se move dentro de mim, e o prazer tomando meu corpo aumenta, um nó apertado de excitação que faz com que o movimento dos meus quadris se torne ainda mais errático.
Os minutos passam. Talvez horas. Não tenho ideia, porque estou presa a sensações incríveis. Acaricio seu pau, apertando a cabeça grossa a cada
movimento, até que seus quadris começam a se mover também, e um comando áspero sai de sua boca.
 Mais rápido.
Acelero o ritmo, e ele se move contra meu punho com um gemido baixo, a respiração fazendo cócegas em meus lábios quando interrompe o beijo. Seus
olhos estão fechados, as feições tensas e os dentes cravados no lábio inferior.
 Vou gozar— ele murmura.
A excitação se move em ondas entre minhas pernas, e sei que ele pode sentir como estou molhada, porque geme de novo e seu dedo mergulha mais
fundo, mais rápido. Segundos depois, Ucker desaba em cima de mim, a testa descansando em meu ombro, enquanto seus quadris investem uma última vez.
À medida que sinto uma umidade jorrar na minha mão, seus olhos se abrem lentamente, e o prazer sonolento que transmitem é de tirar o fôlego. Puta
merda. Acho que nunca vi nada tão sensual quanto Christopher Uckermann logo depois de um
orgasmo.
Sua respiração ainda está acelerada quando ele encontra o meu olhar.
 Você gozou?
Droga. O dedo dele ainda está lá dentro. Não está mais se mexendo… É apenas um lembrete do orgasmo que estava prestes a ter antes de me distrair com o clímax dele, o movimento inquieto de seus quadris e os sons sensuais que emitia.


Tenho vergonha demais de admitir que não terminei e, como ele já terminou, fico sem jeito de pedir que continue.
Então assinto com a cabeça e digo: —  Ah, sim. Claro.
Uma sombra de dúvida cobre seus olhos, mas, antes que eu possa piscar, Ucker se senta abruptamente e diz: — Tenho que ir.
Ignoro as doses iguais de decepção e irritação que apertam minha barriga.
Sério? Ele não pode ficar nem uns minutos para jogar conversa fora? Que príncipe.
A situação fica ainda mais estranha. Ucker  pega um lenço de papel da mesa de cabeceira e se limpa. Finjo estar tranquila e composta ao ajeitar meu
pijama e o vejo fazer o mesmo. Dou até um sorriso casual enquanto ele usa meu telefone para chamar um táxi. Por sorte, dessa vez, ele é atendido de imediato, o que significa que o constrangimento não dura muito.
Ando até a porta, e vejo que ele hesita por um instante. — Obrigado — diz, meio ríspido. — Foi divertido.
 Aham, claro. Pra mim também.
No segundo seguinte, ele já não está mais ali.


UCKER



Entro no meu quarto depois de uma chuveirada pela manhã e ouço o telefone tocando. Como todo mundo da minha idade só manda mensagem, sei exatamente quem é sem nem conferir a tela.
 — Oi, mãe — atendo, segurando a toalha enquanto caminho na direção do armário.
 — Mãe? Minha nossa! Então é verdade?! Eu achava mesmo que tinha dado à luz um bebezinho lindo, vinte e um anos atrás, mas parece só uma memória distante. Se eu tivesse um filho, ele provavelmente me ligaria mais de uma vez por mês, não acha?.
Dou risada, apesar da pontada de culpa no peito. Ela tem razão. Tenho sido um péssimo filho, ocupado demais com a pós-temporada e os trabalhos de fim de semestre para ligar com a frequência com que deveria.
 — Desculpa — digo, com remorso genuíno. — A vida fica corrida nessa época.
 — Eu sei. Por isso não tenho incomodado você. Estudando muito?
 — Claro. — Ah, tá. Não abri um livro ainda.
Ela me saca direitinho. — Não minta para sua mãe, Christopher.
 — Tá, ainda não comecei — admito. — Mas você sabe que funciono melhor sob pressão. Pode esperar um segundo?
 — Claro.
Baixo o celular, solto a toalha e visto uma calça de moletom. Meu cabelo ainda está molhado, pingando no meu peito, então esfrego a toalha na cabeça antes de pegar o telefone de novo.
 — Voltei — digo. — E aí, como vai o trabalho? E o David?
 — Bom e ótimo.
Ela fala de trabalho pelos próximos dez minutos, minha mãe é gerente de um restaurante em Boston, depois conta o que meu padrasto tem feito. David é contador, então é tão entediante que às vezes é duro ficar perto dele. Mas ele ama mesmo minha mãe e a trata como a rainha que é, por isso não posso odiar o cara.
Por fim, ela pergunta quais são meus planos para o verão, adotando aquele tom defensivo que sempre usa quando traz à tona meu pai.
 — E aí, vai trabalhar com ele de novo?
 — Vou. — Faço um esforço para parecer relaxado. Há muito tempo meu irmão e eu concordamos em esconder a verdade dela.
Minha mãe não precisa saber que meu pai está bebendo de novo, e me recuso a desenterrar a merda toda. Ela foi embora e deve continuar livre disso.
Merece ser feliz agora e, por mais chato que seja, David a faz feliz.
Ward Uckermann, por outro lado, só a fez infeliz. Não batia nela nem era agressivo, mas minha mãe sempre tinha que resolver as coisas por ele. Era ela quem lidava com os acessos de raiva e as internações constantes. Quem o levantava do chão quando ele chegava em casa chapado e desmaiava na entrada.
Merda, nunca vou esquecer o dia em que meu pai ligou para casa às duas da manhã, quando eu tinha uns oito ou nove anos. Ele enrolava as palavras ao contar que tinha enchido a cara em um bar, entrado no carro e não fazia ideia de onde estava. Era o auge do inverno, e minha mãe não quis deixar a mim e a meu irmão sozinhos em casa, então nos colocou no carro e nós três ficamos horas
procurando por meu pai. Tínhamos só um nome de rua pela metade, porque a placa estava coberta de neve e ele estava bêbado demais para ir até ela.
Depois que o encontramos e o colocamos no carro, me lembro de sentir algo que nunca tinha experimentado antes pena. Tive pena dele. Não posso negar que fiquei aliviado quando a minha mãe o mandou para a clínica de
reabilitação no dia seguinte.



 — Espero que ele esteja pagando direitinho — ela comenta, parecendo chateada. — Vocês dão duro naquela oficina.
 — Claro que ele está pagando. — Mas direitinho? Longe disso. Recebo o suficiente para pagar meu aluguel e as despesas do ano letivo, mas não é o salário que deveria ter por um trabalho em tempo integral.
 — Que bom. — Ela faz uma pausa. — Você ainda vai conseguir tirar uma semana de folga para vir nos visitar?
 — Está nos planos — asseguro. Jeff e eu já montamos um cronograma para que cada um de nós consiga dar um pulo em Boston e passar algum tempo com ela.


Falamos por mais alguns minutos e desligo, então desço as escadas para comer alguma coisa. Preparo uma tigela de cereal, a gororoba integral que Tuck nos obriga a comer, porque, por algum motivo, ele é contra açúcar. Assim que me acomodo junto à bancada, minha mente volta à noite passada.
Deixar o quarto de Dulce cinco segundos depois de ela ter me masturbado foi coisa de babaca. Sei disso. Mas eu tinha que sair de lá. No segundo em que me recuperei do orgasmo, meu primeiro pensamento foi: O que estou fazendo aqui? Sério. Tudo bem, Dulce era incrível, gostosa e engraçada, mas será que estou tão no fundo do poço que saio enfiando o dedo em meninas que nem
conheço? E dessa vez não posso usar o álcool como desculpa, porque estava totalmente sóbrio.
E a pior parte foi que ela nem gozou.
Cerro os dentes com a lembrança. Ouvi um monte de gemidos, isso é verdade, mas tenho noventa e nove por cento de certeza de que ela não gozou, apesar de ter dito que sim. Ou melhor, ter mentido que sim. Quando uma mulher solta um evasivo “Ah, sim” depois que você pergunta se ela teve um orgasmo, isso se chama mentir.
E aquele “Aham, claro” meia-boca que ela soltou quando eu disse que tinha sido divertido? Isso acaba com o ego de um cara. Ela não só não gozou, como nem gostou da minha companhia?
Não sei o que pensar. Quer dizer, não sou um idiota. Não vivo em uma bolha mágica em que orgasmos caem do céu na cama de uma mulher toda vez que ela faz sexo. Sei que elas às vezes fingem.
Mas estou bastante confiante de que falo pela maioria dos caras quando digo que gosto de pensar que elas não fingem comigo.
Droga. Deveria ter anotado o número dela. Por que não fiz isso?
Sei a resposta. No último mês, não tenho me importado o suficiente para trocar telefones depois de ficar com uma menina. Ou melhor, tenho ficado bêbado demais antes, durante e depois para me lembrar de pegar o telefone.
O barulho de passos no corredor me desperta dos meus pensamentos e ergo os olhos em tempo de ver Poncho entrando na cozinha.

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