Horas depois de ter deixado a barraca, Bonehart retornou sozinho. Páleas estava deitado no chão, com a espada enferrujada deitada sobre seu corpo. Bone trouxe em suas costas uma grande mochila. Ele a colocou sobre seu colchão e a abriu. Estava cheia de comida.
— Está servido? — perguntou Bone, oferecendo uma maçã que acabara de tirar da mochila.
— Não, obrigado! Acho que já posso afirmar que esse corpo realmente não sente fome. — respondeu o espantalho, sentando-se.
Bonehart também havia trazido outra coisa presa em suas costas. Era uma bainha.
— Ah, tome isso, veja se serve para sua espada. Se é que pode chamar isso de espada. — debochou Bonehart, entregando a bainha a Páleas.
A bainha serviu perfeitamente. Bone então acomodou algumas roupas e seus pertences dentro da mochila.
— Vamos, ainda precisamos conseguir nossas cartas de entrada. — disse ele, respirando fundo e olhando tudo em volta de seu "palácio".
Páleas levantou-se e prendeu a espada embainhada nas costas. Bonehart pegou no chão o candeeiro e o prendeu na lateral da mochila, que já estava em suas costas e disse: — Pode ser útil.
Os dois saíram da barraca e atravessaram o arbusto. Do lado de fora, Bone virou-se para o arbusto e novamente respirou fundo. Logo em seguida, eles partiram pelo Pântano Vermelho em direção a cidade de Vaal. Algum tempo depois os dois entraram na cidade.
— Precisamos ir até o porto. — afirmou Bonehart.
Eles chegaram na mesma rua em que estiveram a maior parte do tempo pela manhã. Seguiram então pela rua, mas, dessa vez, na direção oposta à que tomaram mais cedo. Caminharam até um ponto em que já era possível avistar o porto. O local era bastante movimentado. Bonehart parou de repente e começou a caminhar inquieto de um lado para outro, olhando para baixo e com uma das mãos segurando o queixo e algumas vezes até esbarrando nas pessoas que passavam por ali.
— O que fazer? O que fazer? O que vai acontecer quando o soldado da Legião da Coroa for desenhar seu rosto? — dizia ele.
Páleas já não conseguia distinguir se Bone estava falando com ele ou consigo mesmo. Próximo aos dois, um pouco mais à frente, havia um banco de pedra. Sentaram-se. Páleas de braços cruzados e olhos fechados; Bonehart com as mãos sobre a cabeça. Em algum momento, Bone relaxou os braços, olhou para o céu e suspirou. Nesse exato momento, duas mãos cobriram seus olhos.
— Oca como tronco... — disse a dona das mãos.
— A cabeça dos Bordos! — exclamou Bonehart, puxando as mãos que cobriam seus olhos. Era Luna, usando sua máscara habitual.
— Estava indo embora sem se despedir? — reclamou Luna, dando um tapa na cabeça de Bone.
— Não, claro que não. — respondeu ele, coçando a cabeça. — Precisávamos, primeiro, conseguir nossas cartas de entrada.
— Eu sei, eu sei. Por isso vim ajudar! — disse ela, pegando três sacos que estavam no chão ao lado de seus pés.
De um dos sacos ela tirou um chapéu pontudo e a mesma linha e agulha que usou para costurar a cabeça de Páleas. De outro, tirou algo que parecia ser carne crua. Era carne crua.
— É com isso que vamos resolver o problema da sua cara bizarra. — disse Luna.
— Mas como... assim? — balbuciou Páleas.
Luna os guiou até um beco perto dali, sem nenhum movimento. Tirou um canivete de seu bolso e, segurando a cabeça de Páleas, ela disse: — Desculpe espantalho cabeção, mas vou precisar desfazer isso.
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O Espantalho, o Livro e o Ladrão - As Crônicas de Páleas Caput
FantasíaAs Crônicas de Páleas Caput - O Espantalho, o Livro e o Ladrão Um espantalho desperta dentro do tronco de uma árvore no Reino de Lutumora. Não lembra-se de nada, nem mesmo seu nome. No Pântano Vermelho, ele recebe um alento e um fio de esperança . E...