III - E fica

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Max ainda nem havia aberto os olhos e já estava tateando a cama, procurando pelo rapaz com quem dividiu a cama na madrugada. Ainda mole, demorou a perceber que estava sozinho e, repentinamente, sentiu frio, mesmo ainda coberto com a manta quentinha de sono. Abriu os olhos e levantou confuso. Quis sair do quarto e procurar por ele, mas então viu em cima da mesa um dos seus pratos azuis com um sanduíche por cima e um papel preso embaixo.

“Tive que ir em casa trocar de roupa. Você baba demais, sabia? Deixei seu café da manhã. Até.”

Dobrou o papel e sentou para comer o sanduíche. Aquele sumiço foi justo, mas acordar sem o cara com quem dormiu ao lado pela manhã deixou uma sensação estranha no seu coração. O retrogosto foi mais de saudade que de presunto.

Quando chegou na sala de aula, não viu Bradley em lugar nenhum. A disciplina se arrastou entediante por quase duas horas. Assim que o professor encerrou, foi para o lado de fora comprar uma porcaria para comer. Nada muito caro, só um salgadinho pra enrolar o sanduíche de mais cedo; seu estômago já parecia vazio. Tirou um pacotinho da máquina e olhou para o lado apenas para ver Bradley passando do outro lado do pátio.

Seus olhares se encontraram e os dois travaram no chão, estáticos pelo encontro repentino para o qual não estavam preparados. Bradley acenou sem graça, Max acenou de volta e ficaram ainda alguns segundos sem sair do lugar, até que PJ surgiu preocupado, acusando o sumiço de Max. Com a distração, o mais velho acabou aproveitando e entrando no prédio principal do campus.

Eles se encontraram ainda outra vez naquele dia, ainda ansiosos pelo reencontro, mas, assim que uma aproximação se ameaçou por parte do outro, Max apertou o próprio rosto de nervosismo e cruzou o corredor para ir para a sala. Ele não estava tentando evitar o rapaz… talvez ele estivesse. Mas o que ele faria? O que diria? “Ah, Bradley, legal ontem, hein, acordou sentindo dor?”. Seria estranho e ele não sabia se conseguia sustentar os olhos nos dele sem ter uma síncope de vergonha.

Os desencontros não saíam da cabeça de Bradley, a sensação de afastamento o consumiu durante todas aquelas horas, e não era justo. Foi Max mesmo que pediu a promessa de que não iam se abandonar, mas também ele mesmo firmou essa promessa. Não sabia onde pôr os pés para o próximo passo, mas decidiu que ia abalar essa inércia. Procurou o calouro pela universidade inteira, até que o encontrou entrando no alojamento. Já era tardinha, Max vestia um casaquinho por conta do frio que o sol já não alcançava.

— Eu queria falar contigo — o alcançou, finalmente — A gente pode falar no seu quarto?

— E aí, Max, tá esperando o quê?  — Bradley esticou o pescoço e viu que Bobby esperava pelo amigo junto de PJ do lado de dentro do prédio.

— Você se importa, Bradley? Os meninos me chamaram pra sair.

De cenho franzido, ele encarou os olhos de Max. Indecifráveis, eles pareceram frios. Bradley não respondeu, mas Max tomou o silêncio como uma positiva. Acenou e foi se encontrar com os amigos, que olharam para trás e viram um Bradley irritado dando meia volta e saindo em marcha rápida. Fizeram perguntas, mas Max desviou do assunto, respirando fundo e pensando como lidaria com isso depois. Queria um tempo, apenas o suficiente pra tomar coragem e pedi-lo em namoro, e para isso achou uma boa ideia sair e espairecer a cabeça com os amigos.

Por outro lado, Bradley foi para o Bean Scene, tomar um café forte com bolinho. Pediu apenas isso e uma água e, ainda assim, foi um dos últimos a acabar de comer, e ainda perdurou lá dentro, sendo o último cliente a sair do café. Não sabia que horas eram nem quanto tempo ficou no café, remoendo a vontade de gritar na cara daquele calourinho idiota. Tinha tempo de sair, mas não tinha tempo de conversar… pois ele arranjaria tempo para conversar. Assim que Bradley saiu do estabelecimento praticamente fechado, foi devagar, sem pressa nenhuma, em direção ao alojamento. Não tinha certeza se Max já estava no quarto, mas, se não estivesse, ele esperaria a noite toda do lado de fora, no corredor.

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