E o que eu ganho?

I - Me chama

As janelas estavam fechadas, a porta, fechada, as camas, bem arrumadas na medida do possível, mas ainda fazia frio naquele quartinho solitário do alojamento da faculdade estadual. Além disso, ainda estava úmido e, na preguiça desta noitinha, Max queria apenas se jogar entre as cobertas e dormir até o dia seguinte. Sem jogos, sem treino ou estudo, apenas um soninho bem dormido.

Ele agarrou a coberta da cama que ele costumava usar, visto que tinham duas pelo habitual dos quartos do alojamento, mas dormia sozinho desde que PJ e Bobby, seus melhores amigos e com quem dividia o quarto antes, foram para outro, próximo dali. Quando foi puxar para deitar por cima do lençol, viu, sair da lateral do colchão uma aranha do tamanho de uma tampa de achocolatado. Não era muito grande, mas, na visão de Max, aquele bicho colossal era um problema de agonia e aflição.

O grito foi bem segurado na garganta, Max não queria assustar nem alertar ninguém, mas também ele mal conseguia olhar para a própria cama sem sentir tontura e enjoo. Desgraça de aranha, não podia ser bonitinha como uma lagartixa ou fácil de matar como uma barata? Depois de muita luta perdida e o bicho quase pular em seu braço, ele saiu do quarto com pressa e ôfego, sentindo que desmaiaria ali mesmo.

Correndo ao quarto dos amigos, ele bateu algumas vezes com descontrolada força, esquecendo que naquele dia não haveria ninguém no quarto. Ambos PJ e Bobby tinham planos e Max ficou bons minutos ali, esperando alguém abrir a porta e salvar sua noite. Quando percebeu que isso não aconteceria, foi direto para fora do prédio, achar alguém conhecido que fosse, que pudesse ajudar.

Do lado de fora, alguns grupos de jovenzinhos se agrupavam, sentados na varanda do prédio ou ali pelos bancos do pátio comunal. Falavam alto e riam de coisas que Max nem pensava em adivinhar. Rolou os olhos com o máximo de calma que conseguiu, o que não era muita apesar de ele saber disfarçar bem, e reconheceu a figura mais alta, magrela e esquisita do Bradley, veterano egoísta, mimado e trapaceiro.

Naquele momento até o capeta servia, então se aproximou, atrapalhando alguma conversa na qual ele parecia se gabar para uma garota com o dobro do tamanho dele e, certamente, muito mais bonita. Chegou falando que precisavam conversar e Bradley ainda demorou a olhar nos seus olhos. Apesar de a sua mente se ocupar com os próprios problemas, reconheceu que algo estava errado.

— Não temos nada para conversar, calouro, eu estou ocupado — disse ele, irritante como sempre, tentando afastar mais problemas.

— Brad — Max puxou seu braço de leve, falando um pouco mais baixo — É rápido, só me ajuda rapidinho.

Um suspiro longo de Max acompanhou um “Por favor”, que fez com que Bradley murmurasse de indignação e pedisse licença para o grupinho com que conversava. O mais baixo tentou parecer tranquilo enquanto levava o outro para o ninho do terror, vulgo seu quarto, falando coisas idiotas como “Bonita aquela garota, vai namorar com ela?”. Bradley riu sarcasticamente das palhaçadas e, assim que chegaram na porta do quarto, o mais alto levantou a sobrancelha grossa demais pra sua testinha e cruzou os braços.

— Você me pediu ajuda com o que exatamente?

— Olha… Okay — ele respirou fundo e soltou as palavras seguintes em um único sopro de fala — Tem uma aranha no meu quarto e eu sei que você não tem medo de aranha porque naquele dia você pegou a que tava no canto da sala na mão pra ajudar a Valentina no meio da aula, aquilo quase me fez querer levantar e sair dali, então só tira a aranha por favor, tira ela dali.

— Ah, Max — Bradley sorriu, quase perverso — O bebê tem medo de aranha?

Max segurou no agasalho do mais velho e puxou de levinho para um lado e para o outro, indicando que estava falando sério, quase um pedido de “cala a boca e só me ajuda”.