VIII - Matéria escura

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Sophie fechou os olhou com força quando o flash a atingiu. Haviam repórteres e fotógrafos por todos os lados, empurrando seus microfones e seus corpos uns contra os outros pelo bem de seus empregos. Os policiais mal conseguiam manter a mulher longe o suficiente da multidão sem utilizarem da força e machucarem meia dúzia.

- Ela não tem nada pra dizer. - Gritou uma voz ao seu lado, possivelmente o advogado da corporação que estava defendendo o seu caso. Não que ela se importasse a esse ponto.

- Você está traumatizada com o sequestro?

- Senhorita Quinn, a senhorita achou que fosse morrer?

- Porque escondeu seu cabelo?

As perguntas mais absurdas continuavam sendo atiradas a gritos ao seu redor. Fazia pouco mais de uma semana que Sophie havia sido sequestrada, mal teve tempo de pensar sobre o que tinha acontecido e de repente foi jogada aos lobos e a mídia.

Depois de longos minutos tentando atravessar a calçada da advocacia ela finalmente conseguiu entrar no carro preto que a aguardava. Ela respirou fundo, o mais fundo que conseguiu, e fechou os olhos. Ter esperado tantos dias dentro de casa não havia sido uma boa ideia, ter dito aos policiais a verdade foi uma ideia pior ainda. Como ela esperava que eles acreditariam que um homem de cabelo grisalho havia atirado um portal verde por uma pistola feita de madeira velha e fita adesiva?

"Ele disparou essa arma com um líquido verde e vocês entraram no líquido e foram parar em uma garagem. Depois ele disparou de novo e vocês foram parar DENTRO do escritório no meio da noite?"

É realmente completamente inacreditável e ridículo, ainda mais quando o desgraçado do Rick Sanchez havia sido cuidadoso o suficiente para cobrir as câmeras de segurança, deixando Sophie em péssimos lençóis, afinal, ele executou um massacre a sangue frio.

Depois de alguns minutos no carro ela finalmente chegou em casa, e todo o caos se repetiu.

Todos achavam que ela havia ficado sob custódia de Rick por pelo menos 5 dias, o que não era verdade, mas depois de ver a reação dos policiais, uma reação completamente sensata, ela decidiu apenas fingir que estava traumatizada demais para se lembrar dos outros 4. Na verdade, logo após ter sido abandonada no chão da sala, ela passou as seguintes longuíssimas horas tentando processar o que havia acabado de acontecer. Não exatamente o sequestro ou o massacre, mas o abandono, o uso e o descarte de sua pessoa por parte de Rick.

"Como ele ousa? Como esse desgraçado ousa me usar desse jeito e me jogar fora assim? Como ele tem a coragem de me mostrar o valor da liberdade e me jogar de volta a minha vida de merda sem mais nem menos?"

Ela sentiu-se como um cão doméstico que acabara de descobrir o que existe além dos portões de sua casa. Saber a imensidão do universo e suas possibilidades tornam seu cativeiro mais doloroso do que jamais havia percebido ser.

Infelizmente, depois de longos 4 dias, seu surto e sua comida acabaram, forçando-a a sair de casa e logo sendo reconhecida no supermercado. Foram minutos até que ela estivesse sentada na sala de interrogatório da polícia, usando a mesma roupa da semana passada, mal cheirosa,  o cabelo desarrumado e oleoso, olheiras profundas e olhos inclados, respondendo às perguntas dos oficiais coma as respostas mais ridículas que eles poderiam imaginar ouvir em suas carreiras.

O investigador riu quando ouviu o nome "Richard D. Sanchez", afinal, ele tinha sido dado como morto há muitos anos. É claro que ela não tinha essa informação, se ele estava logo ao seu lado não haviam motivos para que ela procurasse esse dado em específico na extensa ficha da corporação, e Rick não havia mencionado nada sobre estar morto.

Foi a partir desse momento que ela decidiu entrar no papel e admiitir para todos e para si mesma que talvez, e só talvez, sua mente estava perturbada. Logo depois de ver seus colegas mortos por seja lá o que, ela enlouqueceu como mecanismo de defesa e agora nada mais fazia sentido e tudo era fruto de sua imaginação.

Nem sequer seus vizinhos a deixavam em paz, fosse nso corredores, no hall, nos elevadores, todos olhavam de longe como se ela fosse um animal exótico, mas nunca se aproximavam demais, possivelmente ameaçados pela equipe da corporação.

Mais uma vez ela entrava em casa. Atravessava a porta maciça e escura da entrada, sendo recebida pelo vazio perfeitamente projetado de sua sala de estar e cozinha. Dessa vez com louça na pia há dias, sujeira no chão, pó nas estantes e roupas sujas amontoadas em um canto do sofá.

- Poderia estar pior. - Murmurou. Pelo menos era sua casa, longe dos entrevistadores e investigadores.

Ela arrancou os saltos de seus pés e os jogou em um canto do corredor, os libertando para sentir o frio do piso espelhado, depois largou os brincos numa mesa de canto, o casaquinho nas costas de uma cadeira, a saia lápis no tapete e a camisa branca no sofá. Fez uma promessa mental de que limparia tudo depois, mas agora ja era tarde demais, já havia se jogado sobre a cama bagunçada e fechado os olhos.

Como nos últimos dias, tudo o que o seu cérebro patético conseguia pensar era em Rick. Sempre que ela tinha um momento de paz e sua mente estava vazia, lá estava ele, com seus olhos escuros e cabelos desgrenhados. Se ela pensasse, pensaria nele. Se fechasse os olhos, o veria. Se sonhasse, sonharia com ele. 

Embora Rick fosse um homem destruído e perigoso, continuar em sua vida normal era - impossível - pedir por uma morte lenta e dolorosa. E estar com ele era viver a mercê de sua mente perturbada, sem saber onde estaria nos próximos segundos, sem saber se sequer continuaria viva. Tendo todas e nenhuma possibilidade em suas frágeis mãos humanas.

Foi ali, jogada em sua cama e vestindo apenas a roupa íntima, que Sophie percebeu as consequencias irreversíveis do que Rick tinha causado em sua vida. Não apenas seu desejo de liberdade mas também o fato de que ela nunca, jamais, voltaria a ser apenas uma cidadã ordinária de Seattle. Ela estava presa em um limbo, onde não era exatamente extraordinária e livre e tampouco ordinária e cativa.

Foi ali, jogada em sua cama, que Sophie abriu seus olhos com mais determinação do que jamais sentira. Ela havia decidido, ela abraçaria sua extraordinariedade e perseguiria de fato sua liberdade.

- Eu vou encontrar ele, porra.

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⏰ Última atualização: Sep 12 ⏰

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Seres de mente única. - A Rick Sanchez Fanfiction.Onde histórias criam vida. Descubra agora