O silêncio da casa era profundo e quase palpável, um manto de tranquilidade que parecia proteger todos os habitantes da agitação que se desenrolava nas sombras. Betty, imersa em um sono inquieto, estava à mercê das próprias tormentas interiores, suas memórias e sentimentos se entrelaçando em um caos de desespero e desejo de respostas. A escuridão do quarto estava quebrada apenas pela luz fraca da lua que penetrava pelas cortinas.
Foi então que, de repente, a atmosfera mudou. O ar parecia pulsar com uma tensão elétrica, e Betty sentiu uma presença. Não era uma presença física, mas algo muito mais etéreo e opressivo. Em meio ao seu sono perturbado, ela percebeu uma figura encapuzada, uma silhueta que parecia flutuar em direção a ela. O Homem das Sombras, uma entidade que até então era apenas uma lenda no seu subconsciente, agora se manifestava diante dela com uma intenção palpável e ameaçadora.
O Homem das Sombras não tinha forma definida, mas seus olhos, escuros e penetrantes, brilhavam com uma intensidade fria e desafiadora. Ele se aproximou de Betty com um passo silencioso, seus movimentos pareciam deslizantes, como se não tocassem o chão. Quando ele chegou perto o suficiente, ele tocou sua testa com um gesto tão leve quanto o toque de uma pluma, mas com uma força tão esmagadora quanto um golpe. Um brilho sombrio emanou de seus dedos, e uma onda de energia envolveu Betty.
Instantaneamente, Betty foi arrastada para um sonho vívido e tortuoso, onde a realidade e a fantasia se confundiam em um turbilhão de imagens e sensações. Ela estava de volta ao passado, mas não como uma espectadora passiva; ela era parte de cada cena, sentindo o que seus ancestrais haviam sentido, revivendo suas emoções, seus medos e suas esperanças. O sonho era uma linha do tempo cruenta, e cada imagem era um fragmento doloroso da verdade que ela havia buscado.
Ela viu seu pai, Thomas, em momentos de suposta felicidade, antes de sua queda. A visão de um homem que parecia ter tudo, mas que era consumido por uma sombra invisível e opressiva. Em seguida, ela foi transportada para momentos sombrios de sua vida, onde o descontrole e a autodestruição se manifestavam em cenas de caos e conflito. O grito de angústia e a sensação de impotência eram palpáveis, como se o desespero de Thomas estivesse sendo despejado diretamente em seu coração.
Os momentos seguintes foram ainda mais perturbadores. Betty viu sua mãe, Clara, lutando para lidar com as consequências das escolhas de Thomas. A dor de Clara era uma força avassaladora, uma carga que ela carregava com uma dignidade forçada e um desdém profundo. Cada olhar que Clara lançava para Thomas era um reflexo do desgosto e da frustração acumulada ao longo dos anos.
Enquanto Betty navegava por esse mar de revelações, a sensação de impotência e desespero se intensificava. Ela via a si mesma em diferentes estágios da vida, conectando-se com uma ancestralidade que sempre foi negada a ela. Em um momento de clareza, ela compreendeu que sua própria identidade estava profundamente entrelaçada com esses eventos, como se ela fosse a continuação de uma luta que seus antecessores não conseguiram vencer.
Mas a experiência foi longe de ser uma revelação pacífica. O sonho tomou um rumo brutal. Betty começou a gritar, suas convulsões foram violentas, como se seu corpo estivesse sendo submetido a uma força sobrenatural. O grito ecoou pela casa, acordando os residentes e mergulhando-os em um estado de pânico. A casa inteira parecia vibrar com a intensidade do sofrimento de Betty.
O Homem das Sombras observava em silêncio, seu olhar impassível e frio. A intensidade da experiência estava levando Betty a um estado de quase abdução mental, como se ela estivesse sendo arrancada de sua própria realidade e forçada a confrontar a verdade de uma forma brutal e inescapável. As convulsões de Betty eram um reflexo da batalha interior, um conflito entre o desejo de saber e a dor de enfrentar a verdade.
O sonho revelou-se uma série de portas abertas para possibilidades que Betty sempre quis explorar, mas nunca teve coragem. Ela viu os momentos em que sua própria ancestralidade tentou se conectar com ela, mas foi constantemente barrada e sufocada pelas barreiras impostas por sua própria família. Cada tentativa de conexão com suas raízes foi interrompida por um medo irracional e uma rejeição constante.
Finalmente, o sonho começou a se dissipar, e Betty foi abruptamente trazida de volta à realidade. Ela acordou no quarto, o corpo coberto de suor, as lágrimas secas em suas bochechas e o rosto pálido. O silêncio que se seguiu era carregado de um peso esmagador. A experiência a deixou exausta, mas também profundamente esclarecida. Ela tinha agora uma visão clara e dolorosa da verdade, uma verdade que havia sido enterrada sob camadas de negação e medo.
Ela estava sozinha no quarto, a sensação de isolamento era quase física. A experiência a deixou em um estado de fragilidade e vulnerabilidade, mas também lhe concedeu uma força inesperada. Betty sabia que agora tinha um conhecimento poderoso e perturbador, e estava determinada a usar isso para confrontar sua mãe e enfrentar os segredos sombrios que haviam moldado sua vida e sua linhagem

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Sem Saida
RomanceO livro narra a História de uma garota chamada Betty. Ela passou por momentos difíceis em sua vida, mas tem algo que mantém Betty de pé, suas memórias.