Sem Saida

A dor

Segui para o quarto e logo tratei de trancar a porta.
Não queira ter irmãos mais novos em momentos reflexivos e importantes para você.
Eles sempre tem o dom de estragar quase tudo que ainda é interessante.
Os livros na estante centenária, que ganhei de presente da minha avó estavam em perfeita harmonia.
Me sentei e comecei a observar as cores e tonalidades presentes no quarto.
Era triste.
Me deixavam triste. Mas gostava.
Me sentia a vontade, percebia que o quarto poderia  ser um refúgio. E era.
Para que me preocupar com as cores lá fora após a chuva? Se ali era onde me encontrava?
Cada objeto disposto pelo quarto escuro e frio, representava-me.
Sentei de leve em minha cama.
O papel de parede um tanto descascado, o copo sobre a mesa de cabeceira empoeirada.
Ali tudo estava em perfeita ordem, inclusive comigo.
Eu me sentia assim.
Faltando um pedaço e fora do lugar.
Sozinha.
Seria saudade?
Percebi que todas as análises feitas eram uma busca sem fim pela completude.
Me sentia incompleta.
Lembrei da dor que estava sentindo um dia antes.
A vovó foi morar em outro lugar, de onde jamais voltaria.
Era a saudade dela que me consumia.
Todas as reflexões me levaram até ela.
Perdeu-se o sentido da minha vida na sua partida.
Era solidão.
Passávamos boa parte do tempo juntas.
Eu estava sem lugar e tudo a minha volta estava fragmentado.
Chorei.
A ansiedade tomou conta.
Por que deixei ela ir?
Corri, desci as escadas.
Mamãe estava de costas em posição de xícara lavando a louça.
Desesperada me lancei sobre ela.
-Mamãe, como pode deixar minha amiga ir embora?