5. Dark Noise

20 2 2
                                    

Se levantando sorrateiramente na escuridão que pairava as margens do circulo iluminado pela fogueira, Beth o seguiu. Nem mesmo ela entendia a razão pela qual havia feito aquilo, mas quando se deu conta já estava lá, parada ao lado dele nas sombras. Daryl estava andando de um lado para o outro, antes de perceber a presença dela. Ele parou e a encarou com a cabeça baixa, seus olhos e sobrancelhas se levantaram, formando linhas em sua testa. Beth ficou nervosa.

— O que você quer? — Daryl perguntou, a voz ríspida quebrando o silêncio.

Beth deu de ombros, os olhos azuis, fixos nele, tentavam decifrar suas expressões. Se houvesse luz ele com certeza perceberia o rubor em suas bochechas.

— Vamos lá. Vai ficar parada aí feito um dois de paus?

Ela suspirou. — Só estou incomodada com algo muito idiota... Só isso.

— Vá em frente — Daryl pediu, seu tom ainda ríspido, levemente irritado.

Beth hesitou brevemente antes de falar. — É que você não falou comigo nem uma única vez depois que eu voltei.

— O que quer dizer? — Daryl a encarava, os fios de cabelo entre os olhos obscuros. — Nos falamos hoje.

— Nós não nos falamos, você se irritou comigo. Isso não é exatamente conversar.

— É, eu me irritei! — Dixon confirmou, e a mesma expressão de raiva voltou a aparecer no seu rosto. — Nos últimos dias você tem feito muito isso, não é?

— Como assim? — Beth ficou confusa, afinal o que mais ela poderia ter feito que o irritasse?

—  Não é nada. Só uma coisa muito idiota — sua voz se excedeu em volume enquanto ele fazia uma espécie de sátira do que ela havia dito antes.

Mais uma vez tudo ficou silencioso, tenso. Beth prendeu a respiração.

— Vai mesmo ficar aí parada? — perguntou irritado.

— Você tá com raiva de mim — afirmou.

— Não tô com raiva. Não tenho que sentir nada em relação a você. Você não é mais problema meu.

O coração da garota ardeu e latejou. — Nós estávamos nos dando bem antes. Eu pensei que...

— Pensou que o quê? — Daryl a interrompeu, a voz rouca soando impaciente.

Beth engoliu em seco. — Que fôssemos amigos agora — concluiu, hesitante. — Mas estou vendo que fui precipitada na minha conclusão — continuou, desta vez com um leve tom debochado.

— Tanto faz — ele rosnou.

Beth se sentiu frustrada. Como ele podia ter a coragem de olhar para ela e agir com aquela frieza? Não era mais como antes da queda da prisão — ambos sabiam disso. A relação entre eles havia se transformado, se aprofundado, no entanto ele fingia que não. Será que Daryl era tão emocionalmente covarde a ponto de continuar ignorando isso?

Mas por quê? Beth sabia que Dixon sempre fora um homem fechado, difícil de alcançar, como um animal indomável. Porém, ele havia se aproximado de Carol depois da fazenda. E ele havia se aberto para Beth de um jeito que ela nunca tinha o visto fazer antes com mais ninguém. Então por que ele estava escolhendo ignorar esse vínculo agora? Ela não entendia.

De repente, Daryl desviou a atenção para a porta do celeiro, caminhou até a fresta e olhou para fora.

— O que foi? — Beth perguntou, ao mesmo tempo em que Daryl se lançou contra a porta com toda sua força, soltando um grunhido.

Beth percebeu o que estava acontecendo e se juntou a ele, pressionando a porta com as costas. Uma pequena multidão de walkers havia se formado e tentava entrar. Alguns minutos depois, todos estavam os ajudando, e assim passaram boa parte da noite, até que os ventos fortes da tempestade feroz acabasse com os walkers do lado de fora.

*

Depois da grande luta que havia sido aquela noite, o restante do grupo finalmente dormia. Enquanto isso, Beth e Daryl foram os últimos a resistirem ao sono. Eles estavam sentados com as costas apoiadas sobre a porta de madeira, um ao lado do outro, os braços se tocando levemente.

— Você deveria dormir — Daryl disse, a voz mais baixa e rouca que o normal. 

— Você também — ela respondeu, sem mover a cabeça.

Daryl olhou para ela, mas mesmo percebendo isso, ela não se moveu. De repente começou a sorrir, deixando Dixon sem entender o motivo.

— Eu sou uma idiota — afirmou, ainda sorrindo. — Eu realmente senti sua falta enquanto estava no hospital e achei que fosse reciproco. Quão estúpido é isso?

Daryl se sentiu mal; era como uma mistura de raiva, tristeza e confusão. Ela não fazia ideia até onde ele tinha ido por ela, e ele nem queria que ela visse. Ou queria? Ele sentiu vontade de abraçá-la, mesmo não sendo o tipo de pessoa que gosta de abraços, mas não fez nada além de olhar para ela. Ele teve que se conter. Os olhos azuis de Beth estavam cansados, e mesmo sorrindo, seu rosto carregavam uma estranha melancolia.

— A ideia de ir para Atlanta atrás daqueles desgraçados foi minha. Eu enfiei a Carol nisso, e depois todo o resto do grupo — ele revelou, como se aquelas palavras desmentissem o que Beth dissera antes sobre sentir-se estúpida por achar que somente ela havia sentido a falta dele. As palavras de Daryl mostravam que ele também sentiu, e que ele queria que ela soubesse disso. Queria que ela soubesse que ele havia feito de tudo, e que não deixou passar a oportunidade quando a teve.

De repente, Beth que antes se sentia rejeitada, estava grata. Ela o olhou, o sorriso se desfazendo, dando lugar a uma expressão séria. Os olhos azuis cabisbaixos de sono estavam iluminados. Recostou sua cabeça sobre o ombro do homem e disse:

— Obrigada. — Daryl não se mexeu, se mantendo rígido, mas estava gostando da sensação. 

Alguns minutos depois, ele percebeu que a garota havia adormecido. Então, com cuidado, ajeitou o seu corpo, pousando a cabeça de Beth sobre sua perna. Ela suspirou, e ele teve medo de tê-la acordado, mas ela ainda dormia como um anjo.

— Dixon — murmurou ela enquanto dormia.

Daryl continuou onde estava, a observando por alguns instantes antes de voltar o olhar para a escuridão à sua frente, a encarando até dormir. 

*

De manhã, Beth acordou se dando conta de que seu travesseiro havia sido a perna de Dixon. Ela sorriu, achando graça da situação. Daryl estava dormindo sentado; Beth sentiu muita pena, pois ele provavelmente ficaria com dores mais tarde, mas não o acordou, ele precisava descansar.

Ela se levantou e pegou Judith no colo. A bebê já estava acordada com aquele olhar doce de sempre. Beth estava preocupada com ela, que não comia bem há muitos dias. Apesar disso, Judith ainda abria os mais lindos sorrisos do mundo para ela; esses sorrisos eram uma das únicas bênçãos que Beth ainda tinha na vida. Ela realmente amava aquela garotinha.

Tudo correu normalmente naquela manhã, até alguém bater na porta do celeiro. Todos se entreolharam, assustados. Rick fez um sinal para que todos ficassem calados, e lá fora a voz de um homem anunciou:

— Ei! Rick? Meu nome é Aaron. — Rick virou a cabeça, incrédulo com o fato do estranho do outro lado da porta para qual ele apontava a arma saber o seu nome. — Sei que estranhos são perigosos. Mas eu sou um amigo e trago boas notícias.

We'll Be GoodOnde histórias criam vida. Descubra agora