1 - Silêncio.

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— Onde você estava?!

Essa foi a primeira coisa que ouviu ao cruzar a porta de casa. Ele ainda estava ofegante, o peito subindo e descendo em um ritmo descompassado, resultado da corrida desenfreada pelas ruas escuras até chegar em casa. Por um instante, cogitou correr até sua mãe, contar tudo o que havia acontecido naquela noite, mas rapidamente descartou a ideia. A verdade é que a verdade só pioraria as coisas.

Se antes seus pais já tinham razões suficientes para considerar um exorcismo, descobrir que ele havia tido contato direto com um bruxo seria o suficiente para eles finalmente tomarem essa decisão. Chan mordeu o lábio inferior, tentando esconder o medo que crescia em seu peito, e fechou a porta atrás de si, sentindo o olhar furioso do pai cravado em suas costas.

— Eu fui dar uma volta. — respondeu vagamente, tentando manter a calma enquanto coçava a cabeça num gesto nervoso — Me senti um pouco mal, então...

— Aqui. — Sua mãe o interrompeu, estendendo um pequeno pote de plástico na sua direção. Chan sabia o que era e, relutante, pegou o pote, observando o óleo ungido dentro dele — Vi que o seu está acabando, falei com o padre hoje, e ele disse que você precisa reforçar o cuidado. É melhor escutar o que ele diz.

As palavras de sua mãe sempre soavam como uma sentença, mas ele apenas acenou com a cabeça, concordando em silêncio. Estava cansado, exausto, e a única coisa que queria naquele momento era correr para o seu quarto.

— Você sabe o que fazer. — ela continuou, sem demonstrar emoção alguma — Antes de dormir e quando acordar, amanhã tem missa de manhã. — ela murmurou, sem sequer olhar para ele. Suas mãos se moviam nervosamente, alisando as roupas como se estivessem sujas por ter encostado nele — Vou te acordar.

— Tudo bem. — Respondeu Chan, abaixando a cabeça em um gesto automático. Sentiu o corpo tremer levemente enquanto começava a se mover em direção à escada, mas antes que pudesse subir o primeiro degrau, seu pai se colocou em seu caminho, bloqueando a passagem.

— Faça isso de novo e você dorme fora de casa.

Ele sabia que aquilo era uma ameaça. Chan engoliu seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. Ele queria responder, mas as palavras não vinham. No fundo, sabia que não havia o que dizer. Ele estava errado.

— Me desculpe. — murmurou finalmente, a voz trêmula pelo nervosismo — Não vai acontecer de novo, pai.

— É bom que não aconteça.

Chan permaneceu parado, esperando algum tipo de permissão para subir, mas tudo o que sentiu foi o coração batendo descontrolado no peito. Não deveria sentir tanto medo. Estar na presença de seus pais não deveria provocar nele o mesmo terror que sentia ao ver espíritos ao seu redor, mas a realidade era que o medo era o mesmo, um medo profundo, visceral, que o deixava paralisado.

Tremendo, Chan subiu para o quarto. Quando finalmente se trancou lá dentro, soltou o ar que não percebera estar prendendo. Encostou a cabeça na porta, fechando os olhos por um momento enquanto tentava se acalmar. Mesmo assim, o cheiro da planta ,ou seja lá o que aquilo era, ainda pairava no ar ao seu redor.

Chan tentou afastar a sensação, mas aquilo estava tomando conta de sua mente. O que aquilo significava? Por que o pânico que ele sentiu ao encontrar o bruxo parecia diferente do terror cotidiano que o acompanhava? Era como se, por um breve momento, ele tivesse sentido algo próximo de... alívio.

Ele arregalou os olhos, sentindo uma onda de pavor percorrer seu corpo. Não podia ser verdade. Não fazia sentido.

Com um movimento rápido, Chan pegou o notebook da mesa de cabeceira e se jogou na cama, os dedos tremendo enquanto começava a digitar freneticamente. A tela iluminava seu rosto pálido enquanto ele buscava por respostas que pudessem reconforta-lo.

Darkness always finds you either way | MinchanOnde histórias criam vida. Descubra agora