1. Você Gosta de Mochi?

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   O JAPÃO INEGAVELMENTE era um país fundamentalmente preocupado com o desenvolvimento dos seus jovens. Com a alta queda na taxa de natalidade, cada “bom cidadão” em condições de trabalho tornava-se uma preciosa joia do governo. Por isso o programa de reabilitação de menores infratores precisava de cada vez mais releituras e revisões para que a gama de possibilidades para aqueles jovens se ampliassem o suficiente para que eles desistissem da criminalidade.

Isso compunha os principais dizeres dos cartazes promocionais que viam-se espalhados pela cidade. Em parte fazia-se verdade porque o governo realmente queria mais mão de obra disponível por aí, mas dificilmente eles se preocupavam com esses jovens.

Adolescentes — às vezes crianças — deixados a esmo, muitos sofrendo nas mãos da própria família para chegar nessa situação. Era essa empatia por eles que a fazia insistir tanto no garoto à sua frente.

Izana Kurokawa.

Visivelmente de ascendência estrangeira — como você, coincidentemente — e ali por algo que ainda não sabia, embora tivesse anotado mentalmente ler a ficha dele inteira mais tarde.

— Por que você não preencheu a ficha vocacional? — perguntou-lhe, observando-o com curiosidade ali sentado no banco de tomar sol de pernas cruzadas como se fosse o dono do local.

— Você gosta de mochi?

Ele ignorou a sua pergunta. Nem ao menos olhava para você enquanto protegia os belos e grandes olhos violeta dos raios de sol que se esgueiravam pelo guarda-sol surrado acima de vocês.

— Perdão?

— Bom, eu gosto. Eu prefiro os doces, mas vou querer alguns salgados primeiro. Eles precisam ser caseiros, mochi comprado é nojento. Para acompanhar, chá verde gelado está bom, mas se for possível, eu quero em uma jarra de vidro com umas cinco ou seis pedras de gelo.

Você não o conhecia o suficiente para saber se ele estava, ou não, brincando... mas decidiu entrar na onda. Inclusive, ajeitou a prancheta contendo uma única folha — aquela com a ficha que ele não escreveu nada além do próprio nome — como se fosse uma garçonete de restaurante.

— Anotado, senhor! Deseja mais alguma coisa ou a senhorita aqui pode continuar a te fazer perguntas que você vai ignorar?

— Sabe o que é mais legal em vocês, voluntários? — ele indagou, não realmente na intenção de ouvir a sua resposta. — São chatos de uma maneira engraçada. Não é super estranho?

— Oh, me desculpe, é a minha primeira vez fazendo algo assim. Mas quem sabe se você também se esforçasse um pouco teríamos um momento mais agradável?

A brisa tranquila daquele dia era o que mantinha a sua cabeça leve para o que quer que aquele menino decidisse dizer. Você sabia dos riscos quando orquestrou esse encontro, não era tão ingênua. Estava de frente com jovens infratores, o que promovia uma possibilidade mínima de seus ouvidos não saírem ilesos de algumas ofensas, talvez até ameaças. Estar ali poderia ser os dois lados da moeda.

Poderia ser agradável, ou poderia ser um desafio.

— Pois bem, e que tipo de adulto você vai encontrar no final do dia para contar sobre esse momento agradável? — Um sorriso desdenhoso cruzou o rosto dele — Você parece do tipo mimada, então provavelmente só vai receber um afago na cabeça e tudo vai voltar a ser como era. Não há nenhuma razão para se esforçar aqui, eu não tenho nenhuma vontade de conversar com gente como você.

— Bom, você acabou de falar comigo um montão! — Você dedicou-se a permanecer radiante. Apesar do passivo-agressivo intenso, aquilo poderia ser o início de algo — Eu vou ignorar a sua presunção mas saiba que você foi rude, você nem sequer me conhece. E o que quis dizer com “gente como você”?

FLORESCER - Imagine Izana Kurokawa Onde histórias criam vida. Descubra agora