Daqui até a eternidade

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E se voltarmos no tempo?
Era fevereiro….

O pequeno Ramiro no auge de seus quase dez anos completos, corria pelos corredores de sua casa a todo vapor, corria de sua irmã gêmea que o perseguia com um chinelo na mão. Ele mastigava o último pedaço de bolo que havia roubado e ria enquanto a garota gritava e o perseguia pela casa.

A mais nova garotinha Neves, colocava lenha na fogueira correndo atrás dos mais velhos, dizendo coisas como “eu não deixava”, “nossa mana era a última você vai deixar?”, “pega ele, pega ele, joga o chinelo nele”, “conta pra mãe, Ali”, “ela vai te arrebentar Ramiro”.

Eles correram porta a fora enquanto a matriarca berrava para pararem de correr dentro de casa. Ramiro era rápido, passou o portão e ainda ouvia suas irmãs o perseguindo. Eles pararam no meio da rua, ofegantes e apoiando suas mãos nos joelhos. Eles se encararam brevemente antes de Aline abrir um sorriso e falar:

— Quem ficar por último é a mulher do padre.

Ela correu em disparada descendo a rua em direção a sua casa. Os três corriam, Iná sempre por último e os mais velhos disputando o primeiro lugar. Assim que chegaram, novamente estavam inclinados para frente se apoiando nos joelhos e respirando pela boca.

— Eu não quero me casar com nenhum padre. - Ela reclamou ao chegar.

— Já era, vai ter que casar, são as regras. - Ramiro falou certo e Aline concordou.

— Eu não vou! - Ina pronunciou já se irritando.

— Você vai sim, quem mandou chegar por último - Aline entrou na pilha. — Vai ficar longe da gente, logo alguém vem te buscar.

— Não vai, para de mentir.

— É verdade, o Kelvin se casou com um padre por isso que ele sumiu. - Ramiro se lembrou do amigo e percebeu os olhos da garota se encherem d'água.

— Não é verdade.

— É verdade sim!

Eles implicaram tanto com a mais nova que a garota começou a chorar falando que não queria se casar. Eles riram até a mãe chegar brigando com eles e a garota correr para abraçar as pernas dela denunciando tudo o que tinha acontecido. Aline e Ramiro se entreolharam culpados e só ouviram a bronca. O choro sentido da mais nova ecoou pelos cômodos da casa.

Os dias se passaram e logo Kelvin estava de volta chamando a amiga no portão de sua casa, em cima dos seus patins azul cheio de adesivos coloridos e proteção nos cotovelos, joelhos e o capacete na cabeça. A mãe do ruivo em cima de uma bicicleta amarela com a tinta muito gasta, que mais tarde viria a ser de Kelvin.

As crianças foram as primeiras a apontar para fora, Iná carregando seus patins e os mais velhos empurrando suas bicicletas. Era um sábado de muito sol e o almoço entre as famílias já tinha se tornado quase tradição. Enquanto as crianças brincavam na rua em frente de casa, as mulheres cozinhavam e colocavam o papo em dia, ambas trabalhavam muito.

— Ele não sabe. - Iná falou se referindo a Kelvin. Ramiro o tinha desafiado a uma corrida de bicicleta, ir até o fim da rua sem saída e voltar.

— É bebezinho, não sabe andar sem rodinhas. - Ramiro implicou apontando e rindo.

— Eu não sou um bebê. - Disse o menor dos três o empurrando.

— É sim, não sabe andar de bicicleta. - Ele continuou na implicância e Kelvin respondeu mostrando a língua pra ele.

— A gente te ensina. - Aline falou descendo da sua bicicleta.

— Eu não quero mais! - Disse o garoto cruzando os braços.

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