Em algum lugar escuro e desconhecido, Mikhail começou a recuperar a consciência lentamente. Sentia uma pulsação latejante em sua cabeça, a qual parecia comprimir seu cérebro a cada batida.
O ambiente estaria silencioso não fosse a presença de algo similar a um eco, sonorizado e repetido pelo vento e por murmúrios quase inaudíveis que ressoavam no ambiente, fazendo-o parecer profundo, mas definitivamente não vazio; ele não estava sozinho.
À medida que seus sentidos se aguçavam, ele tentava desesperadamente recordar de como havia chegado àquela situação, porém suas lembranças pareciam embaralhadas como cartas de pôker após uma aposta frustrada em um cassino cheio de apostadores compulsivos tomados pela esperança de um prazer momentâneo de uma vitória insignificante, e tudo o que conseguia se lembrar não passavam de fragmentos de imagens e vozes berrantes fora de contexto.
Quando finalmente ousou mover-se, percebeu que seu corpo doía como se houvesse sido espancado e pode notar também que seus movimentos estavam contidos. Contudo, ainda tentou mexer os braços, logo percebendo que estava acorrentado a uma cadeira com algemas de metal frio prendendo seus pulsos.
Assim como os demais sentidos, sua visão também se recuperava mas o tecido áspero em seus olhos o impedia de ver qualquer coisa além.
A sensação de impotência o fez querer entrar em pânico, porém algo como um mecanismo de defesa sendo ativado em modo automático o levou a não entregar-se a emoção, um truque mental que manteve o seu autocontrole. Mikhail apenas respirou fundo, o ar se esvaindo lentamente de seus pulmões após inspirar, sendo levemente perceptível à audição, trazendo a razão até si. Assim, concentrou-se em buscar, dentre as peças de lembranças fragmentadas, alguma que fizesse sentido.
Refugiando-se em suas memorias encontrou-se em meio a um cenário caótico correndo desesperadamente, atrás de uma figura desconhecida e então, tão bruscamente como um corte de filme antigo, incompleto e interrompido, a lembrança cessou, tornando-se um breu completo.
Desviando sua atenção, meio ao quase total silêncio e os pouco murmúrios, outro som pôde ser ouvido por si: passos lentos e a respiração pesada de outra pessoa distorcida e chiada, provocada pelo esforço que fazia para perpassar entre algo metálico, assemelhando-se a ruídos emitidos através de uma máscara de gás.
De inicio, o barulho era apenas um sopro longínquo mas aos poucos se aproximava de Mikhail. Cada inalação produzia um sibilo agudo e sutil, acompanhado por um leve clique metálico e então, finalmente, por uma voz, que ao passar pelos filtros da máscara se distorcia.
—Acordado, Magister?
A mente de Mikhail estalou, mesmo diante da voz retorcida havia algo nesse mundo que ele sabia e conhecia muito bem. Algo do qual nem mesmo a mais brutal desconfiguração conseguiria afastar a sua capacidade de reconhecer.
Seu coração saltou em uma curta e profunda batida, uma palpitação similar a uma reação ao ter sido espetado e as batidas que se seguiram eram frenéticas, estrondosos tambores que anunciavam um mal presságio. Ainda sim, ele permaneceu imóvel.
—Aprendeu a falar direito?
Era irônico; Mikhail até ousou sorrir de canto e levantar a cabeça para encarar o outro, mesmo que não pudesse vê-lo. Ele não estava amordaçado, então significava que não importava caso tentasse gritar, mas sua língua afiada não pôde conter-se.
—Eu esperava muitas coisas de você, mas traição é um pouco baixo demais...—Dissera com desdém.
Em retorno o outro apenas soltou um riso leve, que fora ouvido por Mikha e recebido, de inicio, não como algo afrontoso e sim como uma falta de resposta, entretanto ele não esperava o comentário que se seguiu.
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Arbor Label
Ficción GeneralApós a terra ser destruída a mais de 100 anos atrás a sociedade se modificou, quem havia fugido do caos do fim do mundo retornou e quem havia resistido a ele aqui ficou, Arbor para muitos é a fênix renascida das cinzas mas para Mikhail, descendente...