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Uma semana depois de estar bem acomodada em casa, fui abruptamente acordada por uma ligação de Mathias. Suas palavras atropeladas e ansiosas chegavam aos meus ouvidos como um turbilhão de sons que meus neurônios recém-despertos lutavam para decifrar. Mas, de repente, uma frase se destacou, trazendo-me instantaneamente para a realidade: Angeline havia acabado de sair da casa dele. Ele tinha mencionado que eu já estava em casa e, pelo visto, ela estava vindo para cá.

O pânico tomou conta de mim. Meu coração começou a bater mais rápido, como se quisesse escapar do peito. Minhas mãos tremeram, e senti uma fina camada de suor frio se formando em minha pele. Olhei para o espelho, encarando meu reflexo desarrumado: estava de roupa de dormir, cabelo para o alto, sem nem ter escovado os dentes.

Como eu poderia vê-la assim?

Como eu deixaria ela me ver assim?

"Eu preciso me arrumar, agora!" pensei, já em movimento.

Corri para o banheiro, pegando a escova de dentes e o creme dental, enquanto ligava o chuveiro. A água gelada me fez estremecer, mas não havia tempo a perder. Em um caos coordenado, eu tomava banho e escovava os dentes ao mesmo tempo, tentando, sem muito sucesso, desembaraçar o cabelo com os dedos enquanto a espuma da pasta de dente escorria pelo meu queixo. Estava tudo uma bagunça, e no meio disso tudo, me peguei perguntando por que diabos eu estava tão desesperada para parecer bonita para Angeline.

A campainha tocou, fazendo meu coração pular uma batida. "Ela está aqui", pensei, sentindo o frio na barriga intensificar. Já estava apresentável o suficiente, o melhor que consegui naquelas circunstâncias. Ainda assim, hesitei. Deixei a campainha ecoar mais uma vez antes de me forçar a andar até a porta.

Enquanto caminhava, as palavras de Lúcia, semanas atrás, voltavam à minha mente: "Enfrente seus sentimentos, Mar. Não fuja deles." Inspirei profundamente, tentando organizar meus pensamentos.

Finalmente, girei a maçaneta e abri a porta lentamente, tentando parecer surpresa. Um sorriso hesitante formou-se em meus lábios quando nossos olhos se encontraram. Angeline me deu um sorriso pequeno e, em seguida, me abraçou de forma breve e contida, como se não tivesse certeza se devia. Quando ela se afastou, o silêncio que se instalou entre nós era espesso e desconfortável. Parecia que ambos queríamos dizer algo, mas as palavras se recusavam a sair.

Tentando preencher o vazio, prendi a respiração por um segundo antes de soltá-la junto com as palavras que decidi dizer:

— Quer entrar?

A voz saiu mais suave do que eu esperava, e, por um momento, temi que ela pudesse perceber o nervosismo que eu tentava esconder.

Angeline olhou para mim por um instante, talvez medindo a sinceridade no convite, antes de dar um leve aceno com a cabeça.

— Claro.

Dei um passo para o lado, permitindo que ela entrasse. Enquanto ela passava, senti o cheiro familiar do perfume que ela sempre usava, trazendo uma avalanche de memórias que eu tentei, sem sucesso, enterrar. Fechei a porta atrás de nós, e enquanto a acompanhava até a sala, a tensão ainda pairava no ar, uma presença palpável entre nós duas.

Sentamos no sofá, uma de frente para a outra, mantendo uma distância segura, como se a proximidade pudesse desencadear algo que nenhuma de nós estava pronta para enfrentar.

— Como foi a viagem? — Angeline perguntou, forçando um sorriso, enquanto seus dedos traçavam padrões invisíveis na borda da almofada.

— Foi tranquila. Conheci alguns lugares novos, descansei bastante... — respondi, tentando manter minha voz casual, mas sentindo o peso do que não estava sendo dito. — E por aqui? Tudo na mesma?

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