"Balança da justiça"

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As semanas curtas como linhas de esboço passaram num tique de relógio. Conforme o tempo passava, as visitas ao hospital se tornaram mais frequentes à medida que o órfão mais velho obteve a ajuda fisioterapêutica necessária para que seus movimentos retornassem, bem como a neurológica. 

A primavera havia chegado, espalhando suas belas rosas pelo solo antes frio e sem vida e ambos os dois, agora reunidos, miravam o céu estrelado, deitados na grama em meio ao delicado jardim de Sirius Lullaby.

Zak pensava consigo mesmo o que poderia ter ocorrido se a morte fosse o destino dado ao seu próximo. Os fantasmas, o terror fora enfim ofuscado pela visão de Darryl ao seu lado, com os olhos prateados fechados enquanto aproveitava a tranquilidade da brisa suave que afagava-lhe os cabelos negros. 

– Lembro de algumas coisas que aconteceram antes de adormecer, imagino que seja melhor não dizer. – Apontou o mais velho, tirando o apoio de seu braço de cima da face. – Eu notei as queimaduras nas suas pálpebras e acho que não é saudável que você se lembre. 

– E sabe, é um pouco estranho sentir um órgão que não é meu dentro do meu corpo – ele caçoa de si mesmo, deixando um suave riso escapar de sua garganta. O olhar caindo sobre Zak. 

– Solanna e um amigo que fiz um tempo atrás foram a minha companhia, mas tinha algo um pouquinho esquisito nisso, sabe? – disse Zak, com um tom levemente apreensivo, virando-se novamente para cima, observando os incontáveis pontos luminosos que traçavam o céu. 

– E o que seria? – questionou Darryl, tornando a sentar-se sobre a grama. 

– Eu mesmo assim me sentia sozinho. Tinha algo faltando e eu sabia disso. – Lamentou o de pele manchada, que estranhamente ainda tinha um sorriso amargo em seu rosto. 

As pupilas do draconiano dilataram, sentia-se empático pelo seu próximo. 

– Eu sabia o motivo, e ele está bem ao meu lado, só que algo a mais ainda tinha, bem aqui – Mencionou Zak, pondo a mão em seu peito. – Ele estava sempre se sentindo muito preso e então queria sair pela minha garganta. Engraçado pra um coração de criança, não é? 

– Não… não é. – retrucou Darryl, preocupado. 

– Eu sei que eu não devia ser assim, mas eu sou. Ou talvez seja só drama meu, está tudo bem. - O de olhos azuis riu, pegando uma das orquídeas brancas do jardim. – por que está me olhando assim? Parece até que eu disse a maior atrocidade do mundo. 

O mais velho, cujo a face cheia de indignação transparecia em pesar, respirou fundo antes de responder. 

– É que você ainda nem ao menos chegou na sua adolescência. Me dá medo o quão de certa forma maduro sobre a vida você é, mesmo tendo só oito anos. – suspirou ele. – Mas o seu lado inocente por alguma razão é sempre quando algo se trata de um problema interno seu, quase como se invalidasse a você mesmo. 

– Mas eu sou uma criança! Eu não tenho como ser ansioso, só pessoas mais velhas podem. Você não concorda comigo? – indagou Zak. 

– Zak Ahmed. – Disse Darryl, chamando a atenção do garoto. – Antes de morrer, o meu pai e eu tivemos uma conversa juntos. Uma na qual ele mencionou a frase “ser mais novo não anula sua dor” – iniciou com a voz calma – Já parou para pensar sobre? Adultos têm problemas, adolescentes como eu temos problemas, crianças também podem ter. Qualquer um pode ter, porque a vida quase não tem seus favoritos, ela é carrasca com praticamente todo mundo. 

– Se você é uma criança, não anula nada e muito menos o que você sente. Esse peso não se compara, não existe dor maior ou menor. Porque querendo ou não, a culpa não é sua e nem nunca vai ser. Você não tem um senso completo de certo e errado e mesmo se tivesse ele totalmente, ainda iria errar. 

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⏰ Última atualização: Oct 31 ⏰

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