VALENCIA - cap1

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VALENCIA – cap.1

Em um mundo onde ninguém é santo, o diabo anda no meio do povo.
Em um mundo onde os anjos prevalecem, sempre existe um bode vestido de carneiro.
...
03/01/2020
Hanna Alves
- Você se atrasa de proposito? Porra, Mike! -
- Isso não é problema meu, você que escolheu estudar no início da cidade. -

Eu provavelmente fiz pacto na vida passada.

- Tá de brincadeira? – declarei, já estressada com a situação –
Ninguém fica bem as 7:00 da manhã de uma segunda-feira, na verdade, ninguém fica bem no primeiro dia do terceiro ano.

Ninguém nunca tá bem.

Mike me encarou com a escova de dentes inclinada na boca.
- Se for para apressar alguém, que seja seus pés! – indignou enquanto posicionava suas pernas em formato do número quatro, apoiado na pia de mármore do banheiro.
Direcionei meus olhos instantaneamente para meus calçados, percebendo que, até agora, estavam cobertos por uma pantufa cor de rosa.
- Merda... -
...
- Então, por que pediu para te transferirem? Você nem me falou antes. -
- Lá não tinha um bom método de aprendizado, só isso. -
Mike poderia ser um garoto irritante, um péssimo amigo, namorado, e até filho (se pelo menos ainda tivéssemos pais) mas, com certeza, era um ótimo irmão.

- Sei, mas não precisava ter ido para tão longe, não acha? – não, não acho.
- Pode acelerar? Estou atrasada – De algum jeito eu precisava cortar aquele assunto, antes que eu cortasse meu próprio pescoço no lugar.
- Não, não posso, por acaso não vê a placa? – Por favor, quem respeita placas de trânsito?
- E você por acaso segue as regras? –
- Nem preciso responder – Falou com um sorriso de orelha a orelha.

É incrível como os olhos não veem somente oque eles querem. Como os ouvidos não escutam apenas oque desejam. Como as suas mãos não tocam ou fazem só o que tem vontade.
Já parou para pensar nas coisas minúsculas que fazemos em horas? Varrer a casa, fazer um desenho, assar uma torta...
Mas nós nunca pensamos nas coisas enormes que fazemos em segundos.

Eu senti o carro colidir e frear instantaneamente, o baque do carro com o que estava a frente me fez inclinar e proteger meu rosto com as mãos, numa falha tentativa de proteger meu corpo do que seja que nos bateu.
Ou, foi ao contraio.
Em vez de explodir, estrondar, quebrar ou arranhar, o carro estava intacto.
Meus cachos claros e ruivos estavam esparramados em minha cabeça, minha roupa amassada e meus olhos esbugalhados.

Olhei desesperadamente para Mike, que olhava adiante, paralisado.
Eu não enxergava nada a frente, então, no que havíamos esbarrado?
Sangue, havia sangue.
Meu peito se encheu de angústia, meu corpo gelou.
De pouco em pouco minha garganta clamava por liberdade. Posicionei minhas mãos sobre minha boca numa tentativa de abafar a vontade oprimente de gritar como louca.

Em segundos, Mike desceu do veículo e parou em frente o corpo horrorizado, ele me olhou, e, num momento de desespero, disse:
- Fudeu

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Caso tenha visto algum erro ortográfico, por favor avise em: @duartzys

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