Comitê de saúde

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VALENCIA - Cap.6

Ah não.

Eu já passei por muita coisa nessa vida, ( e, com certeza, na passada também) mas ter que aturar uma senhora de sessenta anos com fetiche em naftalina não estava na minha lista de desejos.

- Atrasada, como sempre - Expressou a Diretora Dunk.

Marry Dunk gostava bastante de mim, mas eu nunca entendi muito bem o porquê.
Eu sempre chegava fora do horário, mas minhas notas são boas, e eu nunca dei trabalho, pelo menos, não a ponto de ser tão ruim assim.

Vi pelo canto do olho barbará cruzar os braços e levantas as sombrancelhas, jogando a cabeça de lado e encarando minha alma.

Eu tenho certeza de que ela não é humana.

- Por favor, vá até minha sala no final da aula.

Droga.

A Diretora Dunk veio em minha direção olhando reto, indicando que estava saindo da sala. Abri espaço e encarei o chão, pedindo permissão para me sentar.

- Alves?

Olhei reto, encarando a Doutora.
Foi aí que me toquei, Barbará não é professora, ela pode ser até o capeta, mas não faz sentido ser professora e trabalhar em um hospital ao mesmo tempo.
Assim que ergui a cabeça, vi a professora de história atrás da Senhora, segurando alguns papéis.

- Bom, dando continuidade ao que a Senhora Dunk estava dizendo, Dona Barbará será a nova responsável pelo comitê de saúde da escola, junto da organização da enfermaria.

Ah, agora faz sentido.

- Enquanto a você, Alves, por favor, se retire da sala até o próximo horário. - A professora indignou.

Desgraçada, nunca gostei de história mesmo.

Suspirei baixo e me virei, tentando manter a calma.

Meus pais eram conhecidos na cidade, mas não por um bom motivo. Meu pai foi preso três vezes antes de se casar com minha mãe, logo depois, os dois morreram de forma "desconhecida".

Por isso algumas pessoas não gostavam de mim, elas me viram como uma réplica do que meu pai já foi.

Nós não somos nossos pais.

Eu os vi morrendo, mas não faço a mínima de como morreram.
Alguns médicos e especialistad diseram que foi intoxicação, algum tipo de substância no suco de maracujá, mas isso não faz sentido algum.

Eu apenas escolhi me calar.

Estava sentada em um bando de madeira em frente a sala, encarando um livro de capa azul. A culpa é das estrelas.
Ouvi a porta da sala se abrir, porém, continuei encarando as folhas amareladas. Olhei rapidamente para meu relógio de pulso, vendo o horário.

9:37

- Mas o horário acaba as 9:45 - Disse baixo.

- Eu sei. - Uma voz grossa afirmou.

Me virei olhando pra cima, na tentativa de enxergar a pessoa que de dirigiu até mim.
Raios de luz esbarravam em meus olhos, dificultando meu esforço.
Tampei a luz com as mãos e semiserrei minhas sombrancelhas, enchergando a pessoa na minha frente.

- Steve?

- Em carne, osso, e curativo - Riu baixo.

Sempre rindo...

- Oque faz aqui? - perguntei

- Me transferi, não me dava bem na escola antiga, depois do acidente ficou tudo bem mais difícil. - Se explicou.

- Entendo, então... De que sala você é?

Steve me olhou com a boca entre aberta, soltando um suspiro engraçado pouco depois.

- Bom, eu estou na sua sala.

Meus olhos se arregalaram e eu congelei.

- Qual é, não é tão ruim assim.
Me dei conta de que estava agindo como se fosse algo ruim, e tratei de mudar isso.

- Oque? Não! Não, isso, não é bom, quero dizer, ruim, não é ruim não.

Em vez de rir, Steve apenas me encarou.

Abismo.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o sinal tocou, dando início ao intervalo.

- Vamos? - Alegou Steve.

- Claro. - Falei animada.

...

12:07

A sala estava vazia, o único barulho presente era do ar-condicionado, que faltava saltar da parede de tão mal colocado.

Todos já tinham sido liberados, inclusive Steve, que se despediu de mim com um beijo na mão, fazendo gracinha, obviu.

Meus pés tremiam no chão, realmente a Diretora Dunk gostava de mim, mas se eu fosse ela, já teria perdido a paciência comigo a muito tempo.

Ouvi um barulho de chave vir de traz da porta, parei de balançar meus pés para tentar transmitir calma ( oque, obviamente, não funcionou), suspirei fundo, e rezei.

Brincadeira, eu nem sei rezar.

- Boa tarde, Querida. - disse contornando a mesa e se sentando na cadeira giratória a minha frente.

- Boa tarde Senhorita Dunk.

- Apenas Dunk, por favor.

Sorri em concordância.

- Te chamei aqui por dois motivos, portando, um liga o outro.

Isso não está me cheirando bem.

Acho que fiz xixi nas calças.

- Você é uma ótima aluna, em pouco tempo que chegou, já se mostra uma pessoa...útil.

Isso foi um elogio?

- Porém, seus atrasos são inadmissíveis, não podemos aceitar que se atrase todos os dias sem uma única punição.

Mas que mer...

-  Você irá fazer trabalho voluntário no comitê de saúde do colégio.

Como?

- Perdão, Sen... Dunk, mas eu não levo jeito pra isso, não estou fugindo da minha responsabilidade, mas creio que isso seja um risco grande, cuidar da saúde de outras pessoas, não me garanto disso.

Dunk sorriu pra mim.
- Fico encantada com sua maturidade, mas você já tem dezessete anos, e aprender é sempre um bom negócio, não é mesmo?

Não.

- Em especial, queremos que cuide de um aluno que teve um sério caso de Politrauma.

- Poli... Oque? - Acho que já ouvi esse nome antes...

Dunk colocou uma ficha em cima da mesa, empurrando-a para perto de mim.

Segurei a ficha e arregalei os olhos, tentando não sorrir.

- Este é Steve Biwes, aluno novo do 3° ano B, cerca de dois meses atrás, Biwes sofreu um atropelamento que causou em certos ferimentos graves, ele se recuperou quase por inteiro, mas ainda precisa de auxílio na aplicação dos remédios.

Eu estava boquiaberta, destino? Sorte? Mágica?

Demônios?

Barbará?

Descubra a seguir na novela das nove...

- Alves?

Sai do meu transe, agilizando minha fala.

- Sim! Sim, é claro, por que não, haha.

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⏰ Última atualização: Oct 16 ⏰

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