VALENCIA cap.3
Hanna Alvez
Eu sempre tirei sarro da cara do Mike dizendo que ele tinha prisão de ventre, mas não pensava que fosse tão sério.
Fazia cerca de trinta minutos que eu estava sentada em um banco escuro no canto do hospital, esperando alguma notícia relativamente útil do meu irmão, mas parece que ele decidiu parir o próprio estomago logo agora.
- Ele acordou, porém está em mau estado. Estamos esperando algum parente aparecer para a visita, mas no sistema não consta ninguém. – Ouvi uma enfermeira ruiva dizer; ela era alta, tinha um nariz pequeno e seus cabelos queimados estavam envolvidos em uma rede branca.
- Pensou na mesma coisa que eu?
Com o susto, movi meu corpo para frente e direcionei meus olhos para o motivo do meu quase infarto. – Mike.- Tá maluco? Vai assustar sua vó garoto!
- A gente nem tem vó cenourinha. – Eu odeio esse apelido.Mike também nasceu com cabelos ruivos, mas ele sempre insistiu em dizer que seu contraste combinava com cabelos pretos, no caso, a cor atual dele. Por isso, ele me tirava do sério todos os dias falando que eu parecia uma cenoura podre.
- O que você quis dizer com “pensou a mesma coisa que eu”? – Perguntei, utilizando meus dedos como aspas.
- A gente fala que faz parte da família dele, os enfermeiros liberam a nossa entrada, pedimos desculpas, e depois vivemos felizes. – Não é possível.
- Pedir desculpas e viver felizes? Tá de brincadeira? A gente quase matou o garoto, não dá para se desculpar e continuar vivendo como se nada tivesse acontecido!
- Na verdade...
- Mike!
- Okay, tudo bem, você venceu, nada de vivermos felizes – Idiota.
- Mesmo assim - continuou – precisamos pedir desculpas e falar que vamos pagar pelo tratamento.
Até que ele pensa as vezes.
- Olha só, o idiota tem coração.
- Se não calar a boca, eu vou perfurar o seu – Disse segurando a risada, oque, obviamente, não deu muito certo.Senti uma mão áspera tocar meu ombro descoberto por conta da regata cinza que eu estava usando. Olhei adiante e percebi a outra mão pertencente a pessoa pousada no braço de Mike, enquanto ele encarava a doutora com uma expressão confusa.
- Com licença, como podem ver, o hospital está cheio e vocês estão tagarelando em um nível de voz muito alto, se continuarem assim, eu infelizmente vou ter que retirá-los daqui. – O lado bom, é que a culpa sempre vai para o irmão mais velho.
Em segundos, vi a pupila dos olhos marrons do meu irmão diminuírem. Isso não é bom.- Peço perdão, meu filho foi atropelado, não sabemos quem foi o pilantra que fez isso, além do mais que, não o vi até agora, estou tão preocupado que meu coração ameaça sair pela boca – logo após essa fala, vi lágrimas desabrocharem dos olhos escuros de Mike.
Filho?
Esse garoto engana até o diabo.
- Peso perdão, sei como é difícil uma situação como essa – Ela se virou para mim com uma feição claramente falsa e despreocupada – desgraçada - Você deve ser a irmã do garoto, certo? – Ah não.
- Sim, sim, meu amado menino, tão jovem, não é mesmo? – Eu rezei para que esse garoto não seja algum tipo de adulto vendedor de pornô do tinder.
- Realmente, estão falando do garoto Biwels, certo? – Mas que...
- Exatamente, sou Mike Biwels, muito obrigada por nós ajudar doutora. – Alegou meu irmão.
- É o meu trabalho – Que grosseria – Me acompanhem.Tem gente que trabalha por ódio e opressão mesmo, amor ela só tem pelo salário.
Assim que levantei do meu assento, pude ver mais de perto o crachá pendurado no pescoço da mulher, indicando que seu nome era Barbará.
Enquanto ela nos guiava até a sala do garoto Biwels, olhei para Mike, que estava ao meu lado, alguns passos atrás da doutora.
Eu li em seus olhos: Eu falei que iria funcionar.
Semicerrei meus olhos em direção a sua pupila, encarando o mais fundo e intimidador que eu pude.
De repente, barbará parou no meio do corredor e virou a página do caderno azul em suas mãos. Logo depois, se virou brutalmente para nós, soltando um suspiro de cansaço de dentro de sua boca.Pronto, a desgraçada virou cavalo agora.
- Viemos para o lado errado, a sala de lesões fica no quarto andar. – Disse com o rosto relaxado, sem olhar nenhum de nós dois diretamente.
Eu não desci dois andares à toa, né?
Mike colocou a mão na nuca, se virando e indo em direção ao elevador. Decidi, após algum tempo, que seguir meu irmão poderia ser mais eficaz do que uma doutora mal-informada.
Ouvi os passos de barbará se distanciarem de nós, e então...
- Para onde estão indo? – É, exatamente o que eu pensei.
- O elevador está em concerto, vamos subir de escada.
- Escada rolante, né? Doutora, eu sou pai, minhas colunas estão fracas, não aguento tanto esforço! – Céus.
- Sinto muito senhor, mas é isso, ou ficaremos por aqui. – Barbará deu de ombros e virou as costas, continuando a andar no caminho de elevador – Essa mulher precisa se aposentar urgentemente....
- Pai nosso que estais no céu, santificado seja teu nome...
- O que diabos você está fazendo? – Perguntei, curiosa.
- Rezando, eu quero conseguir chegar no final da escada sem desmaiar, na menor das hipóteses
- Chegamos. – Afirmou a doutora. – Ao quarto andar, a sala fica no último corredor
- Ultimo corredor? Se chegar um cadeirante nesse hospital, vão levá-lo através de telepatia?Acho que o paizão do ano está perdendo a postura.
- Sem estresse, já estamos quase lá - Disse a mulher.
Barbará era uma mulher de poucas palavras, sílabas, letras. Ela não falava, pelo menos não como uma pessoa humanamente normal.
Enquanto andávamos em direção a sala do garoto Biwes, passamos por uma sala de cor diferente.
"Sala de amputação"
Quando cruzei com a brecha aberta da porta de madeira, vi uma garota chorando ao lado de uma doutora e uma mulher, aparentemente, sua mãe.
A garota tinha falhas no cabelo e machucados no braço, só então, percebi que , a parte de baixo do seu joelho direito, não existia.
A dor de acordar sem uma parte do próprio corpo deve ser avassaladora, perder um dedo mindinho já deve ser oprimente, imagine um membro.- achou quem dentro dessa sala? Jesus? - Mike, esse garoto é meu fã.
- Sim, ele me disse que você vai de escorrega lá pra "cima" - Disse com ironia, passando na frente dele enquanto me encarava com um olhar de: Eu ainda te jogo no lixo.Barbará nos esperava em frente a sala com uma placa de papel.
"Biwes"
- entre um de cada vez, sei que a espera é ampla, mas ele está em risco, tenham paciência.Eu tô perdendo a paciência é com essa barbarete.
- Filha, quer fazer as honras?
Filha? Honras? Mike eu vou...
- não temos o dia todo, Querida, pode entrar.
É, eu com certeza fiz pacto na vida passada.
Barbará deu espaço, balançando seus cabelos grisalhos, incrivelmente longos.
Segurei a maçaneta com firmeza, senti minha mão arder com tanta força sendo depositada. Respirei fundo, fechei e abri meus olhos, numa tentativa de fugir do agora.
Uma outra realidade...
_________________________________________Caso tenha vista algum erra ortográfico, por favor avise em: @duartzys
❤️ - Like
☆☆☆☆☆
VOCÊ ESTÁ LENDO
VALENCIA
FantasíaHanna, uma estudante do terceiro ano, tem a vida arruinada após a anátema dos quatro elementos destruírem a cidade de Needles, na Califórnia. Junto de seus piores inimigos e uma garota desconhecida, Hanna pretende continuar na luta pela sua própria...