Barbarete - Cap.4

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VALENCIA cap.4

Hanna Alvez

Minha mão, já avermelhada pela força usada para segurar a maçaneta, tremia e relutava contra a vontade de correr e descer todos aqueles malditos degraus novamente.

- Hanna? prefere que eu vá primeiro? - Mike alegou, tentando tirar o peso das minhas costas.

Não respondi, apenas levantei a cabeça e abaixei a trava da porta, dando visão a um quarto escuro, iluminado somente por um abajur ao lado da maca.

Adentrei totalmente ao cômodo, fechando a porta atrás de mim com o máximo cuidado possível. Não queria arrumar (mais) problemas.

Me aproximei da cama branca, ela possuía listras grosas azuis nas laterais, a cor da parte externa do hospital.
Coloquei minha mão esquerda na maca e olhei, receosa, para o corpo deitado.

O garoto Biwels.

Seus cabelos eram incrivelmente loiros, confundíveis com um tom de ruivo claro. Seus olhos estavam levemente fechados e inchados, ele possuía hematomas roxos e verdes, espalhados também pelas bochechas até o pescoço.

Seu corpo estava coberto por um fino lençol branco, escondendo quase por completo a camisola hospitalar que ele vestia.

Um som ecoou na sala, me fazendo piscar depois de alguns segundos mobilizada.

As luzes se acenderam de pouco a pouco, iluminando os poucos moveis no local.

Ouvi um ruido de dor vindo por cima do meu ombro. Me virei com rapidez e vi o "garoto Biwels" se remexer e abrir lentamente os olhos.

Depois de relutar contra o próprio corpo, ele me encarou com um olhar cansado, sem forças para levantar ou fazer qualquer movimento brusco. Não era possível ver seus olhos por conta do peso em suas pálpebras.

- Mãe?

O que?

- Desculpa, o que você disse? - Respondi, com a voz baixa e falhando.
- Você não é minha mãe - O garoto me olhava com indignação.

Apenas quando Biwels apertou as sobrancelhas e falou em um tom de voz mais alto, que pude reparar em seus olhos.

Pretos.
Seus olhos eram incrivelmente pretos.

Confesso que me surpreendi, seu contrate era tão claro e delicado, que poderia jurar que seus olhos tinham cor de pupila.

Os olhos escuros são os mais profundos.

- Quem é você? - perguntou, retirando seus olhos de cima de mim, e focando-os em uma mesa repleta de livros.
Ele tinha um maxilar travado, sua pele era bronzeada, mas perceptível que não era natural.

Natural eu não sei, mas era hipnotizante.

- Hanna, eu, não sou a Hanna - O que exatamente eu acabei de dizer?
Biwels sorriu com dificuldade e voltou seus olhos para mim - O.k., você não é a Hanna, então, quem você é? - Disse se ajeitando na maca com um sorriso brilhantemente tentador.

O que eu estou fazendo?

- Desculpa, eu sou a Hanna, Hanna Alves - Fala direito garota, você tem dezessete anos, não doze!
- Entendi, Alvez. Eu sou o Steve - Alvez... Isso vai ser divertido.

- Steve Biwels, certo?
- Exatamente, como sabe?
- Foi um chute, até porque não tem uma placa com seu nome na porta - Falei, apontado com o polegar para a porta ao lado.

- Sério? Você é boa nisso, deve ser melhor que o Messi.

Ele tem cara de ser um Simon, mas com certeza é um Alvin.

- Engraçadinho.
- Claro, tenho dezoito anos de puro entretenimento.
- E eu tenho dezessete anos de puro ódio e rancor.
- É, eu percebi, Alvez.

Porra.

Sorri e me virei de costas, encarando a mesa que ele tanto olhava. Logo, me dirigi até ela.

- Mas e então, o que faz aqui? Eu tenho Alzheimer e esqueci que você é minha namorada ou, algo assim? - Se fosse assim, espero realmente que você tenha esquecido de tudo.
- Não estamos em um filme, Biwels.
- Claro que estamos, a diferença é que ninguém está sendo filmado
- Meu irmão estava dirigindo o carro que te atropelou, viemos ver se está bem e dizer que vamos pagar pelo...gasto.
- Bem eu não estou, mas aceito a parte de "pagar pelos gastos" - Disse com um sorriso genuíno no rosto. Ele não parava de sorrir, era agoniante e lindo ao mesmo tempo.

- Claro - Falei, sorrindo. - Aliás, você... - Fui interrompida por várias batidas repetidas na porta.

Barbará.

A desgraçada da Barbará.

- Está tudo bem aí? Por que a demora? Eu vou entrar!

Revirei os olhos e cruzei os braços, demonstrando a perturbação que aquela mulher fazia na mente de qualquer ser humano.
Escutei uma risada abafada ao meu lado, olhei para Steve e o observei imitar meus movimentos.

Eu mereço.

- Não temos todo o tempo do mundo, entendo a saudade, mas seu pai ainda está na espera e não temos muito tempo - Disse a doutora, entrando brutalmente na sala e logo alterando o olhar entre o Biwels e eu.

Na mesma hora, meus olhos se arregalaram lembrando da imensa mentira que meu irmão tinha inventado.
Inclusive, eu precisava verificar se ele estava vivo após passar tanto tempo com a bruxa barbará.

Antes de qualquer um de nós dois conseguir dizer alguma coisa, a bruxa Barbará alegou:
"finalize a conversa o mais rápido possível, por favor"

Barbará se retirou da sala. Eu e Steve nos entreolhamos e falamos ao mesmo tempo:
- Tinha que ser a Barbará
- Tinha que ser a Barbará

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Caso tenha visto algum erro ortográfico, por favor avise em: @duartzys

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