Capitulo 10

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Na manhã do voo, Rayssa acordou mais cedo do que o normal, o nervosismo não a deixando dormir. Felipe e Arthur estavam tão ansiosos quanto ela, mas tentavam manter o clima leve com piadas e conversas descontraídas. Lílian, sempre atenta, preparava o café da manhã enquanto observava a filha, percebendo a mistura de excitação e apreensão nos olhos de Rayssa.

Nathalia, por sua vez, estava tentando se manter calma enquanto fazia o check-in no aeroporto. A cada passo, sentia o peso de estar sozinha naquela viagem. Mas sabia que, em breve, o trabalho e a adrenalina do evento a manteriam ocupada.

No entanto, quando chegou ao portão de embarque e avistou Rayssa com sua família e equipe, o coração de Nathalia disparou. Ela não esperava encontrá-los ali, pelo menos não tão cedo.

Rayssa também notou Nathalia imediatamente. E, por um momento, o tempo pareceu parar. As duas se encararam de longe, sem saber o que fazer ou dizer.

Foi Felipe quem tomou a iniciativa, acenando para Nathalia e a chamando para se juntar a eles. Relutante, ela se aproximou, tentando manter a compostura.

- Ei, Nathalia, bom te ver. Tá viajando sozinha? - perguntou Felipe, já sabendo a resposta, mas tentando quebrar o gelo.

- É, primeira vez... - respondeu Nathalia, tentando soar casual.

- Então fica com a gente. Assim você não fica sozinha, e a gente já faz companhia durante o voo, né? - Lílian sugeriu, com um sorriso acolhedor.

Nathalia hesitou, mas a oferta parecia genuína. E a verdade era que a ideia de viajar ao lado de Rayssa, mesmo com toda a tensão entre elas, era mais reconfortante do que enfrentar o voo sozinha.

Rayssa tentou disfarçar a própria surpresa com a situação, mas por dentro, estava grata pela intervenção de Felipe e pela gentileza de sua mãe. Talvez essa viagem fosse a oportunidade que elas precisavam para, finalmente, resolver as coisas.

Enquanto se acomodavam no portão de embarque, Nathalia ainda estava tentando se ajustar à ideia de viajar com a família de Rayssa. Ela sentou-se ao lado de Lílian, que não perdeu tempo em oferecer um suporte acolhedor.

- Não se preocupe, Nathalia. Sei que viajar sozinha pode ser assustador, mas estamos todos juntos nessa. - Lílian disse, com um sorriso tranquilizador. Seu sotaque suave e acolhedor misturava-se com o tom caloroso de sua fala.

Nathalia agradeceu com um aceno de cabeça e tentou relaxar, mas a presença de Rayssa, mesmo que a poucos metros de distância, era difícil de ignorar. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que falar com Rayssa. Talvez até esclarecer algumas coisas que ficaram em suspenso.

Felipe, percebendo o desconforto de Nathalia, decidiu colocar seu plano em ação. Enquanto todos se levantavam para embarcar, ele rapidamente se virou para Rayssa.

- Ei, Rayssa, acho que você deveria se sentar ao lado da Nathalia durante o voo. Assim, a gente pode aproveitar para conversar e relaxar um pouco, certo? - Felipe disse com um tom despreocupado, mas determinado. Seu sotaque maranhense era evidente, e sua forma direta e amigável ajudava a suavizar a tensão no ar.

Rayssa olhou para ele, meio desconfiada, mas sabia que discutir com Felipe era inútil. Ele sempre foi o tipo de amigo que insistia quando achava que algo era para o bem dela.

- Eu não sei se isso é uma boa ideia... - Rayssa começou a responder, mas foi interrompida por Felipe, que já estava tirando a passagem de Nathalia da mão de Lílian.

- Claro que é! Vocês duas têm muito o que conversar, e é uma longa viagem até Paris. Aproveitem para botar o papo em dia. - Felipe piscou para Nathalia, que também parecia relutante.

- Felipe, eu... - Nathalia tentou protestar, mas foi igualmente ignorada quando Felipe lhe entregou a passagem de Rayssa.

Lílian observava tudo com uma expressão que misturava aprovação e preocupação. Ela sabia que sua filha e Nathalia tinham um histórico complicado, mas talvez esse fosse o momento que elas precisavam para finalmente confrontar o que sentiam.

Resignadas, Rayssa e Nathalia pegaram suas bagagens de mão e começaram a caminhar lado a lado em direção à entrada do avião. O silêncio entre elas era quase palpável, mas carregado de emoções não ditas.

No avião, Rayssa se acomodou na janela, enquanto Nathalia ocupava o assento ao lado. Por um instante, as duas ficaram em silêncio, apenas ouvindo os sons ao redor enquanto o avião se preparava para decolar.

Nathalia tentava se distrair olhando para a revista que encontrou no bolso da poltrona, mas a presença de Rayssa era inegável. As memórias dos momentos que viveram juntas inundavam sua mente, tornando difícil manter o foco em qualquer outra coisa.

Rayssa, por outro lado, estava concentrada em não olhar diretamente para Nathalia. Cada movimento da influenciadora ao seu lado a fazia querer puxar conversa, mas ela sabia que precisava ser cuidadosa. A última coisa que queria era começar uma discussão ali, no meio de um voo internacional.

O avião começou a taxiar, e o leve tremor da decolagem foi o suficiente para quebrar a tensão. Nathalia, que sempre se sentiu um pouco desconfortável durante decolagens, agarrou instintivamente o braço de Rayssa. Quando percebeu o que tinha feito, retirou a mão rapidamente, o rosto corando de vergonha.

- Desculpa, eu... - Nathalia começou a se desculpar, mas Rayssa a interrompeu, sorrindo.

- Tá tudo bem. - Rayssa disse suavemente, com seu sotaque maranhense misturado com um tom reconfortante. - Eu sei que você não gosta muito de decolagens. Pode segurar se quiser.

Nathalia hesitou por um momento, mas, finalmente, aceitou a oferta. Segurou o braço de Rayssa novamente, tentando encontrar algum conforto naquele contato familiar. Enquanto o avião subia, as duas ficaram em silêncio, mas agora, a tensão era substituída por uma sensação de conexão que ambas sentiam falta.

Quando o avião estabilizou e as luzes de cinto de segurança se apagaram, Rayssa decidiu finalmente romper o silêncio.

- Nathalia, sobre a gente... Eu sei que as coisas não terminaram bem entre nós. - Rayssa começou, sua voz baixa, para não chamar a atenção dos outros passageiros. - Eu só queria que você soubesse que eu... eu não queria que fosse assim.

Nathalia desviou o olhar, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. Ela sabia que essa conversa viria em algum momento, mas ouvir aquelas palavras de Rayssa ainda era doloroso.

- Eu também não queria que terminasse assim. - Nathalia respondeu, sua voz quase um sussurro, com seu sotaque carioca marcando a suavidade e a vulnerabilidade de suas palavras. - Mas eu não sei como consertar isso, Rayssa. Eu não sei se podemos voltar ao que éramos antes.

- Talvez não. - Rayssa concordou, olhando para o horizonte pela janela. - Mas talvez possamos construir algo novo. Eu não quero que a gente continue assim, se evitando, fingindo que não se importa.

Nathalia ficou em silêncio, pensando nas palavras de Rayssa. Ela sabia que a skatista tinha razão. Continuar como estavam, ignorando o passado, só tornaria as coisas mais difíceis no futuro.

- Você está certa... - Nathalia finalmente admitiu. - Talvez a gente precise tentar de novo. Mas devagar, Rayssa. Eu não sei se estou pronta para tudo de uma vez.

Rayssa assentiu, compreendendo os sentimentos de Nathalia. Ela também não estava pronta para tudo, mas sabia que, se continuassem se apoiando, talvez pudessem encontrar um caminho para o futuro, mesmo que fosse diferente do que haviam imaginado.

Conforme a conversa prosseguia e o cansaço se fazia sentir, Nathalia acabou adormecendo no ombro de Rayssa. Rayssa, com um gesto gentil, passou a mão pela cabeça de Nathalia, alisando seus cabelos de forma reconfortante. O avião continuava sua viagem tranquila, e Rayssa sentiu uma mistura de alívio e esperança. A proximidade de Nathalia, agora adormecida e confiante, parecia prometer uma nova chance para ambas.

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⏰ Última atualização: Sep 02 ⏰

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Quando o Silêncio Fala - Rayssa Leal Onde histórias criam vida. Descubra agora