▪︎Capítulo 3▪︎

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Dante Nocturne

A escola era um ambiente ridiculamente fácil de manipular. Os humanos aqui eram movidos por impulsos tão básicos que chegava a ser patético. Mas havia uma certa diversão nisso. Eu andava pelos corredores como um lobo disfarçado em pele de cordeiro, observando as reações ao meu redor. Era interessante ver como esses adolescentes reagiam a uma presença como a minha—um estranho, novo, e com uma aura que eles não conseguiam explicar.

As meninas, especialmente, eram previsíveis. A primeira que se aproximou tinha cabelos loiros e um sorriso que ela provavelmente praticava no espelho todos os dias.

— Oi, você deve ser o Dante, certo? — Ela falou com um entusiasmo que beirava o ridículo. — Sou a Sarah. Se precisar de ajuda para se acostumar, posso te mostrar a escola... ou talvez a cidade, se você quiser. — O tom da voz dela era claramente insinuante, uma tentativa desesperada de parecer sedutora.

Sorri de lado, o tipo de sorriso que eu sabia que faria o coração dela bater mais rápido. 

— Sarah, não é? Vou me lembrar disso. — Respondi, deixando minha voz cair para um tom mais baixo e íntimo.

Ela corou imediatamente, o que só reforçou o quão fácil tudo isso era. Continuei andando, ciente de que os olhos dela me seguiam, quase devorando cada movimento meu.

Logo depois, outra garota se aproximou. Morena, com olhos escuros que tentavam ser misteriosos, mas falhavam miseravelmente. Ela estava tentando agir indiferente, mas a ansiedade em seu rosto era inconfundível.

— Ouvi dizer que você é novo por aqui. — Ela comentou, tentando parecer casual. — Talvez você precise de um guia. Eu conheço todos os segredos deste lugar. — Ela piscou, como se isso fosse o bastante para me impressionar.

Eu a encarei por um momento, deliberadamente deixando o silêncio crescer antes de responder.

— Segredos, é? — Inclinei-me ligeiramente, o suficiente para ver a pequena faísca de esperança em seus olhos. — Adoro segredos. Talvez você me conte algum mais tarde.

Ela quase tropeçou nas próprias palavras ao tentar responder, mas eu já estava me afastando, perdido na multidão de alunos que agora cochichavam sobre mim.

Mas nada disso realmente importava. O que me mantinha interessado era a garota que estava na minha frente, caminhando à minha frente pelos corredores. Aurora. Ela era diferente de todas as outras. Seus cabelos castanhos caíam suavemente sobre os ombros, e seus olhos verdes eram como duas esmeraldas cintilantes, cheios de uma pureza quase ingênua. Seus traços eram tão suaves que eu poderia compará-la a um anjo, o que tornava a ironia de nossa situação ainda mais deliciosa.

Ela não estava fascinada por mim como as outras. Na verdade, ela me evitava como se eu fosse a própria morte encarnada. E talvez, de certa forma, eu fosse. Mas eu sabia que, por mais que ela tentasse se afastar, ela nunca conseguiria escapar.

Ao entrar na sala de aula, algumas meninas me olharam de cima a baixo, trocando sorrisos e risadinhas que eu ignorei. Sentei-me no fundo da sala, mas não antes de notar que uma garota de cabelos avermelhados me lançou um olhar que era, sem dúvida, um convite silencioso.

Mas minha atenção estava em Aurora. Ela estava sentada perto da janela, com a luz da manhã batendo em seu rosto de um jeito que quase a fazia parecer etérea. Eu podia sentir a tensão em seus ombros, a maneira como ela mantinha os olhos fixos no quadro, evitando qualquer chance de contato visual comigo.

E era isso que tornava tudo tão divertido. Aurora era uma presa que não sabia que já estava capturada. E enquanto as outras garotas podiam flertar e suspirar, ela era a única que realmente importava. Ela tinha feito um pacto comigo, e agora, eu estava em seu mundo, me divertindo com cada segundo.

Porque, no fundo, eu sabia que, cedo ou tarde, Aurora teria que enfrentar a verdade: não importa o quanto ela quisesse, eu não iria embora. E isso era só o começo.

  ■■■■

O intervalo chegou, e a agitação no pátio da escola era quase ensurdecedora. Grupos de alunos espalhados pelas mesas, risos altos, cochichos e olhares furtivos. Era o caos normal de qualquer escola, mas para mim, era um cenário fascinante. Estava acostumado a ver humanos nas situações mais diversas, mas ali, com suas preocupações juvenis e dramas insignificantes, havia algo de quase... patético e interessante ao mesmo tempo.

Aurora estava sentada sozinha em um canto, com um livro nas mãos, mas eu sabia que ela não estava realmente lendo. O jeito como seus olhos corriam pelas páginas sem absorver nada denunciava o quanto estava perdida nos próprios pensamentos. Eu a observei por um momento, me deliciando com sua tentativa inútil de ignorar minha presença. Ela era um enigma que eu não estava disposto a deixar escapar.

Aproximei-me sem pressa, aproveitando cada passo como se fosse parte de uma coreografia cuidadosamente ensaiada. Aurora ergueu os olhos apenas quando eu já estava bem perto, e a faísca de desconforto em seu olhar me fez sorrir.

— Está se escondendo, meu anjo? — perguntei, me encostando à mesa ao lado dela com a maior tranquilidade do mundo. Chamar Aurora de "meu anjo" era uma provocação, claro, um lembrete do quanto nossa situação era irônica e do que ela havia feito para me trazer até aqui.

Ela fechou o livro com um estalo, os olhos verdes se fixando nos meus com uma mistura de raiva e frustração.

— Não me chame assim. — A voz dela saiu firme, mas eu conseguia sentir o tremor sutil por trás daquela fachada corajosa.

Sorri, inclinando-me um pouco mais perto, o suficiente para que nossas vozes não fossem ouvidas pelos outros alunos.

— E como quer que eu te chame? Você fez um pacto comigo, Aurora. Isso nos torna... próximos, de certo modo. — Deixei a última palavra pairar no ar, um veneno suave envolto em sedução.

Ela respirou fundo, tentando manter o controle, mas seu desconforto era quase palpável. Aurora lutava contra algo maior do que ela, algo que agora eu fazia parte. A mistura de medo e confusão que brilhava em seus olhos era um espetáculo que eu nunca cansaria de assistir.

— Eu não fiz isso para que você ficasse me perseguindo — ela rebateu, sua voz baixa e repleta de tensão. — Eu fiz isso pela minha mãe.

— Ah, eu sei disso. — Concordei, cruzando os braços, minha expressão se tornando ligeiramente mais séria. — E estou aqui para cumprir minha parte do acordo. Mas quem disse que eu não poderia me divertir um pouco enquanto isso?

Ela me olhou, seus olhos verdes faiscando com um misto de raiva e tristeza que ela tentava esconder a todo custo. Mas eu via através dela. Aurora era um livro aberto para mim, cada emoção estampada em seu rosto angelical. E quanto mais ela tentava se afastar, mais eu me sentia atraído pela sua luta interna.

Ela se levantou, ajeitando os livros com um movimento nervoso, pronta para se afastar de mim. Mas antes que pudesse dar o primeiro passo, segurei seu braço de leve, o suficiente para fazê-la parar. Ela me olhou com uma mistura de surpresa e desconfiança.

— Não se esqueça, Aurora. Você é minha agora. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, mas o suficiente para fazer com que seus olhos se arregalassem levemente. — E eu não vou a lugar nenhum.

Ela puxou o braço de volta, os olhos verdes brilhando de desafio. E, por um segundo, eu vi a verdadeira Aurora: corajosa, determinada, e ao mesmo tempo tão perdida. Ela se virou, caminhando rapidamente para longe de mim, mas o pátio parecia não ter mais nenhum lugar seguro para ela.

Fiquei ali, observando-a se afastar, cada passo dela um lembrete do pacto que fizemos e do que ainda estava por vir. Aurora podia tentar me afastar o quanto quisesse, mas nossa conexão era algo que ela jamais poderia quebrar. E, em algum lugar profundo de sua mente, ela sabia disso.

Me and The DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora