▪︎Capítulo 4▪︎

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Aurora Clark

O ginásio da escola estava cheio de vozes e sons familiares: o eco das bolas quicando no chão, as risadas das meninas, e o apito agudo da treinadora chamando nossa atenção. Era meu momento de escape, o único lugar onde eu sentia que podia esquecer tudo—ou quase tudo. O treino de vôlei sempre foi minha válvula de escape, o único momento em que eu não precisava pensar em nada além da bola que vinha na minha direção.

Era um alívio poder mergulhar em algo físico, sentir o suor escorrendo pela minha pele e os músculos trabalhando com cada movimento. Eu estava no meio de um saque, concentrada, com os olhos fixos na rede, quando um pensamento indesejado invadiu minha mente: Dante. 

Ele havia invadido minha vida como uma tempestade, bagunçando tudo que eu conhecia. Mesmo ali, em meio a um treino intenso, eu não conseguia tirá-lo da cabeça. A maneira como ele me chamava de “meu anjo”—aquela voz baixa e carregada de um sarcasmo que me deixava arrepiada e furiosa ao mesmo tempo. Era como se ele estivesse sempre por perto, observando, esperando o momento certo para aparecer e me lembrar do pacto que fiz.

— Aurora! Foco! — A voz da treinadora cortou meus pensamentos, trazendo-me de volta ao presente.

Respirei fundo, forçando-me a ignorar a distração e voltei minha atenção para o jogo. Posicionei-me para o próximo saque e, quando a bola foi lançada no ar, saltei com toda a minha força, acertando-a com um impacto que ecoou pelo ginásio. Senti a bola estourar do outro lado da quadra, marcando o ponto com um som satisfatório que arrancou aplausos das minhas colegas de time.

Por um momento, um pequeno sorriso se formou em meu rosto. Eu precisava desses momentos, desses pequenos triunfos que me lembravam que, pelo menos ali, eu tinha algum controle. Mas, ao olhar para a arquibancada, meu sorriso desapareceu imediatamente. 

Dante estava lá, sentado casualmente no alto das arquibancadas, observando tudo como se fosse o dono do lugar. Ele não deveria estar ali. O treino de vôlei não era aberto ao público, e, ainda assim, lá estava ele, os olhos azuis me seguindo em cada movimento. Ele estava tão à vontade, como se aquele fosse o lugar mais natural do mundo para ele estar, e isso só aumentava minha frustração.

Continuei o treino, tentando ignorar sua presença, mas era impossível não sentir o peso do olhar dele sobre mim. Cada saque, cada defesa, cada movimento parecia ser uma performance para ele. As outras meninas o notaram também, cochichando entre si e rindo baixinho, lançando olhares curiosos para o “aluno novo” que parecia tão interessado no treino.

— Quem é aquele? — perguntou Emma, minha colega de time, enquanto pegávamos uma garrafa de água no intervalo.

Eu não queria responder, mas o olhar insistente dela me forçou a dizer algo.

— Dante. Ele é novo na escola. — Respondi de forma evasiva, tentando não dar importância, mas as meninas pareciam mais interessadas do que eu gostaria.

— Ele é bem bonito, hein? — Emma comentou, dando um sorriso malicioso. — Tá de olho em você, hein?

Revirei os olhos, fingindo que aquilo não me incomodava, mas a verdade era que cada palavra só fazia minha raiva aumentar. Eu queria gritar que ele não estava ali por mim, que isso não era um jogo de paquera, mas sabia que ninguém entenderia. Porque, para todo mundo, ele era só o cara bonito e misterioso que tinha acabado de chegar. Só eu sabia o que ele realmente era.

O treino continuou, e eu me forcei a ignorar Dante, colocando toda a minha energia no jogo. No último saque, dei tudo de mim, lançando a bola com uma força que me surpreendeu. Ela passou voando pela rede, mas minha concentração não estava totalmente lá. Eu estava dividida entre o jogo e o incômodo de saber que Dante continuava a me observar.

Me and The DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora