• O Convite•

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(JASMINE)

As últimas duas aulas foram de Língua Inglesa e História. Livy e Danny estavam ao meu lado, conversando sobre as matérias que eu havia perdido. Elas se ofereceram para me emprestar seus cadernos, o que me aliviou um pouco. No entanto, minha atenção estava constantemente voltada para Anderson, que estava completamente concentrado em seus cálculos, ignorando tudo ao seu redor.

De repente, todos recebemos uma notificação ao mesmo tempo. A sala logo se encheu de murmúrios animados, exceto Anderson, que se levantou e foi até Danny.

— Não conte comigo para a festa — disse ele de forma direta, sem rodeios.

Danny, visivelmente irritada, apertou os lábios antes de responder, a raiva pulsando em sua voz:

— De novo? Você nunca vai a nenhuma das minhas festas, Anderson.

Ele parou por um segundo, mas sem sequer olhar para ela, respondeu:

— Eu não vou a festa de ninguém. Preciso estudar.

Danny estava furiosa. Ela o encarou com uma mistura de mágoa e raiva, claramente cansada de suas desculpas. Conhecendo-a, eu sabia que ela não deixaria isso passar em branco.

— Será no último dia do mês. Como você pode ter tanta certeza de que estará estudando? — questionou ela, o pé batendo no chão com força, enquanto seu olhar queimava de frustração.

Anderson finalmente a encarou, a expressão séria, mas sem a frieza inicial.

— Você sabe por que eu não vou, Danny.

— Jura? — A voz dela estava carregada de raiva e decepção. — Você está sempre estudando, Anderson. Não estou dizendo que é errado, mas se divertir também é importante. Desde que te conheço, você nunca sai dos livros.

Era óbvio para mim o que motivava Anderson, mas Danny não conseguia enxergar. Livy, que até então observava em silêncio, se levantou e interveio, a voz suave tentando apaziguar a tensão:

— Calma, amiga. Não podemos forçá-lo. Ainda faltam quatro dias, talvez ele mude de ideia.

Toquei o braço de Danny e concordei com Livy:

— É verdade, Danny. Vamos deixar ele pensar.

— Desisto — disse ela, jogando os braços para cima em um gesto de frustração, antes de se afastar para se juntar ao grupo que já discutia suas fantasias.

— Obrigado... — murmurou Anderson, olhando primeiro para Livy e depois para mim, seus olhos se fixando nos meus por um instante mais longo.

Acenei levemente, indicando que ele não precisava agradecer, enquanto Livy, agora sentada na cadeira que Danny ocupava, falou calmamente:

— Não foi nada, mas você foi bem direto ao recusar o convite.

Anderson balançou a cabeça, mantendo o tom sério, mas sem a dureza inicial.

— Prefiro ser honesto. E, para ser sincero, talvez eu tenha que fazer uma cirurgia. Se for o caso, vou ser obrigado a ficar em casa.

Livy assentiu, compreensiva.

— Entendo. Mas teria sido mais fácil se você explicasse isso, não acha? — Ela então se virou para mim. — Não é mesmo, Jas?

Meu coração disparou ao ouvir meu nome. Respirei fundo e concordei:

— Sim, é sempre melhor ser sincero — comecei. — Danny e eu somos amigas há muito tempo, e ela raramente convida alguém para ir à casa dela. Mesmo que festas não sejam o meu forte, eu faria um esforço para ir. É importante para ela... e talvez para mim também.

Livy sorriu suavemente, enquanto Anderson me observava, ainda sério, mas com um olhar que parecia mais suave agora. Era como se ele estivesse considerando minhas palavras.

Danny, do outro lado da sala, ainda estava com o grupo, mas parecia menos agitada. Talvez Livy estivesse certa; havia tempo para Anderson reconsiderar. Mas, por enquanto, o silêncio entre nós parecia carregar mais compreensão do que antes.
Voltei ao meu lugar e, com o coração batendo um pouco mais rápido, abri a mensagem que confirmava o convite para a festa. Era um PDF vibrante, com tons intensos de preto e laranja, decorado com aranhas e abóboras que pareciam saltar da tela. No topo, as informações do local da festa. Logo abaixo, em negrito, como um desafio: "VENHA FANTASIADO".

Festas nunca foram meu ponto forte. A ideia de estar cercada por tantas pessoas me deixava desconfortável. Mas, dessa vez, algo parecia diferente. O convite me trazia uma sensação curiosa de empolgação. Talvez o mais animador fosse a oportunidade de me arrumar, de criar uma nova versão de mim, mesmo que por uma noite. Minha mãe, com certeza, ficaria radiante ao me ver finalmente saindo de casa, cercada de amigos. Ela sempre quis isso para mim, mas até pouco tempo isso parecia impossível. O ex-marido dela jamais permitia que eu saísse. Controlava cada movimento, e a ideia de me ver vivendo o mundo lá fora era insuportável para ele. Mas desde que eles se separaram, minha mãe começou a entender o quanto eu precisava conhecer outras pessoas, viver novas experiências. E agora ela me incentivava a sair.

Ideias de fantasias surgiam na minha cabeça, uma após a outra, mas nenhuma delas parecia se encaixar com o que eu tinha no guarda-roupa. Parecia que nada combinava com quem eu era ou com quem eu queria ser naquela noite.

— Jas?

Fui tirada de meus pensamentos pela voz de Danny me chamando. Voltei à realidade com um leve sobressalto e virei para ela, que observava a tela do meu celular com curiosidade.

— Você vai mesmo? — ela perguntou, com um misto de dúvida e surpresa em seu tom.

Assenti, tentando soar confiante.

— Claro, como eu poderia dizer não?

Ela deu um sorriso leve e voltou ao seu lugar. A aula de história prosseguiu, mas meus pensamentos ainda estavam presos no convite e na ideia de enfrentar algo que, até pouco tempo, eu nem poderia considerar: sair para uma festa.

Jennifer, como sempre, fazia questão de jogar seus comentários venenosos para todos os lados, mas eu tentava manter distância. Ela era o tipo de pessoa que vivia de intrigas, sempre encontrando uma forma de ferir os outros. Até agora, não havia me atingido, mas eu sabia que era só questão de tempo. O difícil seria eu não perder a calma quando isso acontecesse.

A professora finalizou a aula passando um vídeo para assistirmos em casa sobre a independência dos Estados Unidos e explicou a importância do tema para a próxima semana. Mas minha mente já estava longe, perdida em pensamentos sobre a festa... e tudo o que ela poderia significar.

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