• Entre o Brilho e a Sombra •

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(JASMINE)

Danielle se acomoda atrás de mim e, ao olhar para a porta, vejo a menina que tinha avistado há pouco no ônibus. Ela se aproxima com um olhar carregado de dúvidas, mas avança para cumprimentar Dani, que se levanta e nos apresenta de maneira casual.

— Lívia, essa é Andressa. Lembra que eu mencionei uma amiga que viria para cá? Então... — Com um olhar desconfiado, me levanto e a cumprimento com um abraço. Ela retribui o abraço caloroso e me cumprimenta de volta.

Ela se senta e tira seu material, que é rosa e delicado, um reflexo de sua personalidade. O professor inicia a aula, mas o fluxo de alunos que continua a entrar na sala é constante. Cada um que passa por mim lança olhares de desdém e estranheza, como se minha presença fosse uma afronta. Enquanto conversam animadamente com Dani e Lívia, seus olhares para mim são carregados de desprezo, tornando meu desconforto quase insuportável. Era como se meu pior pesadelo estivesse tomando forma diante dos meus olhos.

Finalmente, os últimos a entrar foram dois alunos que imediatamente capturaram a atenção da sala. Ela era um espetáculo de arrogância e escândalo, com cabelos cacheados e volumosos que caíam em ondas desordenadas, e um corpo esbelto que parecia desenhado para chamar a atenção. Sua presença era uma explosão de autoconfiança e presunção. Cada movimento seu era exagerado e teatral, seus gestos grandiosos e suas palavras cortantes ecoavam pela sala. Seu olhar desafiador e provocador, mesmo por trás da máscara, irradiava uma aura de superioridade e desdém.

Ele, por outro lado, era um enigma de serenidade. Seu comportamento calmo e reservado, e seus olhos que pareciam carregar um peso invisível, revelavam uma solidão profunda e inquietante. Seu jeito desajeitado e o olhar que evitava o contato revelavam uma vulnerabilidade oculta. A máscara que usava apenas intensificava minha curiosidade para descobrir o que se escondia por trás dela. Ele era uma sombra solitária ao lado da presença imponente dela. Enquanto ela se acomodava no fundo da sala com uma graça teatral, cumprimentando todos com um abraço caloroso e uma elegância quase artificial, ele permanecia em um canto, quase invisível, como um mistério que contrastava dramaticamente com o brilho e a ostentação dela.

O professor começa a retomar o conteúdo da aula anterior, que eu havia perdido. Matemática sempre foi e sempre será meu maior pesadelo. Enquanto tento anotar cada detalhe do que ele está passando, o pânico cresce, sabendo que precisarei da ajuda das minhas amigas para recuperar o material. Após cobrir todo o conteúdo, o professor distribui uma atividade que deve ser entregue ainda durante a aula.

Com um misto de vergonha e constrangimento, peço ajuda a Dani. Ela se oferece prontamente, mas sua explicação me deixa ainda mais confusa e frustrada. O peso de não conseguir entender o que ela diz só aumenta minha ansiedade.

— Lívia, você pode nos ajudar? Ela não está conseguindo entender com a minha explicação — pede Dani.

Ainda um pouco nervosa, vejo Lívia sentar-se ao meu lado com seu caderno em mãos. Ela coloca o caderno na mesa e começa a explicar a atividade com clareza e paciência. Sua explicação finalmente faz sentido, e a atividade começa a se desenrolar na minha mente. Conseguimos completar a tarefa, mas a lembrança da dificuldade inicial ainda paira sobre mim.

O primeiro a entregar a atividade é o menino de olhar enigmático, que desperta uma curiosidade crescente em mim. Em busca de distração, pego meu celular e tento me concentrar em algo que possa me manter focada, mas a agitação no fundo da sala, cheia de gritos e risadas, rapidamente desvia minha atenção. Quando percebo, estou sozinha, pois Dani e Lívia já estão imersas no grupo de amigos, enquanto eu luto para me recompor do caos emocional que ainda me ronda.

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