Three

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Minhas pernas balançavam contra o piso de mármore do apartamento alugado onde eu morava com Maya.

Eu tentava convencer a mim mesma que não estava me importando com o meu celular parado no sofá ao meu lado, mas a verdade era que eu estava prestes a ajoelhar e implorar por alguma ligação de qualquer empresa com uma proposta de emprego.

Haviam passado 2 semanas desde que Mari e eu tínhamos saído para entregar os currículos. Eu não tinha recebido nenhuma ligação desde então.

As contas não paravam de chegar, e aquilo estava prestes a me deixar maluca. Afinal, logo todas elas venceriam, e eu já tinha coisa atrasada demais para pagar.

— Mãe! — Maya me chama, em um tom mais alto que vinha lá de seu quarto. Soltando um suspiro, me levantei e fui até lá.

— O quê, filha?

— Ontem a professora Amber disse que preciso de uma sapatilha de ponta nova para melhorar no balé! Já tenho essa há quase um ano.

Me abaixo, sentando na cama decorada de Maya e pego uma de suas sapatilhas, a examinando minuciosamente.

— Parece ótima para mim.

— Mãe! Mas eu...

— Maya, olhe só, respire fundo para organizar as ideias. Enquanto respira a mamãe vai falar, e você precisa ficar quietinha prestando atenção, entendeu? — pergunto e a pequena assente, fazendo o que eu instrui. — Entendi que quer sapatilhas novas, que sua professora do colégio indicou isso, mas você sabe que a mamãe não está trabalhando por agora, certo? Então, quando nós não temos um emprego, o dinheiro não vem com facilidade. Por isso, quero pedir que seja compreensiva como sempre foi. Irei comprar novas sapatilhas de ponta para você daqui há alguns meses, certo? Enquanto isso, use as que você tem. Pode lidar com isso?

— Eu...— Maya começa, olhando para a sapatilha e em seguida para mim novamente. Então, ela assente. — Posso, mamãe.

— Obrigada, meu bem. Prometo que logo iremos comprar as melhores sapatilhas para você! — digo, e então uma ideia aparece em minha mente, se acendendo como uma lâmpada. — Espere, acho que tenho algo para lhe mostrar.

Deixo Maya em seu quarto, enquanto vou até o meu. Abro a porta dos armários, esticando o braço até encontrar o fundo do móvel. Enfim, acho a caixa que procurava. Um tanto velha depois de tantos anos guardada, já que nunca tive coragem o suficiente para abrir. Porém, respiro fundo e a pego. Indo até o quarto de Maya novamente.

— O que é isso? — ela pergunta, curiosa. Me sento, com a caixa em meu colo.

— Abra.

Maya faz o que eu mandei e com cuidado retira a tampa da caixa rosa que tenho há muitos anos. A garotinha abre a boca chocada, vendo os itens que tinham ali dentro.

Eu não acredito! — diz ela, pegando uma sapatilha em um tom de rosa fraco. Em perfeito estado, limpa e com a ponta impecável e pronta para ser usada.

Ali também tinham algumas roupas de balé, roupas de alta costura. Roupas que eu usava em apresentações importantes quando fazia aulas de dança em uma das escolas mais renomada dos Estados Unidos.

Eu já havia contado para Maya superficialmente, uma vez, há alguns meses atrás que quando criança e adolescente tinha feito aula de balé. A garota ficara curiosa, porém não dei mais detalhes, afinal, no fundo não praticar mais o que sempre amei me doía.

Maya parecia guardar a mesma paixão que eu tive pelo balé dentro de si, por isso eu a incentivava o máximo que podia e escolhi dar a caixa a ela.

Encantada, a garota passa a mão pelas sapatilhas presente nas caixas, pelas roupas brancas, brilhosas e bem delineadas. Me lembro perfeitamente de todas elas, inclusive da que usei na minha última apresentação. Um fracasso total que acabou com a minha carreira no balé.

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